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Proibida: CBF lança nota e veta a realização da Primeira Liga neste ano

Chegou a hora de ver quem é mais macho. Apesar do termo meio chulo, é justamente o que acontece no futebol brasileiro neste momento. Precisando de apoio das federações, a CBF sucumbiu à pressão da Federação do Rio (Ferj) e divulgou nota ontem proibindo a realização da Primeira Liga, que começa amanhã com quatro jogos, incluindo Fluminense x Atlético e Internacional x Coritiba. É o ápice de uma crise que envolve velhos personagens que parece não quererem que o futebol se modernize. E os clubes, até segunda ordem, continuam peitando o poder central.

Todo esse barraco parte do Rio de Janeiro. Alinhado com Eurico Miranda, presidente do Vasco, o cartola da Ferj, Rubens Lopes, decidiu lutar contra a Liga, tentando barrar a participação de Fluminense e Flamengo na competição. Brigados com a federação por conta da proteção ao Vasco, a dupla Fla-Flu entrou de primeira na Sul-Minas e mesmo com forte pressão não arredou pé do torneio. Semana passada, a Ferj emitiu nota para novamente impedir os seus filiados de jogarem. Como não surtiu efeito, voltou-se para ter o apoio da CBF.

E conseguiu enfim na manhã de ontem, em um almoço na entidade pretensamente para homenagear Wendell Lira, ganhador do Prêmio Puskas. Após a conversa entre Rubens Lopes, o secretário da CBF Walter Feldman e o presidente em exercício Antônio Carlos Nunes, surgiu o teor da nota da tarde. Segundo a Confederação, há “obstáculos intransponíveis de ordem técnica e das normas constantes do ordenamento jurídico desportivo estadual, nacional e internacional, para que a competição seja realizada no ano de 2016”, e por isso não é possível acontecer a Primeira Liga.

Ameaça

Caso a competição aconteça, a nota da CBF insinua com jogo pesado – uma citação dos clubes à Fifa por disputarem um torneio sem autorização. Foi o que a Ferj também falou semana passada, deixando claro que é uma posição única das duas entidades. Mas será que a Confederação Brasileira de Futebol teria peito para pedir a punição de doze dos maiores clubes do País, dez deles disputando a primeira divisão?

Os clubes acham que não. “Achei que a CBF, ao invés de poder apoiar os clubes, de possibilitar os jogos com maior apelo das torcidas e ir preparando para a evolução no futebol brasileiro, toma uma decisão dessa. A gente foi surpreendido com uma decisão dessa, restritiva, intempestiva. A gente só tem que lamentar esse tipo de situação”, disse o presidente do Atlético, Luiz Sallim Emed, em entrevista à Tribuna. “Nós não queremos conflito, mas precisamos dessa competição para manter a saúde financeira do clube. É um efeito político forte e uma pressão principalmente da federação do Rio junto a CBF. Nós não tememos nenhuma represália”, concordou Alceni Guerra, vice do Coritiba. “A posição da Liga não muda com a nota da CBF. Os jogos vão acontecer, o campeonato vai sair”, completou o diretor jurídico da Liga, Eduardo Carlezzo.

Luiz Sallim Emed e Alceni Guerra unem a dupla Atletiba no posicionamento contra a CBF.

Clubes mantém programação

Apesar da nota da CBF proibindo a Primeira Liga, os clubes mantiveram normalmente suas programações para a rodada de abertura da competição. O Atlético seguiu ontem mesmo para Volta Redonda, onde enfrenta o Fluminense, e o Coritiba segue na noite de hoje para Porto Alegre, local da partida contra o Internacional. Os outros participantes também garantiram os jogos, até porque a CBF deixou a brecha para que as partidas do meio de semana acontecessem sem previsão de punições.

Segundo a nota, a entidade admite a “realizaç&a,tilde;o de jogos amistosos até o dia 30 de janeiro, dentro do período de pré-temporada, já com a anuência das Federações e em respeito às determinações do Estatuto do Torcedor”. Como até mesmo a federação do Rio de Janeiro autorizara os jogos do meio de semana, não há qualquer risco de a rodada não sair.

Inclusive ontem aconteceram dois movimentos importantes. O SporTV, que detém os direitos de transmissão para TV fechada, confirmou a exibição dos seis jogos do meio de semana – o do Furacão às 19h30 e o do Coxa às 21h45 de amanhã. E a Associação Nacional de Árbitros de Futebol (Anaf) realizou o sorteio dos trios para os jogos, com Célio Amorim comandando Fluminense x Atlético e Ronan Marques da Rosa apitando Internacional x Coritiba.

Normal

O presidente do Atlético, Luiz Sallim Emed, confirmou que não há qualquer mudança na programação rubro-negra. “O Atlético está viajando agora, vai jogar quarta (amanhã) em Volta Redonda. O que vamos ter que fazer é reunir todos os clubes, tomar uma posição conjunta. Se persistir esse tipo de situação, nós vamos encontrar outras medidas para não aceitar essa imposição violenta e truculenta por parte da CBF”, disse.

Mesmo posicionamento de outros dirigentes. “Não estamos com medo. A Primeira Liga não tá fazendo nada de errado”, afirmou o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello. “Eles podem vetar a competição, mas não podem vetar um jogo amistoso. Nós vamos jogar todos os jogos”, avisou o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan. “O América mantém a programação inicial para o jogo com o Figueirense”, completou o mandatário do Coelho, Alencar da Silveira.

Veja a nota na íntegra:

O Presidente e a Diretoria da Confederação Brasileira de Futebol, no uso de suas atribuições legais e estatutárias,

i) CONSIDERANDO a realização, no dia 27/10/2015, de Assembleia Geral Extraordinária da CBF, que, por deliberação unânime das filiadas presentes, não se opôs à filiação e vinculação da Liga à CBF, nem à inclusão de sua competição no calendário oficial do futebol brasileiro, “desde que cumpridas e respeitadas todas as normas e exigências que compõem o ordenamento jurídico desportivo, compreendendo inclusive os Estatutos da FIFA, CONMEBOL, CBF e Federações” e “desde que integralmente cumpridas as exigências e requisitos contidos no Regulamento Geral das Competições da CBF, em especial o calendário anual do futebol brasileiro, assim como os Estatutos da CBF e das Federações”;

ii) CONSIDERANDO os obstáculos intransponíveis de ordem técnica e das normas constantes do ordenamento jurídico desportivo estadual, nacional e internacional, para que a competição seja realizada no ano de 2016, como a não observância do prazo regulamentar para que clubes e atletas disputem partidas, a impossibilidade legal de que uma partida seja válida por duas competições distintas, além da observância de critérios técnicos de participação, bem como o respeito ao Estatuto do Torcedor;

iii) CONSIDERANDO o interesse da CBF em harmonizar e democratizar o futebol brasileiro, pondo fim aos entraves, conflitos e antagonismos que acabaram se verificando entre os múltiplos atores de nosso futebol, visando a um relacionamento saudável entre todos eles;

iv) CONSIDERANDO o empenho da CBF em promover competições rentáveis e de altíssimo valor agregado, nos moldes da bem sucedida Copa do Nordeste, que é hoje reconhecida nacionalmente e gera recursos diversos aos clubes que a disputam.

RESOLVEM

1- Convocar todos os protagonistas envolvidos na Copa Sul-Minas-Rio, a fim de deliberar a realização da competição no calendário oficial do futebol brasileiro, a partir do ano de 2017, sem nenhuma infringência às leis, regulamentos e estatutos.

2 – Não aprovar a solicitação para realização de qualquer competição não inserida no Cale,ndário Nacional no ano de 2016, em vista das considerações acima apresentadas.

3 – Admitir a realização de jogos amistosos até o dia 30 de janeiro, dentro do período de pré-temporada, já com a anuência das Federações e em respeito às determinações do Estatuto do Torcedor.

4- Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação no site da CBF, ficando revogadas, a partir de sua vigência, quaisquer disposições em contrário.

Rio de Janeiro, 25 de janeiro de 2016.

Antônio Carlos Nunes de Lima

Presidente em exercício

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