“Preso? Eu? Por que?”. A marra que Joseph Blatter expressou quando foi reeleito presidente da Fifa desapareceu em três dias. Ontem, ele anunciou a renúncia do cargo e a realização de nova eleição para a escolha do homem mais poderoso do futebol mundial. Ao abandonar o barco, o cartola disse que não tinha mais o apoio irrestrito dos seus pares, e que tomava tal atitude pois era “o melhor pela Fifa e pelo futebol”. Papo furado – como o da maioria dos seus colegas, todos apavorados com a maior crise de credibilidade do esporte.

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Não há nada de nobre na renúncia de Blatter. Ele decidiu sair porque as denúncias de corrupção que estão sendo investigadas pela justiça dos Estados Unidos bateram à sua porta. Na noite de segunda, surgiu uma carta endereçada ao secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, falando em propina na escolha da África do Sul como sede da Copa do Mundo de 2010. Quer dizer – a crise tinha chegado do lado do presidente.  E chegou nele também. Ontem, fontes dos Estados Unidos confirmaram que ele está na lista do FBI, que lidera as investigações. Antes que a casa dele caísse, ele preferiu se mandar.
E agora?

A pergunta que fica é a seguinte: haverá um “efeito dominó”? Para nós, que sofremos com tantas barbaridades de cartolas no Brasil, ficamos tentando entender qual será o impacto da renúncia de Blatter por aqui. José Maria Marin já está preso e Ricardo Teixeira foi indiciado pela Polícia Federal na segunda. O atual presidente da CBF, Marco Polo del Nero, está numa sinuca de bico: mantém o estilo “não sei de nada” ou conta o que sabe? Se depender do governo federal, ele não terá apoio algum para se manter no poder – pelo contrário, as investigações por aqui só irão aumentar, até como um componente de pressão pelo apoio à MP do Futebol, que parcela as dívidas com o poder público desde que clubes e federações alterem suas gestões.

Por sinal, como é importante no futebol ter o tal poder, hein? Joseph Blatter só saiu porque a batata dele assou. Ricardo Teixeira se agarrou no cargo até as denúncias de fraude grudarem nele como tatuagem. Del Nero não tem nenhum interesse em largar o osso. E aqui tivemos uma eleição que virou uma guerra na Federação Paranaense de Futebol. E todos que estão no comando de federações e da CBF (ou que querem chegar lá) só faltam se definir como santos, pessoas que abdicam de tudo em nome do esporte. Será isso mesmo? A renúncia do presidente da Fifa ajuda a responder essa pergunta.

Valcke em Curitiba em janeiro de 2014. Ele “mandava” na cidade. Foto: Albari Rosa/Arquivo.

Valcke também vai deixar a Fifa

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A renúncia de Joseph Blatter deve tirar da Fifa o secretário-geral Jérôme Valcke. E era o braço direito do presidente que tratava dos assuntos corriqueiros da organização da Copa do Mundo, e esteve algumas vezes em Curitiba para discutir as obras da Arena.

Em 2012, o secretário-geral estava animado. “Particularmente, é o tipo de estádio que eu gosto, com 45 mil assentos, porque você está perto do gramado, dos times, do jogo”, disse sobre o Joaquim Américo. Mas no ano seguinte o cartola pediu ao Atlético que adiasse a instalação do teto retrátil. “Fizemos um pedido para adiar para que o estádio fique pronto para a Copa”, afirmou Valcke em agosto de 2013.

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Em janeiro do ano passado, o cartola estava bufando. Os atrasos na Baixada e a reação de Valcke faziam acreditar que Curitiba poderia cair fora da Copa. “O estádio não está apenas muito atrasado, mas foge a qualquer bom cronograma de entrega para a Fifa”, disse em janeiro.
A pressão funcionou – e aumento,u o orçamento da obra. Em abril, o tom mudou. “Grande progresso no trabalho de entrega do estádio que é uma arena de qualidade não só para a Copa mas para os fãs”, falou Valcke. A Arena está aí. Já o dirigente vai se mandar em breve.

Visita

Joseph Blatter veio uma vez apenas à cidade, mas fez o que quis no país inteiro antes, durante e depois da Copa. O cartola-chefe esteve em Curitiba para o jogo Honduras x Equador. Fez uma vistoria na Arena da Baixada, apareceu pouco, foi para a área VIP, foi bajulado por “poderosos” e acompanhou a partida de uma área reservada. Foi embora tão discretamente como chegou. Bem do jeito que ele quer deixar a Fifa após o escândalo investigado pelo FBI.