O esquema milionário de venda ilegal de ingressos da Copa do Mundo, desarticulado pela operação “Jules Rimet”, era comandado por um integrante da Fifa. Na quadrilha, o membro da Federação está acima do franco-argelino Lamine Fofana, de 57 anos, preso terça-feira no Rio, que rodava pela cidade com carro oficial da Federação e tinha trânsito livre pela entidade. Só no Mundial do Brasil, a quadrilha, que contava com cerca de 30 pessoas, faturava R$ 2 milhões por jogo.
Segundo o delegado Fábio Barucke, da 18ª DP (Praça da Bandeira), responsável pela investigação, o integrante da Fifa é homem e sua voz está nas gravações feitas pela polícia, com autorização da Justiça, nas ligações de Fofana. Preso na quarta-feira, em São Paulo, o braço direito de Fofana no Brasil, José Massih (advogado, já foi empresário do jogador Elano) disse aos policiais que o prenderam que estava disposto a delatar o líder da quadrilha, e que ele era da Fifa.
Massih e outro integrante da quadrilha preso em São Paulo, Alexandre da Silva Borges, seriam transferidos na noite desta quarta para o Rio. Na 18ª DP, os investigadores estavam dispostos a oferecer delação premiada ao advogado, para conseguirem chegar ao chefe do esquema criminoso.
“O Fofana é um cara grande na quadrilha. Pode ser uma tainha, mas não é uma lagosta. Tem gente mais graúda que ele”, disse o promotor Marcos Kac, da 9ª Promotoria de Investigação Penal. A operação Jules Rimet foi uma parceria entre polícia civil, Ministério Público e Juizado Especial do Torcedor.
Prova de que Mohamadou Lamine Fofana fazia parte da “família Fifa” foi a reação de cartolas nesta quarta no hall do Copacabana Palace, ao saber da prisão do cambista. Fofana era um velho conhecido deles, inclusive do ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira. Nesta Copa, ingressos era vendidos à beira da piscina do luxuoso hotel, embaixo da janela do quarto do presidente da Fifa, Joseph Blatter.
“Fofana foi preso?”, declarou um vice-presidente da Federação, assustado diante da repercussão da notícia. Outro cartola admitiu à reportagem que Fofana “circulava livremente” entre as salas vips dos cartolas, com celular de vários deles e acesso a todos os camarotes nos jogos. A reportagem obteve informações confidenciais de que três dos onze presos foram identificados operando à beira da piscina do Copacabana Palace, dividindo mesas com cartolas e até tomando sol.
SELEÇÃO BRASILEIRA – Logo no começo da investigação, que teve início há três meses, agentes interceptaram a ligação de um homem que “tinha livre acesso à Granja Comary”, disse o delegado Barucke. Ele dizia ter 50 ingressos para o jogo entre Brasil e Camarões, e queria vender cada um deles por 1.000 euros, ou cerca de R$ 3 mil. “Sou amigo daquele jogador que é amigo seu em comum”, disse o homem, ainda não identificado, em ligação para Fofana. Na ação, foram apreendidos dez ingressos em nome da CBF.
Até agora, 11 pessoas foram presas. Outras sete (todos brasileiros) estão sendo investigadas e, segundo o delegado, o grupo envolvia pelo menos 30 integrantes, muitos no exterior, já que a quadrilha agiu nas últimas quatro Copas do Mundo. Dos 50 mil registros de ligações gravadas, metade ainda não foi analisada – o que pode, esperam os investigadores, resultar em novas prisões. Na delegacia, todos os presos se negaram a prestar depoimento. O delegado já pediu prorrogação da prisão temporária, por mais 5 dias.