São Paulo – A maioria dos quenianos que vão disputar a São Silvestre amanhã não treinou especialmente para a competição, mas nem por isso deixa de acreditar ser possível manter a tradição do país na prova. "Mas os brasileiros ganharam no ano passado e nunca se sabe", disse Robert Cheruiyot, campeão de 2002, mostrando respeito pelos fundistas do País que estarão na disputa.
Mas o conhecimento dos quenianos sobre os brasileiros que vão competir na São Silvestre para por aí. John Gwaco, vencedor da Maratona de Nova York, sequer tinha ouvido falar do vice-campeão no ano passado. "O que é Rômulo?", perguntou o atleta à tradutora – em tom de total ignorância -quando esta questionou sobre Rômulo Wagner da Silva que, inclusive, representou o Brasil na maratona das Olimpíadas de Atenas.
Gwaco já participou de três edições da São Silvestre, mas nunca venceu. Admite que o calor e o relevo com subidas da competição não o favorecem, ao contrário do que acontece na Meia-Maratona do Rio, que já ganhou três vezes. Além disso, participou de uma competição em novembro e ainda está sob efeito do desgaste. "Mas minha meta é vencer e espero realizar o sonho de ganhar aqui."
Robert Cheruiyot diz que também não fez treinamento especial, mas está preparado. O corredor espera que não chova durante a São Silvestre. "Realmente não gosto de correr aqui nessas condições", admite. O queniano não quis divulgar qual será sua estratégia para a prova. "É segredo, mas se eu ganhar posso revelar", afirmou. Stephen Biwott, que participou da coletiva, admitiu que também não fez treino especial. "Mas acho que tenho condições suficientes de competir."
Entre as mulheres, Lydia Cheromey, que venceu em 1999 e 2000, pouco falou. Mas admitiu que está torcendo para que não faça muito calor. "Senão a prova vai ficar mais difícil", avaliou. Ela explicou que a São Silvestre significou uma pequena pausa na sua preparação para as corridas de cross country que disputará em 2005. "Treinei com vários corredores que estarão aqui. Depois volto ao cross country." Sobre Maria Zeferina Baldaia, vencedora em 2001, não fez comentários detalhados. Limitou-se a dizer que "as brasileiras são sempre muito fortes".
Vanderlei
Como a maioria dos quenianos que estará na São Silvestre tem como prova principal a maratona, vários comentaram sobre o episódio do ex-padre irlandês que agarrou o brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima e o prejudicou na prova das Olimpíadas. "Realmente quando acontece uma coisa dessas é muito complicado voltar ao ritmo que se estava antes. A retomada que ele (Vanderlei) mostrou é uma coisa muito difícil de se conseguir", comentou Cheruiyot.
Pauê corre como exemplo
A tradicional corrida de São Silvestre terá este ano, em sua 80.ª edição, um estreante que não pensa em resultados. A intenção do santista Paulo Eduardo Chiefi Aagaard, o Pauê (Unimonte/Instituto Paradigma) é bem diferente e diz respeito ao esporte adaptado. "Estarei lá representando a categoria", afirma o atleta, que tem o triatlo como especialidade.
O objetivo na prova de amanhã é chamar a atenção em diversas frentes. "Quero estimular a prática de atividades físicas para deficientes, motivar o aparecimento de novos atletas, mostrar nossa realidade e despertar a atenção das autoridades", enfatiza Pauê, de 22 anos, que há quatro perdeu as duas pernas (abaixo dos joelhos), após ser atropelado por um trem em São Vicente.
Pauê superou todas as adversidades após o acidente e, além de continuar a surfar (sua paixão desde a infância), transformou-se em triatleta, modalidade na qual já alcançou o título mundial na categoria de amputados bilaterais (abaixo dos joelhos), conquistado no México, e o 3.º lugar no pan-americano, no Rio de Janeiro.