Alguns calções velhos, chuteiras sujas, meiões manchados de cal e camisas usadas em jogos ganham hoje ainda mais relevância histórica. Este 30 de junho marca os 15 anos do quinto título mundial da seleção brasileira e as recordações do penta guardadas desde a Copa do Mundo realizada em conjunto por Japão e Coreia do Sul, em 2002, ampliam a cada ano o status de relíquias.
“Guardei quase tudo o que eu usei em 2002. Desde a chuteira, até a faixa de capitão, a medalha, a camisa, a réplica da taça, o shorts. São recordações que vão ficar para o resto da vida. Tem de guardar mesmo”, explicou ao Estado o capitão da equipe e ex-lateral-direito Cafu.
Uma sala na casa dele é o museu particular da carreira, com espaço especial para o penta. A faixa de capitão usada no braço esquerdo durante a Copa está no centro do ambiente, em um pedestal, junto com a réplica do troféu. As camisas usadas nos jogos da campanha estão protegidas em vidros, penduradas na parede, perto do par de chuteiras que calçou no torneio.
Cafu é quem cuida de toda a organização do espaço. As camisas dos times onde jogou ou as trocadas após as partidas com os adversários estão ao alcance dos visitantes. As peças mais protegidas são exatamente as do penta. A camisa da final, por exemplo, tem os autógrafos dos demais companheiros e está fixa na parede, em um dos pontos mais altos da sala.
O capitão do penta trata a recordação dos colegas como um dos lembretes da chamada “Família Scolari”, como ficou conhecida a equipe pelo bom ambiente e união durante os jogos na Coreia do Sul e no Japão. “Criamos uma relação muito estreita desde o primeiro dia em que fomos para a Copa do Mundo. Convivemos praticamente 50 dias juntos, como se fosse realmente uma família. Então você forma um família e acaba tendo amizades com todos do grupo”, contou Cafu.
A campanha até hoje é a única em que uma seleção ganhou a Copa com sete vitórias em sete partidas. Um dos integrantes daquele elenco, o ex-zagueiro Edmilson, decidiu, em um museu particular, montar um memorial semelhante ao de Cafu, porém fez questão de contratar um arquiteto para elaborar a organização da sala.
O visitante caminha pelo cômodo em sentido cronológico ao da carreira. O caminho começa no XV de Jaú, passa pelo São Paulo, Palmeiras e outros clubes onde Edmilson atuou. Recortes de jornais e revistas, medalhas e fotos conduzem o olhar até o canto da sala, onde no ponto mais alto está uma das camisas usadas na final da Copa contra a Alemanha.
A peça em exposição tem uma história peculiar. Edmilson teve de trocar a camisa no segundo tempo, pois havia rasgado o uniforme durante uma disputa de bola com um adversário. “O roupeiro foi ao vestiário buscar a camisa que usei no primeiro tempo. Mas como ela estava toda molhada de suor, embolada em uma sacola e era feita com duas camadas de tecido, eu levei quase um minuto para conseguir vestir”, contou.
O jogo parou enquanto o zagueiro tentava vestir a peça. Até um dos companheiros, Gilberto Silva, ofereceu ajuda. O árbitro italiano Pierluigi Collina riu da dificuldade. A camisa que tanto deu trabalho para vestir precisou ser recortada e costurada para ficar ajustada a um manequim. Agora não sai mais de lá. “O meião que usei na final está até meio sujo, com umas marcas de cal. Mas não mexo nele”, afirmou.
A única memória do penta que foi guardada e não veio da Ásia é uma pintura. “O significado de ter sido campeão do mundo pela seleção brasileira a gente só dá valor quando pensa no que vivemos”. Um fã dele reproduziu em uma tela o gol de voleio marcado por Edmilson contra a Costa Rica. O presente lhe ensinou o quanto é importante continuar a guardar (e a juntar) relíquias do título.