O Quênia dominando as provas de fundo do atletismo não é nenhuma surpresa, mas no Mundial de Pequim os africanos estão alçando voos maiores. Nesta terça-feira, um queniano, Nicholas Bett, venceu até os 400 metros com barreiras masculino. Após quatro dias de finais, o Quênia lidera o quadro de medalhas tanto em número de ouros quanto de pódios.
A vitória de Bett é o resultado mais inesperado de um Mundial até aqui bastante óbvio. O queniano era o sexto do ranking mundial, mas venceu no Ninho do Pássaro com o melhor tempo da temporada: 47s79. Isso em uma final forte, em que o medalhista de prata (Denis Kudryavtsev, da Rússia) e o de bronze (Jeffrey Gibson, das Bahamas) bateram recordes nacionais.
O Quênia, forte na maratona, nos 10.000m, 5.000m, 1.500m e 800m rasos, além dos 3.000m com obstáculos, nunca teve bons resultados em distâncias mais curtas. Nos 400m com barreiras, sequer classificou atletas para o Mundial de Moscou, em 2013. Neste ano, na China, colocou dois representantes na final.
Nos 800m, David Rudisha retomou a hegemonia e faturou o bicampeonato mundial, reeditando a vitória de 2011 e da Olimpíada de Londres. O queniano sobrou, com 1min45s84, contra 1min46s08 do polonês Adam Kszczot. Amel Tuka ganhou o bronze para a Bósnia-Herzegovina em uma final que contou com outros dois quenianos.
Já nos 1.500m para mulheres não havia como o Quênia vencer. Afinal, a caçula da família Dibaba sobra. A etíope Genzebe, que este ano bateu o recorde mundial, ganhou com o tempo de 4min08s09, numa prova muito lenta – a marca da campeã é equivalente ao 66.º lugar do ranking mundial.
Mas Genzebe Dibaba queria isso mesmo. Mais rápida que as demais, é inalcançável nos metros finais. O Quênia, entretanto, beliscou a prata, com Faith Kipyegon, enquanto a Holanda ganhou o bronze com Sifan Hassan, etíope naturalizada. O quarto lugar, aliás, também foi para a Etiópia.
Assim, ao fim de quatro dias de disputa, o Quênia já tem nove medalhas, sendo quatro de ouro, três de prata e duas de bronze. Os Estados Unidos, que em 2013 tiveram mais do que o dobro de medalhas do que os quenianos (25 a 12), somam só seis, uma única de ouro. A Polônia, com cinco, surpreende.
OUTRAS PROVAS – A campanha ruim dos EUA até aqui no Mundial de Pequim poderia ter sido atenuada no salto em distância masculino. Jeff Henderson, campeão dos Jogos Pan-Americanos, chegou ao Ninho do Pássaro com os três melhores resultados da temporada, mas foi eliminado da final após três saltos, no nono lugar.
O caminho, então, ficou aberto para o britânico Greg Rutherford, campeão olímpico, que venceu o Mundial com um salto de 8,41m. Fabrice Lapierre, da Austrália, saltou 8,24m para ficar com a prata e Jianan Wang, da China, ganhou o bronze com 8,18m. A África do Sul, que tem o segundo e o quarto colocados do ranking mundial, sequer colocou atletas na final.
No disco, Denia Caballero, de Cuba, e Sandra Perkovic, da Croácia, prometiam um duelo emocionante. E cumpriram. Mas quem levou a melhor foi a campeã dos Jogos Pan-Americanos, que alcançou 69,28m logo na primeira tentativa. Cada uma delas depois lançou acima de 65 metros três vezes, mas a croata terminou mesmo com a prata, com 67,39m. Juntas, elas têm as 12 melhores marcas da temporada. Na disputa do bronze, a alemã Nadine Müller levou a melhor sobre Yaime Pérez, de Cuba, por apenas 7 centímetros: 65,53m x 65,46m.
Por fim, nas eliminatórias dos 400m, baterias fortíssimas. A estrela Allyson Felix, dos EUA, foi a mais rápida, com 49s89, numa semifinal em que 10 das 12 mais velozes fizeram, se não o melhor da carreira, ao menos o melhor da temporada. Todas elas, abaixo dos 51 segundos.