Daiane conduzindo a tocha
pelas ruas do Rio de Janeiro.

Rio – O tempo nublado e a baixa temperatura não reduziram o ânimo dos cariocas, ontem, na primeira passagem da tocha olímpica pela América do Sul na história dos Jogos Olímpicos. O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, calculou o público em mais de um milhão de pessoas. A festa começou pouco depois das 9h, no Maracanã, e terminou à noite, com shows de 28 artistas, em palco montado no Aterro do Flamengo, que reuniu aproximadamente 450 mil espectadores. Mais de quatro mil homens – entre PMs, guardas municipais, bombeiros, policiais civis e federais – participaram do esquema de segurança.

Moradora do Catete, Sarah Fialho chegou à Praia do Flamengo às 9h45, acompanhada pelo marido, o advogado Hugo Fialho, de 80, e esperou por uma hora e meia para ver a chama olímpica. “Eu tenho 60 anos, mas vou correndo atrás dela. Aquele fogo só pode trazer coisas boas”, disse Sarah. Hugo não se empolgou. “Vim por causa da minha senhora. Curiosidade não tenho nenhuma.”

“Viemos porque nunca vimos isso, é a primeira vez”, explicou Jane Fernandes Alves, de 67 anos. “Para mim, provavelmente, será a primeira e única. Estou em idade avançada”, acrescentou. Fã de vôlei e de futebol, Jane viu a chegada da seleção pentacampeã ao Rio, em 2002, de madrugada. Para sua filha, a bancária Daniele Fernandes Alves, de 31, o Rio é capaz de receber os Jogos Olímpicos. “O pan vai ser uma grande demonstração de que podemos sediar as Olimpíadas”, afirmou, referindo-se aos Jogos Pan-americanos de 2007 no Rio.

Bebês

Valeu de tudo para ver e registrar em fotos a passagem da chama: árvores, postes ou mesmo os ombros alheios se tornaram postos de observação. Privilegiados, moradores de prédios localizados ao longo do percurso assistiram a tudo de camarote e muitos enfeitaram as janelas com as cores verde e amarelo. Nas ruas, bandeiras do Brasil, camisas da seleção e de times de futebol. Excitada, a multidão por vezes invadia a pista obrigando os batedores da Polícia Militar a forçar a passagem.

A tocha era antecedida por dezenas de corredores e ciclistas anônimos.

O casal de massoterapeutas José Eduardo Santiago, de 59 anos, e Romilda da Silva, de 41, chamavam a atenção. Vestidos de verde e amarelo, eles corriam empurrando um carrinho duplo de bebê. Eram as filhas do casal, Ionara e Maiara, de nove meses, que, alheias às comemorações, dormiam.

“Estamos correndo desde o Maracanã e vamos ver até onde dá para ir”, disse Santiago, que assim como a mulher tem a corrida como hobby.

Decepção

Houve, no entanto, quem ficasse decepcionado. “Era só isso?”, perguntou a dona de casa Generi Peres Monteiro, de 57 anos, que chegou à Praia do Flamengo às 7 horas. “Ficamos esse tempo todo aqui para nada, não vimos nada. Esse fogo está mais baixo do que o meu”, brincou. “Nas duas vezes em que eu vi a tocha passar, não sei quem estava carregando”, reclamou Romilde Ferreira. “Mas não fiquei decepcionada, foi legal”, disse ela, sob um termômetro que marcava 17º C, ao meio-dia, no Largo do Machado.

Hilda Cunha, de 76 anos, chorava. “É muita emoção”, repetia, escondendo o rosto com as mãos. “Quando eu era jovem, corria oito quilômetros por dia”, disse. Hilda garantiu que à tarde estaria no Aterro do Flamengo para o encerramento da festa.

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