Roberto Carlos anuncia saída da seleção brasileira

Londres – Atacado pela torcida e pela imprensa brasileira, o lateral-esquerdo Roberto Carlos, 33 anos, anunciou ontem sua aposentadoria da seleção brasileira. ?Parei na seleção. Foi meu último jogo?, disse o jogador do Real Madri à rede de TV inglesa BBC.

Segundo dados da CBF, o ala do Real Madri tem em sua carreira 132 jogos e dez gols desde que vestiu a camisa do Brasil pela primeira vez, em 1992. Ele disputou três Copas do Mundo, conquistando um título, em 2002 (Coréia do Sul e Japão) e também esteve na final de 1998 (França).

Com um desempenho fraco no mundial da Alemanha, Roberto Carlos teve participação polêmica no gol de Henry na eliminação do Brasil ao ser superado pela França, por 1 a 0, no último sábado. No lance, ele aparece agachado, supostamente ajeitando as meias, no momento em que Zidane cobra a falta e deixa o atacante do Arsenal sozinho para marcar.

Mas não é só na seleção brasileira que o lateral tem sofrido duras críticas. Após os seguidos fracassos no Campeonato Espanhol e na Liga dos Campeões, os dirigentes do Real já anunciaram que não pretendem mantê-lo no time. O Chelsea, da Inglaterra, é o seu provável destino.

Currículo

Roberto Carlos estreou na seleção justamente sob o comando de Parreira em um amistoso, em Fortaleza, no dia 22 de janeiro de 1992, um 3 a 0 sobre os Estados Unidos.

Além do mundial em 2002, na Ásia, foi campeão da Copa das Confederações em 1997, na Arábia Saudita; da Copa América, em 1997, na Bolívia, e 99, no Paraguai; da Copa da Amizade em 1992, nos EUA, e da Copa Umbro em 1995, na Inglaterra. O lateral atuou ainda 23 vezes e marcou dois gols pela equipe olímpica, conquistando a medalha de bronze nos Jogos de Atlanta, em 1996, nos EUA.

Na chegada, Cafu tenta tapar o sol com a peneira

São Paulo – Parte do elenco da seleção brasileira desembarcou em São Paulo com a última lição da cartilha do técnico Parreira na ponta da língua: ?Nem sempre os melhores vencem?. Mesmo após a eliminação do time diante da França, os atletas brasileiros seguiram acreditando nisso. Este foi o discurso do capitão Cafu, por exemplo, a figura de maior peso do elenco que chegou de madrugada no Aeroporto Internacional de Guarulhos. Havia mais jornalista que torcedor para recepcionar o grupo. E as ?boas-vindas? foram dadas sem muito entusiasmo pelos paulistas.

Cafu ouviu alguns desaforos como ?aposenta logo? ou ainda ?mercenário?, mas não deu bola. As ofensas partiram dos próprios funcionários de Cumbica. Tudo discretamente. As vaias foram na mesma proporção que os aplausos, tímidos. O capitão da seleção tirou fotos com bebês no colo e deu autógrafos. Certamente está na lista dos ?poupados? pelo fracasso do Brasil no mundial.

Abrindo espaço entre os repórteres, deu um forte abraço nos pais que o esperavam, alegres. Seu Célio ficou com os olhos cheios de lágrimas ao falar do filho. ?Ele fez o que pôde. A seleção é um time de 11 e não apenas o Cafu. As jogadas e os gols não saíram pelas laterais. Esse foi o defeito da equipe na minha visão.?

Como capitão que se preze, Cafu ressaltou as coisas boas do time. ?Nem sempre os melhores vencem, mas não é hora de encontrar culpados. Sempre que o Brasil perde o povo e a imprensa começam a falar em renovação. Se o Parreira não continuar, esse é um trabalho para o próximo técnico, para a CBF. Somos um time vencedor, como foi a seleção de 82. Quanto a mim, tenho de pensar com calma sobre a seleção?, disse em referência à sua continuidade e disposição para atuar.

Mas é quase certo seu fim de linha no time nacional. Sobre a decisão trágica contra a França e a excelente atuação de Zidane, Cafu não deu o braço a torcer. Ou pelo menos demorou para dar. ?O Zidane começou a Copa devagar, atuando sem muito brilho, ficou até fora de uma partida (suspenso)?, comentou, dando a entender que não havia muitos motivos para se preocupar com ele. ?Mas ele também provou que a experiência pode ganhar jogo.?

Capitão critica imprensa

São Paulo – Na entrevista concedida por Cafu, sobrou também para a imprensa, claro. ?Toda essa pressão taxando o Brasil como a melhor seleção do mundo, dona de um quadrado mágico, partiu da mídia e não de nós jogadores. Nós sempre soubemos que seria duro ganhar a Copa da Alemanha e que teríamos grandes dificuldades?, afirmou o capitão da seleção.

Dos atletas que desembarcaram ontem, em São Paulo, apenas Cafu, Mineiro e Cris enfrentaram os repórteres e o público. Cicinho e Rogério Ceni, que também vieram no vôo de Frankfurt, preferiram driblar aqueles que os aguardavam. Saíram por outro setor do aeroporto.

Fred e Gilberto Silva fizeram conexão para Belo Horizonte. E Ricardinho para Curitiba. Todos eles terão alguns dias de folga antes de retomarem suas funções em seus respectivos clubes.

É certo que nenhum desses jogadores personificaram o fracasso do Brasil na Alemanha. A pecha recaiu sobretudo nas costas de três personagens: Roberto Carlos, Ronaldinho Gaúcho e Parreira. O primeiro por ter falhado no lance do gol de Thierry Henry. Ronaldinho por não ter feito na ?sua? Copa metade do que faz no Barcelona. E Parreira por não ter conseguido fazer dos ?melhores do mundo? um time vencedor.

Mineiro defende colegas

São Paulo – O volante Mineiro ganhou a vaga para a seleção após a contusão de Edmílson, cortado por problemas no joelho. No entanto, ele, Júlio César, Luisão e Cris foram os únicos atletas da seleção a não atuar um minuto sequer na Alemanha. Ainda assim, deu-se por satisfeito com a sua participação. ?Acho que o Brasil tinha plenas condições de passar pela França sem a minha presença. Eu estava ali apenas para compor o grupo?, afirmou o jogador.

Mineiro defendeu os jogadores que entraram em campo, afirmando que não lhes faltou garra para enfrentar a França. ?Falar que faltou vontade é uma maneira muito forte?, explicou. Ele reiterou que o grupo ficou muito abatido com a precoce eliminação.

?Está muito cedo para fazer avaliações, tirar conclusões. A maioria ficou frustrada de não conseguir o objetivo, que era o título?, disse. ?O futebol é uma lição de vida. É muito dinâmico, cada um volta para sua casa e já começa a pensar nos seus clubes?, afirmou o volante de 30 anos, que deve renovar seu contrato com o São Paulo. O zagueiro Cris, que falou com a imprensa rapidamente, também prefere pensar no futuro. ?Agora, é levantar a cabeça porque temos a Copa do Mundo em 2010?, afirmou o zagueiro do Lyon, da França, de 29 anos.

Moraci admite que jogadores estavam em más condições

São Paulo – A má condição física dos jogadores brasileiros na Alemanha era conhecida pela comissão técnica. Só não foi revelada. E quando o técnico Parreira comentou que o time estava prejudicado no seu físico diante dos franceses ele quis dizer que os jogadores brasileiros têm menos porte que os rivais da França. Essas foram algumas das explicações e conclusões do preparador físico Moraci Sant?Anna, que desembarcou ontem, em São Paulo. Esconder a condição física do time foi uma estratégia da comissão, com o aval de Parreira. Não é coisa nova no futebol. O procedimento também e adotado nos clubes. ?Fizemos todos os exames necessários para avaliar os jogadores e só não divulgamos seus resultados. Isso é normal no esporte. Não interessa para ninguém a condição desse ou daquele atleta. O que importa é que tentamos fazer o melhor para recuperar todos eles a tempo da disputa?, disse.

Conta não fecha

Moraci e o técnico Parreira trabalharam simultaneamente na Alemanha nesses quase 30 dias. Enquanto o fôlego dos jogadores era aprimorado por Moraci, as formações táticas começavam a ser ensaiadas por Parreira, sem desgaste físico. Foi assim até um dia antes da eliminação do Brasil. A seleção nunca treinou para valer.

?O Parreira sempre se preocupou com a parte tática. Os atletas chegaram para a Copa depois de muito desgaste da temporada européia. A bem da verdade é que tivemos nove sessões de treinamento físico apenas. Nove sessões e não nove dias. É muito pouco.? A conta nunca fechou para o preparador físico da seleção brasileira.

Eram situações adversas na formação de uma equipe credenciada como a melhor da Alemanha. Moraci teve pouco tempo para trabalhar e os jogadores chegaram para a Copa num nível diferenciado de condicionamento. Resultado: o time nunca correu numa mesma passada.

Enquanto Ronaldo começou abaixo da crítica, gordo, pesado, paradão na frente, Kaká se valia de seus últimos suspiros da temporada. Ronaldo melhorou depois e Kaká decaiu.

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