O então presidente da CBF e do Comitê Organizador da Copa (COL), Ricardo Teixeira, aplaudiu o anúncio da Fifa, em outubro de 2011, de que o Maracanã seria o estádio da final do Mundial. Num evento em Zurique, o dirigente demonstrou surpresa logo em seguida, quando indagado sobre o risco de a seleção não atuar no Maracanã, 64 anos depois da Copa de 1950. Reagiu com uma resposta dúbia. “Temos de convir que seria a coisa mais inacreditável tirar a final do Maracanã. Se Deus quiser nós vamos chegar à final, eu tenho certeza absoluta disso.”
Ele não podia prever que Argentina e Alemanha fossem ‘roubar’ a cena do dia 13 de julho de 2014. Mas tinha pleno domínio sobre o risco calculado que assumia. Teixeira participou das discussões com a Fifa sobre as possíveis sedes que receberiam o Brasil ao longo da competição. Não tinha nenhuma dúvida de que o Maracanã só seria aberto para a seleção se o time chegasse à final.
“Ele não dava passo em falso. Contava com a final brasileira no Maracanã, estava certo disso”, disse, à reportagem, o ex-secretário geral da CBF, Marco Antonio Teixeira, tio de Ricardo. O COL discutiu durante quase três anos com a Fifa não só o local da abertura, a capital paulista, como quais seriam as outras cidades por onde a seleção poderia passar até ‘chegar’ ao Maracanã.
A convicção de Teixeira estava associada à sua posição na Fifa naquele ano. Seu prestígio entre todos os membros do comitê executivo só era menor que o do presidente Joseph Blatter. Teixeira também acumulava a vice-presidência do comitê de arbitragem da entidade. Ele sabia os caminhos que levariam o Brasil a outra final histórica no Maracanã. Mas não bastava ser ‘influente’ fora de campo. Sem um time à altura, o plano do todo-poderoso da CBF poderia sucumbir. Logo ao fim da primeira temporada da seleção com Mano Menezes como técnico da equipe, Ricardo Teixeira confidenciou ao tio, com quem romperia relações no início de 2012.
“Não temos um time para ser campeão, não há uma safra suficiente de bons jogadores para isso.” O relato a Marco Antonio foi feito pouco antes de Teixeira renunciar ao cargo em março de 2012, envolvido em alguns escândalos de corrupção. Antes de executar a decisão, tratou de convocar uma assembleia com as federações estaduais para antecipar a sucessão à presidência da CBF. Inicialmente o pleito seria realizado no segundo semestre deste ano. Ficou para abril e Marco Polo del Nero nem sequer teve oposição: ganhou a presidência com facilidade – só vai assumir o cargo em abril de 2015.
Teixeira já estava desgastado com o alto comando da Fifa e tinha nova convicção, cinco meses depois do encontro com Blatter em Zurique: o Brasil não disputaria a final – por falta de uma equipe capaz, na sua avaliação, e pelos desdobramentos de sua crise de relação com a cúpula da entidade. Ao deixar a CBF, ele saiu também da Fifa e deixou o futebol brasileiro sem respaldo no comitê de arbitragem da entidade máxima do futebol.