Felipe Massa fará sua segunda e definitiva despedida do GP do Brasil como piloto de Fórmula 1 neste domingo, no Autódromo de Interlagos. Ao fim de sua 16ª temporada na categoria, o brasileiro se vê “realizado” e sem nada a lamentar em sua carreira na principal categoria de automobilismo do mundo.

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Em entrevista exclusiva ao Estado, Massa até interrompe a reportagem quando questionado sobre se deixará a F-1 com sentimento de “realização”: “Ô, e muito!”, respondeu o piloto. “Sou muito feliz por tudo que consegui conquistar e me sinto satisfeito e emocionado por tudo o que passei na minha carreira como piloto de F-1.”

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Em 16 temporadas, incluindo uma como piloto de testes, Massa disputou 267 GPs e faturou 11 vitórias e 16 pódios. Foi ainda vice-campeão em 2008, após perder o título na última curva da última prova do ano, justamente em Interlagos. Dos 31 brasileiros que já correram na F-1, ele só tem resultados inferiores aos campeões mundiais Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. “Acho que os números mostram bem como eu fui, como a minha carreira foi longa.”

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Entre estes números está a vitória do brasileiro em Interlagos, em 2006. Para Massa, foi seu melhor momento na F-1. “Foi o dia mais feliz da minha carreira”, relembrou ele, que pilota no asfalto de Interlagos desde a adolescência. “Aquela vitória no GP do Brasil era algo muito longe do que eu imaginava conquistar na minha vida.”

A trajetória do brasileiro também foi marcada por momentos difíceis. O maior deles foi no treino classificatório do GP da Hungria de 2009. Uma peça do carro de Rubens Barrichello acertou sua cabeça e o tirou daquela e das oito corridas restantes da temporada. Apesar do grande susto, Massa não elegeu o perigoso episódio como o mais negativo de sua carreira na F-1.

“Foi o GP da Alemanha de 2010”, respondeu o brasileiro, referindo-se à prova que ficou famosa pela frase dita pelo chefe da Ferrari, via rádio: “Fernando está mais rápido que você”. “Foi o dia mais triste da minha história na F-1, eu tive que deixar o Alonso passar. Uma frustração tremenda, me senti impotente.”

Apesar da lembrança negativa, o brasileiro evita lamentações. “Eu não mudaria nada na minha carreira. Eu sempre aprendi muito e não tenho nada a me lamentar”, afirmou o piloto, que espera deixar uma imagem de respeito e amizade na categoria mais competitiva do automobilismo. “Sempre tive muito respeito pelas pessoas e sempre fui muito bem tratado, querido até no meio da F-1. Espero deixar uma imagem de respeito por tudo o que eu passei e por tudo o que recebi.”

Massa quer o mesmo reconhecimento por parte da torcida nacional. “O brasileiro gosta muito de torcer por outro brasileiro. Mas nem sempre no Brasil se dá o devido reconhecimento [ao atleta]. Às vezes é um pouco triste o que se vê… Nos outros países os torcedores dão mais valor.”

O piloto da Williams se despede da categoria sem obter maior brilho nestes últimos anos, após ter as melhores chances de título na Ferrari. Massa nem esperava competir neste ano. Foi chamado de última hora pela equipe inglesa para substituir o finlandês Valtteri Bottas, que rumou para a Mercedes. Por isso o brasileiro faz sua segunda despedida em casa neste fim de semana.

Neste seu “ano bônus” na F-1, ele não brigou por pódio, mas está longe de lamentar a decisão de permanecer no campeonato por mais uma temporada. “Me diverti muito guiando o carro deste ano. É maravilhoso de pilotar, é mais rápido, independente de não termos um carro tão competitivo assim. Consegui tirar muito do modelo deste ano. Valeu a pena ter continuado na F-1.”

Melhores resultados em 2017 não vieram em razão da falta de sorte, disse o piloto. “Tive até chance de vencer o GP do Azerbaijão, mas tive problemas no carro. Pneus furaram em outras corridas. Tranquilamente era para eu ter o dobro da pontuação que tenho hoje”, comentou o atual 11º colocado do Mundial, com 36 pontos.

Fora da categoria depois de disputar o GP de Abu Dabi, no dia 26, o brasileiro ainda não sabe o que fará no próximo ano. Seu maior interesse é entrar na Fórmula E, a categoria de carros elétricos promovida pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA). Mas ele não tem pressa e diz que não pretende apenas fazer número na categoria que escolher futuramente. “Quero me divertir, ser útil e me sentir importante para a equipe com a minha experiência e o meu trabalho.”

Enquanto não decide o seu futuro, Massa já prevê saudades da velocidade de um carro de F-1 e das viagens “por tantos países bacanas”. E admite que a família está um pouco preocupada com o seu futuro. “Tem aquela pergunta: o que eu vou fazer daqui para a frente? Rola aquela preocupação porque tive uma carreira longa, quase desde a minha infância. Mas estão todos me apoiando.”

Bem-humorado, ele até brinca com o novo status de “desempregado”. “Vou inventar alguma coisa para trabalhar. Ficar em casa sem fazer nada não é para mim”, afirmou o brasileiro.