Primeiro objetivo do Coxa é conquistar o Paranaense

Não será um ano fácil, e ninguém espera isto para o Coritiba. Mas 2006 promete ser um ano de extrema dificuldade, principalmente pela pressão inevitável que jogadores, comissão técnica e até a diretoria sofrerão para recolocar a equipe na primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Por mais que interesse a retomada da hegemonia estadual e se sonhe com uma boa campanha na Copa do Brasil, nada é mais importante para o Coxa que a disputa da Série B, a partir de abril.

Tanto que, mesmo sem admitir claramente, o Cori passará por diversas avaliações durante os três primeiros meses deste ano. As contratações, que seriam catorze, deverão ficar em onze até meados de fevereiro, para que o comando do departamento de futebol possa definir quem está rendendo, o que é preciso para melhorar e quais serão as posições carentes. ?Um clube grande como o Coritiba não pode fechar elenco. Vamos estar contratando sempre que for necessário?, resume o diretor de futebol Almir Zanchi.

A disputa do Paranaense servirá, também, para reerguer o moral de um elenco baqueado – principalmente os mais jovens, que formam a base do grupo e sentiram muito o rebaixamento. ?Seria ótimo conquistar o campeonato estadual. É esta a minha motivação no início do ano?, admite o técnico Márcio Araújo.

Ele contará com apenas 18 atletas que disputaram a temporada passada – número que pode diminuir, caso Renaldo e Rubens Júnior deixem o clube (o primeiro estaria nos planos do Botafogo), ou aumentar, se Caio e Jackson renovarem seus contratos. Terá sete reforços já anunciados – Iverton, Marcelinho, Julinho, Artur, Júlio Sérgio, Márcio Giovanini e Wílton Goiano – e mais os quatro que chegarão hoje.

Estes jogadores foram contratados depois de criteriosa análise do departamento de futebol. Com aval do presidente Giovani Gionédis – que toma posse do terceiro mandato na quinta-feira -, Almir Zanchi, o superintendente Odivonsir Frega e o assessor da presidência José Hidalgo Neto decidiram formar um elenco com as características da competição que o Coxa terá que disputar.

Aí estão diferenças básicas do Coritiba 2006: primeiro, a diretoria ?sai de cena? e abre caminho para profissionais ligados ao clube comandarem o futebol; segundo, não se contratará por atacado, ou sem critério. ?Não podemos errar. Cada falha será tempo perdido?, diz Odivonsir Frega. A torcida confia muito neles e em Márcio Araújo – a ligação do quarteto (todos com várias passagens anteriores) com o Coxa é a grande esperança de um time condizente com a força que os torcedores vêm demonstrando nas arquibancadas.

Coxa anuncia mais quatro novos reforços

O elenco do Coritiba volta das férias só amanhã, mas hoje a torcida já conhecerá a cara da equipe para 2006. A diretoria promete apresentar nesta segunda-feira os quatro reforços que completam o time para o início do Campeonato Paranaense.

Chegam dois meio-campistas e dois atacantes, escolhidos de forma criteriosa, segundo o diretor de futebol Almir Zanchi. ?Estudamos muito para fazer estas escolhas. São jogadores talvez não tão conhecidos, mas de qualidade e que vêm com perspectiva de lucro numa futura transação. Não adianta ilusão, futebol só se faz com dinheiro?, disse Zanchi.

O dirigente não quis antecipar nenhum nome antes da realização dos exames médicos dos atletas, marcados para hoje de manhã. Uma vez aprovados, à tarde eles serão apresentados oficialmente. ?Não adianta falar antes da hora. Se algo não dá certo, a torcida pode se frustrar?, justifica Zanchi, adiantando apenas que o mais velho dos novos contratados tem 27 anos, e os demais, na faixa dos 22 e 23 anos.

Zanchi explica que a ?primeira fase? de contratações se encerra com a vinda dos quatro atletas. Durante o Estadual, o técnico Márcio Araújo fará suas avaliações e poderá pedir um incremento no time. ?Sabemos que é difícil, mas esperamos acertar 100% das contratações?, falou Zanchi.

Um dos reforços que viriam hoje seria o meia Caíco, 31 anos, ex-Santos, Atlético-PR, Internacional e Juventude. O jogador já tinha acertado salários com a diretoria alviverde, mas o Marítimo da Ilha da Madeira, comandado pelo técnico Paulo Bonamigo, entrou na jogada e atravessou a transação. Sem condições de cobrir a proposta dos portugueses, o Coxa desistiu do negócio.

A diretoria ainda espera definir também a possível transferência do atacante Renaldo, para o Botafogo. O assunto ganhou força nos dias que antecederam as festas de final de ano.

Coritiba abusa de magoar a torcida em seguidos tropeços em 2005

Entre os campeonatos Paranaense e Brasileiro, o Coritiba disputou a Copa do Brasil. Uma competição em que o Coxa tem tradição, disputou duas vezes a semifinal, e que para ficar melhor tinha um caminho bastante interessante. Apenas nas quartas-de-final apareceria um adversário direto (seria o Fluminense). O sonho de uma conquista inédita podia se transformar em realidade. Podia.

O início parecia simples. O frágil CFZ, de Brasília, depois o Náutico e a segunda decepção do ano veio com a desclassificação para o Treze-PB.

A eliminação foi decisiva para a demissão de Antônio Lopes, que tinha seu trabalho questionado desde o ano anterior – mesmo que, nas primeiras rodadas do Brasileiro, o Coxa tivesse vencido o Fortaleza fora de casa e jogado bem contra o Santos, apesar de perder por 3 a 2 na reabertura do Couto Pereira. Voto vencido na decisão, o presidente Giovani Gionédis fez questão de agradecer os serviços do Delegado, que mais tarde seria vice-campeão da Libertadores no Atlético e campeão brasileiro no Corinthians.

Cuca foi contratado, com aceitação da crítica e da torcida. Só que o Coritiba era irregular – ganhava uma e perdia a seguinte. Foi assim até a vitória sobre o Paysandu. Depois, veio o Atlético com um time reserva e pensando na final da Libertadores. O Coxa perdeu e entrou em crise – o presidente chegou a pensar em mandar Cuca embora.

O técnico ficou, e teve trabalho para recuperar a equipe. Era bom acertar o ataque, pois a defesa sofria com as saídas: Fernando, Miranda e Rafinha.

Depois de duas vitórias, enfim estreou o atleta mais esperado pela torcida: Renaldo, trazido do Paraná para ser o artilheiro do Coxa. A primeira impressão foi boa, mas o time sofria com a irregularidade coletiva e a inconstância de resultados.

O Coxa sofria muito, principalmente em Curitiba -perdeu para o São Paulo por 4 a 1 (Renaldo perdeu um pênalti) e foi derrotado pelo Paraná no clássico do Pinheirão. Aquela foi a primeira da pior série negativa da história do clube. Depois, veio o 2 a 0 imposto pelo Goiás. Após a partida, o presidente veio a público dizer que não procediam as críticas a Cuca, e que o técnico permaneceria até o final de 2006. Mas a derrota seguinte (Paysandu 2 a 1), no dia do aniversário do clube, foi fatal, e Cuca foi demitido – segundo o treinador, a dispensa foi por telefone.

Assumiu o interino Antônio Lopes Júnior, uma tentativa arriscada da diretoria. E o Coxa não podia correr riscos – o técnico afastou Renaldo, criou animosidades com parte do elenco e perdeu três partidas -Atlético (1 a 2), Botafogo (0 a 2) e Cruzeiro (0 a 3). Era a sexta derrota seguida. Cláudio Marques foi chamado para comandar o time contra o Inter, no jogo remarcada pelo STJD por conta das denúncias de manipulação de resultados. Márcio Araújo foi contratado para manter o Coxa na Série A – quando ele chegou, o Coritiba era o 17.º colocado. "Ajudado" por Lopes Júnior e Sergio Ramirez na sua estréia, perdeu para o Flamengo, na 8.ª derrota consecutiva – Lopes e Ramirez foram demitidos pelo presidente logo após a partida, por terem "orientado mal" o novo técnico. Com paciência e conversa, Márcio conseguiu arrancar dos jogadores um novo ânimo, que fez o time vencer Figueirense e Ponte Preta, e empatar com o Brasiliense em Taguatinga.

Mas as derrotas para Corinthians e Atlético-MG derrubaram o Alviverde para a zona de rebaixamento. O time foi para São Caetano ainda dependendo das próprias forças, só que não conseguiu além de um empate com a equipe então treinada por Cuca. Então, só uma combinação de resultados manteria o Coritiba na 1.ª divisão – os alviverdes fizeram a parte deles, vencendo o Inter no Couto lotado, nova prova de amor da torcida. Só que Azulão e Ponte Preta também fizeram a parte que lhes cabia, e o Coxa acabou caindo para a Série B. Mas o ano ainda não tinha acabado, e para fechar de maneira constrangedora a temporada 2005, situação e oposição se engalfinharam em uma eleição disputada dentro e fora do clube, indo parar na Justiça. Foram duas semanas de apreensão e trocas de farpas entre as facções, que só terminaram com a renúncia dos oposicionistas. Era o final indesejado para um ano que nem deveria ter começado.

Prenúncios de uma temporada complicada

Para o Coritiba, 2005 nem deveria ter acontecido. Mas as tristezas da pior temporada do clube em muitos anos servem como lição para o que vem pela frente. Foram vários problemas enfrentados tanto dentro quanto fora de campo, que acabaram desaguando no pesadelo do rebaixamento. Os primeiros meses do ano foram de negação às estratégias de 2004 e de um afastamento compulsório da própria casa. E do primeiro amargor – a perda do tri Estadual.

Depois de 40 anos de serviços, o gramado do Couto Pereira necessitava de uma reforma. E era uma das prioridades da diretoria, que escolheu o período do Paranaense para colocar um novo ‘tapete’ no Alto da Glória – tudo para que, no primeiro jogo em casa do Brasileiro, o estádio estivesse pronto para uso. Foram gastos quase R$ 500 mil no trabalho, que deixou o Couto com um dos melhores gramados do país.

Mas se era necessário deixar o estádio, era preciso arrumar uma casa temporária. A decisão foi a seguinte: para o Paranaense, jogos no Willie Davids, em Maringá; na Copa do Brasil (ver matéria), partidas no Pinheirão. A opção pelo Norte era arriscada – não se sabia como estava o gramado do Willie Davids, e o público local pouco se interessaria em ver o Coxa jogar.

Para atrair público, o clube movimentou uma grande equipe de marketing. Mas toda a estrutura não comoveu o torcedor do Norte, que continua torcendo para os paulistas. O resultado foi uma presença pequena de público, apesar da campanha: 6 jogos, 5 vitórias e 1 empate.

Em campo, o Coritiba era bastante diferente do ano anterior. Tuta e Aristizábal tinham ido embora. O lateral-esquerdo Adriano e o volante Roberto Brum disputaram poucas partidas do Paranaense, e logo foram negociados com o futebol europeu. Com o pretenso fracasso das contratações milionárias de 2004, o clube apostou em revelações e jogadores mais baratos. Até o filho de Zico, Thiago, passou por um período de avaliação. Alguns deles pareciam bons valores, como Marciano e Nunes. Este grupo teve quase dois meses de concentração – além da pré-temporada, eles ficaram em um hotel de Maringá durante os jogos na cidade.

Como nos outros anos, o Coxa não teve dificuldade para ser o líder de seu grupo no Paranaense – a classificação veio com 7 rodadas de antecedência. Nas quartas-de-final, a diretoria resolveu trazer o time de volta a Curitiba, e foi no Pinheirão que o Chico Beltrão foi eliminado. Nas semifinais contra o Iraty, o Coxa venceu com pênalti no final da partida. Comandados por Tiago e Alexandre (que se transfeririam para o clube no Brasileiro), o Azulão complicou a partida de volta, que acabou empatada.

Veio a final contra o Atlético. Sem o Couto, a torcida transformou o Pinheirão em "casa", e o Cori venceu a primeira partida com segurança – o gol foi de Rafinha. No jogo de ida, Antônio Lopes pensou em repetir a tática bem-sucedida do ano anterior, quando entrou na Arena com 3 atacantes. Até a noite da véspera da finalíssima, Negreiros estava escalado.

Só que uma decisão da comissão técnica (segundo dirigentes, teria partido do auxiliar Antônio Lopes Júnior) acabou mudando a história do jogo – e certamente do Delegado, que se conquistasse o Paranaense não teria ido para o Atlético, e talvez nem acabasse no Corinthians campeão brasileiro. Pepo acabou entrando na equipe, e o Coxa acabou acuado pelos donos da casa.

Mesmo assim, o Coxa teve chances de empatar o jogo no tempo normal, com Rodrigo Batata. Melhor fisicamente, esteve com a vitória na prorrogação nas mãos, mas perdeu várias oportunidades. Aí veio a loteria dos pênaltis, que também mudou a trajetória de um jogador na temporada. Assim como em 2004, Capixaba era o mais regular da equipe, o termômetro alviverde. E logo ele desperdiçou uma penalidade, que abriu o caminho do título atleticano. Para o armador, o início de um período complicado, de apupos e cobranças sistemáticas da torcida. Para o Coxa, apenas a primeira decepção do ano.

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