Alex, do Cruzeiro para o Fenerbahçe, da Turquia; Vágner Love, do Palmeiras para o CSK, da Rússia; Diego, do Santos para o Porto, de Portugal; Luís Mário, do Coritiba para o Vitória de Guimarães, também de Portugal. Esses são alguns dos exemplos de transações de jogadores que vão deixar o campeonato brasileiro menos interessante a partir de agora.
Preocupado com o esvaziamento do campeonato nacional no meio de sua realização e pensando também em outras competições do futebol brasileiro, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, emitiu na semana passada uma polêmica RDI. A partir do ano que vem, os prazos para negociação de jogadores brasileiros com o exterior estão restritos a dois períodos: de 2 de janeiro a 20 de fevereiro e de 1.º a 31 de julho.
Ao contrário de satisfazer os clubes, que poderiam assegurar a presença de seus jogadores mais talentosos nas disputas, a medida incomoda os diretores da dupla Atletiba. Para o presidente do Coritiba, Giovani Gionédis, a RDI vai prejudicar ainda mais. “Os clubes estão quebrados e é demagogia falar que não estamos interessados em negociar jogadores. Com prazos menores, tudo ficará mais difícil”, reclamou Gionédis. É fato, por exemplo, que o Coxa vê no lateral-esquerdo Adriano uma grande possibilidade de dinheiro em caixa em janeiro do próximo ano. “Às vezes, negociações com clubes estrangeiros demoram. Poderemos perder bons negócios.”
Nem mesmo o fato de ter perdido o atacante Luís Mário para o Vitória de Guimarães, de Portugal, faz o dirigente mudar de idéia. “Os jogadores que detêm os próprios direitos federativos não nos interessam. Quando assinamos contrato, estamos cientes de que não temos como concorrer com o estrangeiro e eles podem partir. Mas nossos atletas representam bons negócios.”
Calendário adequado
O presidente do Conselho Deliberativo do Atlético, Mário Celso Petraglia, acredita que a medida é uma faca de dois gumes. “Não há como negar que a RDI possa assegurar a qualidade técnica dos campeonatos disputados no Brasil. Mas por outro lado, dificulta os negócios para os clubes que revelam jogadores, como é o nosso caso. Certamente, haverá prejuízo no fluxo de caixa.”
Tanto Gionédis quanto Petraglia concordam em outro ponto: defendem a adequação do calendário do futebol brasileiro ao europeu. “Deu certo na Argentina e no México. Por que não daria aqui?”, indaga o atleticano. “Se isso acontecer, teremos período de férias e negociações iguais, sem perigo de desestruturação das equipes ao longo dos campeonatos.” Para Gionédis, essa adequação deve ser feita o mais rápido possível. “Vai ser melhor para todos, clubes e atletas”, finaliza.
Empresários gostam
Entre os empresários e procuradores de atleta, que costumam lucrar bastante com negociações de atletas que detêm os próprios direitos federativos, as opiniões são divergentes quanto à implantação da RDI.
O agente “internacional” Gilmar Rinaldi, que tem em seu banco nomes como Juan, do Bayern Leverkussen, e Washington, do Atlético, acredita que a medida não vai prejudicar as negociações, mas sim organizá-las. “Existem datas determinadas pela Fifa que devem ser cumpridas. Tornando o mercado uniforme, os negócios vão correr mais facilmente”, acredita. Para Rinaldi, a uniformização dos prazos é o primeiro passo para a mudança do calendário brasileiro. “O ideal seria todos os campeonatos no mundo seguirem as mesmas datas. Nas férias, aconteceriam as negociações e os clubes que perdessem seus jogadores teriam como se reestruturar.”
O empresário Luiz Gustavo Manhães, que tem 29 atletas em seu banco, acredita que RDI possa prejudicar os atletas com os quais ele trabalha. Entre seus “clientes”, estão jogadores com mais de 25 anos, donos de seus próprios direitos federativos e um mercado cada vez mais reduzido com o passar dos anos. “Para atleta que não tem projeção internacional, a redução do prazo é muito ruim. As chances de conseguir um bom negócio ficam ainda menores”, diz Manhães. Ele defende que o futebol brasileiro está em constante renovação e não fica prejudicado com a negociação de atletas. “A cada dia surge um grande jogador. O Brasil é o país do futebol e mesmo que a evasão seja grande, sempre haverá reposição.”