Enquanto o Brasil inteiro estava focado no desempenho da seleção na Copa do Mundo de 2014 e dirigentes da Fifa multiplicavam viagens ao País para garantir que os estádios estivessem prontos, Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, tinha outras prioridades: visitar os seus banqueiros no Principado de Mônaco. Documentos revelam que o cartola proliferou viagens organizadas por seu banco a Montecarlo e chegou a ter reservas inclusive em dias de jogos do Brasil no Mundial.

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Quem organizava seu quarto, se comunicava com o hotel e mesmo fazia mudanças no plano não era uma agência de turismo e sim os banqueiros de uma instituição financeira em Mônaco. Ricardo Teixeira deixou a CBF em 2012 e, enquanto realizava viagens para o principado, dava um endereço em Delray Beach, na Flórida, nos Estados Unidos, como sua base.

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Ainda em 2014, o site francês Mediapart foi o primeiro a noticiar a existência de uma conta de Ricardo Teixeira em Mônaco. Em um áudio, o então diretor do escritório em Mônaco do banco Pasche, Jurg Schmid, afirmava que o brasileiro era um exemplo de cliente que “outros bancos não aceitariam”. “Eu sei muito bem que nenhum outro banco em Mônaco quis abrir uma conta para ele”, disse, destacando que o ex-cartola traria um importante volume de dinheiro.

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Em outubro deste ano, o Estado revelou que a Justiça francesa havia identificado uma conta em nome do brasileiro no valor de US$ 22 milhões (R$ 71,6 milhões). A suspeita é de que o dinheiro que fora depositado nela vinha de sua relação com um fundo do Catar, o mesmo que pagou por um amistoso da seleção brasileira e que também é responsável por erguer obras para a Copa do Mundo de 2022.

A suspeita é de que o dinheiro teria uma relação com o voto de Ricardo Teixeira a favor do Catar, em 2010, para sediar o Mundial de 2022. Teixeira não se pronunciou quando a reportagem o procurou em outubro.

Agora, os novos documentos apontam que era o Banco Havilland que se incumbia de fazer as reservas para o brasileiro no luxuoso hotel Metropole. A instituição foi quem adquiriu o banco Pasche em Mônaco, em 2013. Em um e-mail de 15 de janeiro de 2014, o vice-CEO da instituição financeira, Olivier Giaume, informava ao hotel que Ricardo Teixeira “teve de adiar sua vinda” e pedia que a reserva de um quarto fosse remarcada para o dia “26 de fevereiro, com partida no dia 27”.

Ricardo Teixeira voltaria para Mônaco entre os dias 7 e 9 de abril de 2014, deixando uma conta de 1,8 mil euros (R$ 6,93 mil). Um almoço no dia 8 o custaria 892 euros (R$ 3,4 mil). No mesmo mês de abril, a partir do dia 29, ele retornaria ao hotel, por mais duas noites. Nos documentos do hotel, o primeiro registro de uma visita de Teixeira é de 24 de janeiro de 2012. Em 2013, mais uma visita entre os dias 16 e 17 de julho foi realizada.

LONGE DA COPA – No dia 28 de maio de 2014, uma vez mais o banco entraria em contato com o mesmo hotel, solicitando outra reserva para Ricardo Teixeira em Mônaco. A entrada do cliente especial do banco estava marcada para o dia 22 de junho, com saída no dia 25. Essa viagem teria ocorrido quando a Copa do Mundo estava sendo disputada no Brasil. Teixeira tinha reserva marcada para Montecarlo enquanto o Brasil vencia Camarões no estádio Mané Garrincha, em Brasília, no último jogo válido pela primeira fase do Mundial.

Contatado por e-mail e por telefone, o banco não respondeu ao pedido de esclarecimento por parte da reportagem. O Estado ainda pediu para falar com um porta-voz da instituição. Mas a recepção do banco em Mônaco se recusou a transferir a ligação, explicando que não poderia sequer informar se a instituição tinha uma assessoria de imprensa.

OUTRO LADO – Michel Assef Filho, advogado de Ricardo Teixeira, confirmou à reportagem que a conta em Mônaco de fato continua existindo e que “há anos” está declarada às autoridades fiscais. Ele ainda se comprometeu em compartilhar com a reportagem nos próximos dias os documentos relativos à declaração da conta para as autoridades.