Em clima de crise política praticamente desde o começo da gestão de José Carlos Peres, o Santos realizará neste sábado a votação do processo de impeachment do presidente José Carlos Peres, marcada para começar às 10 horas, na Vila Belmiro, com previsão de encerramento às 18h, seguida pela apuração. Podem votar todos os sócios filiados há pelo menos um ano e adimplentes. São aproximadamente 17 mil, sendo que cerca de 5,7 mil participaram da eleição presidencial no fim de 2017.
A Assembleia Geral Extraordinária do Santos foi convocada após dois pareceres da Comissão de Inquérito e Sindicância do clube que defendiam o impeachment do dirigente serem aprovados em reunião do Conselho Deliberativo, ocorrida no início de setembro. Agora, então, se a maioria simples dos sócios votar favoravelmente ao pedido, a passagem de Peres pela presidência do Santos estará encerrada.
Em dezembro, Peres foi eleito presidente, com um mandato de três anos. Porém, poderá ter encerrada precocemente uma gestão marcada pela constante crise, o que incluiu o rompimento com Orlando Rollo, seu vice-presidente e que vai sucedê-lo caso o impeachment seja aprovado. “Eu não esperava ter um fogo amigo que me espetou desde o primeiro dia”, disse Peres. “É um boicote diário.”
Duas denúncias foram apresentadas pedindo o impeachment de Peres. A primeira, do conselheiro Alexandre Santos e Silva, apontava como irregular uma portaria publicada por ele, na qual define que todas as contratações devem ser decididas pelo presidente, ignorando o Comitê de Gestão, principal órgão administrativo do clube.
O outro processo foi apresentado pelo conselheiro Esmeraldo Soares Tarquínio de Campos Neto e o acusava de ser sócio em uma empresa de agenciamento de atletas, a Saga Talent Sports & Marketing, sendo que nesse caso o dirigente se defende afirmando que não violou o Estatuto do Santos porque a empresa estava inativa.
Em 10 de setembro, os dois pareceres solicitando o impeachment de Peres foram aprovados por membros do Conselho Deliberativo do Santos com 165 de 242 votos em uma votação e 164 de 239 na outra, sendo que o processo precisava do apoio de 2/3 dos presentes àquela reunião para prosseguir.
Porém, Peres alega que a presença dos membros do Comissão de Inquérito e Sindicância na reunião do Conselho Deliberativo deveria ter sido contabilizada, ainda que eles não tivessem direito a voto. E isso impediria que a proporção de 2/3 dos votos tivesse sido alcançada, enterrando o processo de impeachment. Mas as tentativas de Peres anular a votação na Justiça não tiveram êxito. “Eles tiraram seis conselheiros, pegaram a varinha mágica e disseram: ‘vocês não estão aqui’ e fizeram a conta com 242”, reclamou.
Mas ainda há outras polêmicas envolvendo o processo, incluindo denúncias de compras de voto. O empresário de jogadores Henrique Oliveira foi flagrado em vídeo oferecendo dinheiro a um sócio do Santos para o que o mesmo pudesse votar a favor do impeachment do presidente do clube. O valor em seguida foi usado pelo sócio, inadimplente, para pagar R$ 243 que ele estava devendo ao clube e, assim, ficar apto para poder participar da votação. Na gravação, o empresário pedia que o sócio lhe entregasse a nota fiscal, com a comprovação do pagamento, e prometeu camisas do Santos e ingressos de camarote supostamente em troca do voto favorável ao impeachment.
A revelação deste vídeo ocorreu depois de a diretoria do Santos ter anunciado, na última sexta-feira, que realizou uma denúncia à Polícia Civil apontando supostas fraudes envolvendo sócios do clube. De acordo com nota oficial, “mais de 500 nomes” estão em condição suspeitas e teriam direito a voto.
O local de realização da votação também foi alvo de polêmica. A Assembleia Geral foi marcada apenas para a Vila Belmiro, embora Peres desejasse que ela também ocorresse em São Paulo, no Business Center. E havia uma boa razão para isso: na eleição presidencial, em dezembro de 2017, Peres dominou a disputa na capital, recebendo cerca de 50% dos votos. E preocupado em atrair esse apoio, disponibilizará ônibus gratuito, ida e volta, para associados de São Paulo participarem do pleito que definirá seu futuro.
POSSÍVEL SUCESSOR – Orlando Rollo, que assumirá a presidência do Santos caso o impeachment do presidente seja aprovado, já avisou que está preparado para assumir a função. “Se isso ocorrer, estou preparado para assumir”, afirmou o vice, que cumpriria o mandato até o final, até dezembro de 2020.
Tentando evitar transformar a votação do impeachment em uma disputa “Peres x Rollo”, o vice assegurou que conversará com as lideranças políticas para definir o que será feito, indicando uma possibilidade de convocar novas eleições em breve. Existe a chance de Peres alegar irregularidades e levar o caso à Justiça em caso de derrota. Mas, se o pedido de impeachment for negado, ele ganhará um fôlego para seguir na presidência. Nesse caso, é difícil imaginar que Rollo fique na gestão.