Foto: Valquir Aureliano
Aldemir recolheu quarenta e poucos tijolos, que viraram presentes.

Que valor meia dúzia de tijolos, provenientes de uma construção, demolida há mais de oito anos, pode ter? Para o empresário Aldemir Pimentel, 47 anos, eles são algo quase sagrado, lembranças de um antigo templo de devoção e entrega a um ideal: o Clube Atlético Paranaense.

continua após a publicidade

Pimentel guarda em sua casa, como uma verdadeira relíquia, restos das históricas arquibancadas da velha Baixada, que foi ao chão em 1997, para o início das obras de construção da nova Arena. Cobiçados pelos atleticanos, os antigos tijolos, marcas registradas do Caldeirão de outrora, já viraram até presente de aniversário.

Para recolher os restos do estádio rubro-negro, Pimentel viveu uma pequena aventura. ?Quando a velha Baixada começou a ser demolida, tive a idéia de pegar os tijolos para fazer a lareira da casa que eu estava construindo. Fui até as obras, mas o vigilante não me deixou entrar. Quando já estava indo embora saiu um caminhão cheio de restos do estádio?, recorda.

?Segui o caminhão por quilômetros e ele foi lá para o lado do Guabirotuba. Daí, entrou numa marginal da BR-116 e rodou até chegar a um local onde estavam depositando toda a Baixada.

continua após a publicidade

Pedi autorização e o pessoal disse que podia pegar à vontade. Peguei uns 40 a 45 tijolos. Meu Kadett saiu de lá empinado?, ri.

A idéia de fazer a lareira não vingou, mas Pimentel encontrou outro destino para os restos do antigo Caldeirão. ?Todos os meus colegas atleticanos sabiam que tinha tijolos e me pediram. Passei a dá-los de presente aos melhores amigos, até em aniversários. Em vez de comprar outra coisa, dava um tijolo com uma plaquinha, dizendo que era uma lembrança da velha Baixada?, revela.

continua após a publicidade

Nove anos depois, passadas muitas festas e aniversários, a coleção de Pimentel diminuiu bastante, mas ainda ocupa um lugar de destaque na casa.

?O pessoal foi pegando e me sobraram aqui apenas alguns exemplares, que eu guardo com muito carinho. Acredito que essa idéia de pegar os tijolos ninguém teve na ocasião. Depois, a diretoria fez aquela promoção que os torcedores ganhavam alguns caquinhos. Mas os tijolos inteiros estão aqui?, afirma, orgulhoso.

?A saudade da velha Baixada sempre vai ficar. Lá, mesmo debaixo de chuva, com banheiros ruins, era uma alegria muito grande. Hoje, está um pouco mais elitizado. Mas a gente tem que evoluir?, considera Pimentel.

Não foram poucas vezes que Pimentel foi visto como excêntrico por quem não é tão ligado ao futebol. Mas ele não parece nem um pouco preocupado.

?O atleticano já nasce fanático. Não existe meio atleticano.

E sendo atleticano, se faz coisas que você mesmo duvida. As pessoas muitas vezes dizem que sou doido. Mas para mim é uma coisa que está no coração e vou passar para meus filhos e netos?, profetiza.