As torcidas organizadas e os setores envolvidos com a segurança nos estádios de futebol de São Paulo vão se reunir na próxima semana para discutir a volta da festa nos campos com a liberação de bandeiras com mastro, fumaça, faixas e batuques. O período de proibição parece estar chegando perto do fim e as autoridades já indicam dar um voto de confiança às uniformizadas desde que preencham alguns requisitos, como cadastro de todos os associados e expulsão dos brigões.
“Nossa proposta é mostrar que violência é proibir a festa. Queremos a volta das bandeiras, dos instrumentos, das faixas, que a Federação Paulista de Futebol incentive a festa dando uma premiação para a torcida que mais festa fizer. A gente lançou a camiseta que é contra o futebol moderno, que mostra como era antigamente, com festa bonita”, explica Henrique Gomes, o Baby, presidente da Independente, do São Paulo.
Ele conta que a organizada, fundada em 1972, já está se antecipando e fazendo um cadastro com atualização de todos os sócios. “A Independente deu um grande passo com as autoridades e está fazendo uma coisa séria, com liderança, que sirva de modelo para o Brasil inteiro. Isso vai trazer o público de volta aos estádios. Eu converso com outras torcidas, que parecem ter o mesmo intuito e objetivo. As lideranças estão com a cabeça boa, tem direcionamento, e se liberarem a festa, nenhuma vai querer perder isso. É uma espécie de troca”, diz.
Para o promotor Paulo Castilho, talvez a liberação não ocorra para o Campeonato Paulista, mas é possível que no Brasileirão as arquibancadas já recebam um novo colorido. “As torcidas estão mostrando disposição em mudar. Elas se propõem a fazer um cadastro de torcedores e afastar os maus elementos. Como se dispõem a melhorar, podemos estudar a volta da festa”, avisou. “Se eles colaborarem, vamos incentivar a volta da festa nas arquibancadas. As bandeiras, o batuque e as faixas podem ser liberadas.”
A torcida única nos clássicos vai permanecer neste ano, mas se estuda um relaxamento nas restrições. “Todos nós, Ministério Público, autoridades da área da Segurança Pública e a polícia continuamos priorizando a ida sem conflitos dos torcedores aos estádios. E não vamos mudar essa disposição. Mesmo porque os números mostram uma expressiva redução da violência após a adoção da torcida única. No entanto, não vamos ser intransigentes se eles estão dispostos a mudar.”
Algumas ideias, para instigar as torcidas a demonstrar boa vontade, poderão ser estudadas, entre elas a criação de um fundo pelo qual as torcidas depositariam determinada quantia em dinheiro antes dos jogos: se causarem prejuízo, o dinheiro seria usado para cobri-los; se não, seria doado para instituições de caridade. “Ainda está tudo muito embrionário. Mas podemos propor ideias como a torcida criar um fundo e, se causar danos ao patrimônio, usarmos para cobrir os prejuízos. Mas se não causar nenhum dano, os recursos desse fundo poderiam ser doados para uma instituição beneficente, por exemplo”, revela Castilho.
Para Baby, a nova geração nem sabe como era a festa nas arquibancadas em décadas passadas. “Acho que só viram algo parecido na despedida do Rogério Ceni, ou quando o Kaká chegou e o Luis Fabiano voltou. As próprias torcidas foram culpadas por isso. As autoridades tiveram de dar resposta para a sociedade e serviu de aprendizado para as organizadas. Minha entidade aprendeu e está no caminho certo. O nosso futebol poderá ser um espelho para o mundo”, conclui o dirigente da Independente.