Semana passada, dois episódios de racismo no futebol ganharam destaque nacional. No mesmo dia, um avanço e um retrocesso: enquanto o Esportivo foi punido com a perda de nove pontos, resultando no rebaixamento para a segunda divisão do Campeonato Gaúcho, em Curitiba o volante Marino, do São Bernardo, sofreu insultos racistas de torcedores do Paraná.
Esses casos revelam duas facetas do futebol brasileiro. A primeira mostra como nossa legislação esportiva é ambígua. O Código Brasileiro de Justiça Desportiva considera possível reduzir pontos e até eliminar o clube de uma competição como punição em casos de racismo. O problema é que o texto do artigo 243-G vincula o tamanho da penalização ao número de envolvidos nas manifestações racistas.
Ou seja, quando cometida por muitos torcedores, a discriminação recebe uma punição maior do que quando cometida por uma ou duas pessoas. Há ainda uma questão de interpretação textual: quantos torcedores são muitos torcedores? Por tudo isso, a dura penalização dada ao Esportivo, que além dos nove pontos também perdeu seis mandos de jogo e foi multado em R$ 30 mil, é uma vitória na luta contra o racismo.
A multa é outro ponto controverso. Em março, o Real Garcilaso, do Peru, foi punido com uma multa de US$ 12 mil pelas ofensas racistas sofridas pelo volante Tinga, do Cruzeiro. Durante o jogo, em fevereiro no Peru, a torcida do Garcilaso imitava o som de macacos toda vez que Tinga tocava na bola. No entanto, o jogador não ficou satisfeito com a multa em dinheiro. Para ele, a punição surtiria mais efeito se fosse uma medida socioeducativa, como o uso de uniformes com mensagens contra o racismo durante alguns jogos. A segunda faceta é mais grave. O Brasil registra um aumento assustador de manifestações racistas contra jogadores, técnicos e árbitros. De fevereiro do ano passado até agora, já se contabilizam 14 casos em estádios brasileiros que vieram a público.
Colaborou: Carolina Pompeo