Teresópolis – A Granja Comary, uma pequena planície verde acomodada num belo vale em meio à Mata Atlântica, a 1.200 metros de altitude, em Teresópolis (RJ), acolheu à perfeição a seleção brasileira do pós-penta. Abandonada pela equipe desde novembro de 2001, no final das Eliminatórias para a Copa de 2002, ela ressurgiu agora com outros ares. Não, nada mudou nas instalações; lá estão os mesmos três campos em tamanho oficial (105 x 68 metros), os 22 apartamentos de 25 m cada (para duas pessoas), as diversas salas específicas (preleção, vídeo, imprensa, ginástica), o vestiário e tudo que um centro de treinamento precisa ter. Quem mudou foi a seleção brasileira.
Transcorridos 15 meses depois da última Copa e no início das longas Eliminatórias para a próxima (em 2006, na Alemanha), Comary parece o lugar ideal para a equipe porque lhe dá, além da infra-estrutura, o tom certo entre o refúgio e a tensão. A seleção já não é a mesma de 2001: com o triunfo na Ásia, os maus humores dos sucessivos técnicos e das dezenas de jogadores se incorporaram ao folclore do passado, e o astral de Comary – onde a neblina e a garoa costumam fazer jogadores e jornalistas sentirem bastante frio – não poderia ser melhor. Ao mesmo tempo, essa seleção tem desafios pela frente, e relaxamento demais tampouco é recomendável.
Na quinta-feira passada, dia em que o sol reapareceu com força no céu de Teresópolis, esse delicado equilíbrio pôde ser testemunhado. As possíveis fontes de tensão para os jogadores vêm da presença de centenas de jovens moradores da cidade e de dezenas de jornalistas brasileiros e estrangeiros. No entanto, os curiosos são ciosamente mantidos do lado de fora, onde se seguram ao alambrado e dali, a uma distância de 50 a 100 metros, berram para os atletas; e a imprensa, no lado de dentro, só tem acesso aos jogadores depois do treino, e apenas alguns se dispõem a conversar mais demoradamente.
Dois anos atrás, a Comary não trazia tantos jornalistas, especialmente estrangeiros. Agora, o elenco vitorioso e ainda mais milionário da seleção – 22 atletas cujos passes somam mais de US$ 200 milhões – atrai enorme atenção. São quase 200 jornalistas, dos quais cerca de 50 estrangeiros. E não apenas isso. Há ainda pessoas como o jovem japonês Yuzumi, estudante de língua portuguesa, que viaja atrás da seleção em todas as partes do mundo, ou a ginasta Daniele Hypólito, de câmera, caneta e camisa amarela nas mãos. Ambos conseguem quase todos os autógrafos desejados. Com a supervisão do sargento José Haroldo Castelo Branco, o time de seguranças checa todas as credenciais para que não haja invasões.