A Federação Paranaense de Futebol gastou aproximadamente R$ 5 milhões, dos quais ainda faltam pagar R$ 400 mil aos fornecedores, para reformar o Pinheirão e assim receber o jogo Brasil x Uruguai, em novembro passado. Com essa quantia, a entidade poderia ter quitado a dívida de INSS que possuí, de R$ 4,7 milhões.
Se a opção fosse quitar a dívida de IPTU, de R$ 3,1 milhões, ainda sobraria “troco”.
No entanto, a “prioridade” da entidade foi tornar o Pinheirão o primeiro estádio do Brasil plenamente adaptado ao Estatuto do Torcedor – e um dos poucos aprovados para a provável Copa do Mundo de 2014. O ônus? Protelar por mais algum tempo as dívidas e viver sob ameaça de perder seus bens. Para a última quinta-feira, a Justiça determinou o leilão da sede da FPF, que só foi impedido porque a federação conseguiu parcelar a dívida referente à ação, de R$ 42 mil, em três vezes. “Pagamos a primeira e vamos honrar nosso compromisso”, garantiu o presidente da FPF, em entrevista coletiva na tarde de ontem.
Desta vez, a entidade passou incólume ao reflexo imediato das dívidas. No entanto, o próprio presidente da entidade não esconde que a situação é complicada. Tanto é verdade que a FPF se viu obrigada a aderir ao Refis para se safar de problemas com o Ministério da Fazenda. E no que se refere à dívida do IPTU, a saída foi contratar um advogado (Luzardo Tomaz de Aquino) para mover uma ação questionando o montante da dívida. “O que foi divulgado é absurdo. Vamos questionar esse valor, porque julgamos a tributação progressiva inconstitucional”, disse Moura.
Por ano, segundo Moura, a FPF arrecada algo em torno de R$ 1,5 milhões, receita esta referente ao Mercadão do Automóvel, ao aluguel do pavilhão frontal do Pinheirão, o aluguel do estádio ao Paraná Clube e taxas cobradas aos clubes. Com a arrecadação, fica mesmo difícil quitar as dívidas.
Entretanto, porque foi permitido que a situação chegasse a esse pé?
Moura tentou explicar remetendo-se à administração de José Milani, em 1969, época em que segundo ele os problemas relativos ao patrimônio da FPF começaram a surgir. Mas vale lembrar que os débitos de IPTU, por exemplo, passaram a se acumular a partir de 1991. Hoje, todos os bens da FPF estão penhorados a favor do Banestado e a avaliação total do patrimônio é de R$ 100 milhões, segundo o dirigente.
Moura dispara para todos os lados
Durante a coletiva, Moura não poupou críticas àqueles a quem julga “coveiros, fracos e omissos” . Sem citar nomes, ficou claro que o primeiro “elogio” foi endereçado ao vereador Adenival Gomes, que tornou pública a situação financeira da entidade. Para o dirigente, o político estaria querendo enterrar a FPF. “Este vereador nada entende de administração esportiva e está jogando contra o futebol”.
As críticas estrondosas de Gomes acabaram forçando a renúncia dos vice-presidentes Osni Pacheco e Juliano Borghetti, que é Secretário Municipal do Esporte e Lazer. A eles, sobrou o adjetivo “fracos”, já que cederam à pressão política. “Não houve justificativa para a saída deles”. A lamentar, ficou o fato do trânsito da FPF na máquina política ter ficado mais complicado. “Tínhamos, por exemplo, um projeto na área de atletismo, que iria beneficiar centenas de escolas e serviria como abatimento da dívida. Não desistimos, mas agora não há como negar que fica mais difícil”. Mesmo ciente disso, Moura garante que esta será uma saída buscada pela FPF: estabelecer parcerias com a Prefeitura a fim de reduzir a dívida do IPTU. Por ora, a opção é tentar, na Justiça, reduzir o valor da dívida.
O título de “omisso” ficou para o governo estadual, que segundo Moura deveria ceder maiores “benefícios” à entidade. “Voltei de Brasília há pouco e lá fiquei sabendo que o governo de Brasília cedeu R$ 3 milhões para a disputa do campeonato estadual. Isso nunca acontece aqui. Nem mesmo um possível projeto de isenção fiscal para o futebol”, disparou.
Estadual-2005 em pauta
A Federação Paranaense de Futebol (FPF) anunciou ontem a parceria com a empresa Ethisports, filiada à Ethi Company, que vai gerenciar o Campeonato Paranaense de 2005. Após fracassar na comercialização da competição deste ano, a FPF optou por se associar a uma empresa especializada, que terá a responsabilidade de conquistar bons patrocinadores para a competição estadual.
“O futebol é uma mina a ser explorada”, acredita Hemerson Diniz, da Ethi Company. No comando das negociações, estará um velho conhecido do futebol paranaense: Ocimar Bolicenho. O ex-presidente do Paraná Clube, graduado em Administração Esportiva, vai fazer o “meio-de-campo” entre as empresas e os clubes.
Para tornar a parceria mais eficiente, Moura deve convocar o arbitral de formatação do estadual do ano que vem para o final deste mês. A idéia é ter regulamento e tabela em mãos o mais rápido possível. “As empresas fecham orçamento de patrocínio até outubro. Com o campeonato pronto com antecedência, poderemos negociar com mais chances de sucesso”, aposta Moura. O estadual do ano que vem está previsto para acontecer entre os dias 19 de janeiro e 15 de maio.