Como já era esperado, a cerimônia de acendimento da tocha olímpica nesta segunda-feira (24), na histórica cidade de Olímpia, na Grécia, foi marcada por protestos. Quando o presidente do Comitê Organizador dos Jogos de Pequim, Liu Qi, discursava durante o evento, três integrantes da ONG francesa Repórteres Sem Fronteiras (RSF) conseguiram romper o esquema de segurança para protestar contra a posição da China em relação aos direitos humanos.
Os manifestantes carregavam uma bandeira com cinco algemas interligadas, semelhantes aos anéis olímpicos. E um deles conseguiu aproximar-se bastante de Liu Qi antes de ser detido pelos policiais. Os três foram presos e podem ser processados por conduta desrespeitosa durante um evento público. De acordo com a polícia grega, eles conseguiram entrar na cerimônia por meio de credenciamento de imprensa.
O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogge, lamentou o ocorrido, que também foi condenado pelo governo grego. "É sempre muito triste quando há manifestações, mas essas não foram violentas e creio que isso é o mais importante", afirmou o dirigente. "O COI está engajado no que eu chamo de uma ?diplomacia silenciosa? com as autoridades chinesas desde o dia um da preparação dos Jogos."
A ONG responsável pelo protesto também soltou um comunicado. "Se a tocha olímpica é sagrada, os direitos humanos são mais sagrados ainda", afirmou, através de nota oficial. "Nós não podemos deixar que o governo chinês se aproveite da tocha olímpica, um símbolo de paz, sem denunciar a situação dramática dos direitos humanos no país."
Momentos depois do protesto, uma mulher tibetana coberta de tinta vermelha deitou-se no caminho de um dos atletas que carregava a tocha, enquanto outros manifestantes gritavam "Libertem o Tibete". A polícia grega conseguiu remover a mulher do local. A cerimônia, transmitida ao vivo para o mundo todo, teve os trechos dos protestos censurados na emissora estatal chinesa, que exibiu imagens gravadas previamente.
A cerimônia desta segunda-feira (24) marcou o início da jornada da tocha olímpica, que, em 130 dias, percorrerá 137 mil quilômetros antes de chegar a Pequim em 6 de agosto – dois dias antes do começo da Olimpíada. A tocha deve chegar à China em maio e passar em junho por Lhasa, capital tibetana que foi cenário de violentos protestos nos últimos dias.
E, por conta dos protestos iniciais e das ameaças futuras, o governo chinês afirmou que vai aumentar a segurança no trajeto que será percorrido pela tocha olímpica.
CONFLITOS – Os protestos no Tibete tiveram início no dia 10 de março, para marcar o 49º aniversário do fracassado levante de tibetanos contra o domínio chinês, em 1959, que levou ao exílio do dalai-lama na Índia. Segundo números oficiais, as manifestações deixaram 22 mortos. No entanto, o governo tibetano no exílio afirmou nesta segunda-feira que a repressão dos protestos deixou pelo menos 130 mortos.
As autoridades chinesas anunciaram nesta segunda-feira (24) que 381 pessoas que participaram dos "distúrbios" ocorridos na Província de Sichuan, sudoeste da China, se entregaram "voluntariamente" à polícia. Pequim havia dado um prazo – expirado na semana passada – para que os participantes das manifestações se entregassem.
Também nesta segunda-feira (24), a polícia do Nepal dissolveu uma manifestação de tibetanos exilados contra a China em Katmandu. Cerca de 475 manifestantes foram presos, segundo a ONU.
Pequim acusa o dalai-lama de ter conspirado para sabotar os Jogos Olímpicos, e de ser o cérebro por trás das manifestações. O dalai-lama desmentiu as acusações do governo chinês e disse que não se opõe à Olimpíada.
MEDIAÇÃO – A secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, pediu nesta segunda-feira (24) que a China adote uma política mais "sustentável" em relação ao Tibete. E pediu também para que o governo chinês dê início a conversas com o dalai-lama.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, também pediu que Pequim considere dialogar com o líder espiritual. Em carta enviada ao presidente chinês, Hu Jintao, Sarkozy expressou a disponibilidade de seu governo de "facilitar" o diálogo entre as duas partes, informou nesta segunda-feira (24) o Palácio do Eliseu.