Ricardinho chora ao falar do pan

Henri Jr./O Diário do Norte do Paraná
O levantador admitiu que dificilmente voltará a se entender com o técnico Bernardinho.

Maringá – O levantador de volêi Ricardo Bermudez Garcia, o Ricardinho, falou abertamente ontem, em Maringá, sobre o seu corte dos Jogos Pan-Americanos. E disse não entender até agora a atitude do técnico Bernardinho. Apesar do ocorrido, o jogador contou que esperava uma nova convocação, para o Campeonato Sul -Americano de Vôlei, mas essa também não veio.

Um pouco conformado, ele afirmou que agora volta para a Itália para defender o Cimone Modena, no campeonato italiano. Todas essas revelações foram feitas durante o lançamento da biografia Levantando a vida: a história de um campeão chamado Ricardinho, assinada pelo jornalista Luiz Carlos Ramos.

O livro conta a trajetória de mais de 20 anos de contato com as quadras. Desde os oito anos, quando começou como gandula no Banespa, até ser eleito o melhor jogador da Liga Mundial de Vôlei, este ano, e, fatalmente, ter sido cortado do pan. Como Ricardinho mesmo apresentou, é um livro que traz, além do esporte, a vida, a família e a pessoa. Apesar de tanto tempo de dedicação ao esporte, de dificuldades e conquistas, certamente as três últimas semanas foram determinantes, não apenas para o final do texto, mas também para a carreira do jogador. ?Foi muito difícil de encarar, profissional e emocionalmente. O final do livro seria a medalha de ouro. Era a única medalha que não tinha – de 1.º lugar em um Pan-Americano – que foi arrancada do meu peito?, desabafou.

Esforçando-se para conter as lágrimas, Ricardinho garante que não é raiva, nem ódio, mas é dor que ele ainda sente. ?Ainda tem mágoa e os vestígios de que tudo que passou, me abalou profundamente?, comentou.

Mesmo dizendo não ter certeza do que realmente teria motivado o corte feito pelo treinador Bernardinho, o jogador tentou explicar. ?Cheguei no sábado e ele (Bernardinho) expressou tudo o que sentia em dez minutos. Foi um desgaste muito grande que ele tinha com as minhas cobranças, com meus pedidos, em nome dos jogadores – desde folga, treinamento, premiação. Ele expôs tudo isso de forma agressiva. Disse que estava desgastado, que não me suportava mais, mas não me explicou qual foi o motivo do corte?, falou.

Entre as diversas especulações que saíram na época do fato, Ricardinho comentou duas. Sobre a questão da divisão da premiação, ele disse que ?não teve nada a ver. Esse dinheiro nem vem para a minha conta, vai para a CBV (Confederação Brasileira de Voleibol ), que faz a divisão. Em relação à premiação do pan, foi decido em votação, dos doze, que não seria dividida com a comissão técnica. Não foi nada que eu decidi sozinho ou armei?.

Sobre o desgaste, que tanto Bernardinho falou quando do ocorrido, Ricardinho falou da viagem pelo Mundial – ?do hotel sem ventilador, sem ar, onde ficamos três semanas em calor de 38ºC. Atritos normais de sete anos de relação?, afirmou.

Outro ponto tocado durante a entrevista foi a convocação de Bruno, filho do treinador, como levantador. ?Acho que ele é um garoto novo, que tem muito a aprender. Acho que Bernardinho poderia ter feito de forma diferente. Não deveria deixar o filho entrar numa confusão tão grande, como foi. Mas creio que, com o tempo, ele vai mostrar até onde tem talento e força para agüentar o pepino?, comentou.

Ricardinho ainda comentou que – apesar de ?a cicatriz estar aberta e de que agora não teria volta? – retornar à seleção brasileira ainda é uma esperança. ?Sem dúvida teria volta, mas teria que ser de forma diferente, não apenas ele dizendo que as portas estão abertas?, disse ele, sugerindo que a convocação para esse retorno deveria vir do treinador. Para este ano, Ricardo sabe que não seria. ?Procurei nos meus e-mails para ver se eu estava convocado para o Sul-Americano, mas realmente não fui. Estou indo, então, para a Itália, na semana que vem?, lamenta.

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