Depois de meses de conversas e de uma semana de intensa repercussão, o projeto da Arena Trio de Ferro voltou para a estaca onde estava – um plano do presidente do Conselho Deliberativo do Atlético, Mário Celso Petraglia. Se o Paraná Clube, por todas as suas atitudes recentes, rapidamente pulou fora do plano, apresentado na segunda-feira passada para a prefeitura de Curitiba, o Coritiba viveu dias de alta tensão, até o momento em que a diretoria se viu obrigada a divulgar uma nota oficial também se afastando da ideia.
Mário Celso Petraglia é um entusiasta de uma praça única para o futebol de Curitiba. Com o gramado artificial aprovado pela Fifa, seria possível ter jogos do Trio de Ferro no local sem maiores preocupações com a estrutura física da Arena da Baixada. Havia também forte interesse comercial na ideia, pois a cervejaria Itaipava era candidata a fechar os naming rights do estádio Joaquim Américo, mas para isso seria necessário que pelo menos Atlético e Coritiba mandassem seus jogos lá.
O plano foi apresentado ao Ippuc na segunda-feira de Carnaval, em reunião com a diretoria do instituto e os três principais dirigentes do Trio de Ferro – Petraglia e os presidentes de Coritiba, Rogério Portugal Bacellar, e do Paraná Clube, Leonardo Oliveira. Pessoas que participaram do encontro confirmaram que o tema Arena única foi tratado, mesmo que oficialmente o assunto não estivesse na pauta.
Segundo o presidente do Ippuc, Reginaldo Reinert, o tema principal foi a reforma do estádio Couto Pereira, e que por isso seria importante a presença dos outros dois dirigentes. Leonardo Oliveira disse à rádio Transamérica que foi apresentar projetos do Tricolor. E, em conversas com atleticanos, Petraglia disse que o assunto foi um possível empréstimo da Arena ao Coritiba. Temas que, convenhamos, não precisam ser tratados com a Prefeitura – ainda mais que nem Couto nem Vila Capanema passam por qualquer tipo de reforma.
Repercussão
Como a Tribuna apontou na matéria em que apresentava o plano para uma Arena Trio de Ferro, o maior problema para “botar o bloco na rua” seria convencer conselheiros e principalmente torcedores. Nos comentários das matérias da semana, a reação da galera foi fortíssima. Os atleticanos não aceitando dividir a Arena. E coxas e paranistas sem a menor vontade de abandonar seus estádios e ir para o Joaquim Américo. Respaldo popular, portanto, não havia.
No Paraná Clube, a ideia foi rechaçada logo de cara. É da atual postura da diretoria – ou, melhor, do grupo “Paranistas do Bem”, que controla o Tricolor há três anos – o distanciamento de Atlético e Coritiba. Então, a posição do presidente Leonardo Oliveira era a esperada, e ele apenas aguardou o tempo (passar o Atletiba) para que deixasse claro o que achava. “Pelo menos dentro na minha gestão não vejo isso acontecer”, resumiu o cartola. A ideia polêmica serviu para o Paraná de novo fincar posição longe dos rivais.
Batalha
No Coritiba a situação foi bem mais tensa. Após a publicação da matéria sobre a Arena Trio de Ferro, duas reuniões extraordinárias do conselho foram realizadas. Elas pediam explicações à diretoria do que realmente estava sendo tratado. E os dirigentes não poderiam desmentir o que eles próprios disseram. Na metade de fevereiro, em entrevista ao portal UOL, o vice-presidente Alceni Guerra admitiu as conversas com o Atlético. “O Mário sempre teve esse intenção, desde antes da construção da Arena da Baixada. Ele tem isso na cabeça. Eu falei pra ele, essa decisão está acima de mim, de você, do (presidente Rogério) Bacellar”.
Alceni sabia do que estava falando. A pressão foi muito grande, inclusive com a comissão de patrimônio, que vinha estudando alternativas de projeto de um novo estádio na área do Couto Pereira. Em meio à crise em campo, tendo acabado de demitir Paulo César Carpegiani, a diretoria do Coritiba precisou se explicar para os conselheiros. E não só a eles.
Isto porque o clima no Alto da Glória já é de eleição – e o pleito só acontece em dezembro. As chapas já se articulam, e todos os possíveis nomes de oposição se voltaram contra a proposta da Arena Trio de Ferro. Acuados internamente, e com outros planos (os liderados por Alceni), os cartolas reduziram o ritmo das conversas com Mário Celso Petraglia sobre estádio.
Um duro golpe na relação entre Petraglia e Rogério Bacellar, pois o cartola rubro-negro vem sendo um ‘orientador’ das decisões do presidente coxa. Mas isto não muda a relação entre os clubes, principalmente no que diz respeito às negociações de direito de transmissão. Quinta-feira, por exemplo, Atlético e Coritiba estavam reunidos com a Rede Globo para tratar da renovação de contrato no Campeonato Brasileiro em TV aberta e pay-per-view de 2019 a 2024.
Chance zero
Com a torcida do Coxa, a diretoria sabia que era preciso ter um posicionamento mais concreto, para aplacar a ira da galera, já irritada demais com as derrotas em campo. Mas, mesmo assim, o clube demorou a se manifestar, inclusive depois de a Gazeta do Povo divulgar o laudo que aponta problemas estruturais na área destinada à torcida visitante no Couto Pereira. A reforma do estádio alviverde é necessária, mas os planos são de aproveitar o momento e construir um novo estádio.
A posição oficial do Coritiba só surgiu às 13h do sábado (4), pouco antes da vitória sobre o Prudentópolis, através de uma nota oficial. Um posicionamento desta importância sair em um horário diferente tem uma explicação. Na tarde de sexta-feira, Rogério Bacellar, os vices Alceni Guerra e José Fernando Macedo e o diretor Alex Brasil se reuniram com a torcida organizada Império Alviverde, e o presidente precisou garantir que não haveria possibilidade de “utilização de qualquer estádio de maneira conjunta com outro clube”.
Na nota, o clube garante que não pensa em Arena Trio de Ferro. Com um tom que transita entre a posição do clube e a de um grupo que pensa na eleição, afirma que “uma arena conjunta com outras equipes da capital não é uma opção desta diretoria”. E cita o Conselho Deliberativo e a comissão de patrimônio, onde foram apagados os incêndios no início da semana passada.
Faltou um. O Conselho Consultivo, onde estão os cardeais do Coxa, está reclamando muito de não ser sequer informada sobre o tema. “Infelizmente a Diretoria Administrativa do Coritiba segue sem convocar o Conselho Consultivo para dar explicações ou mesmo pedir auxílio”, diz o perfil do grupo no Facebook.
Entre os integrantes deste conselho estão os ex-presidentes Joel Malucelli, João Jacob Mehl, Jair Cirino dos Santos, Sérgio Prosdócimo, Edison Mauad, Francisco Araújo, Giovani Gionédis, Marcos Hauer e Vílson Ribeiro de Andrade. Domingos Moro, falecido no mês passado, também era do Consultivo, assim como José Fernando Macedo, Tico Fontoura, Omar Akel, Cleverson Marinho Teixeira e o “Flecha Loira” Dirceu Krüger. Nomes ainda muito influentes no clube.
Agora, voltou a ser cada um por si. Da forma que a imensa maioria queria, o que pode apontar que foi a pressão popular que abortou a ideia. E se nas últimas semanas o que se tratou foi da união dos dirigentes, fundamental para peitar todo mundo e garantir a transmissão do Atletiba na internet, a conclusão agora é que a Arena Trio de Ferro empacou por conta de outra união, esta informal – a união das torcidas.
Confira a nota oficial do Coritiba:
A diretoria administrativa do Coritiba Foot Ball Club vem a público esclarecer informações pertinentes ao patrimônio coxa-branca e projetos de melhorias e/ou ampliações do Estádio Couto Pereira, assim como desmentir publicações a respeito de um projeto de arena com outras equipes.
Durante seus 107 anos de história, o Coritiba construiu um patrimônio particular com trabalho de seus torcedores, sócios e dirigentes e recursos próprios. Esta diretoria mantém como objetivo esta tradição para realizar os avanços e ampliações, assim como o desenvolvimento de qualquer projeto referente aos nossos bens.
Todos nossos esforços são no sentido de manter o Couto Pereira apto a receber grandes eventos, sejam partidas de futebol, atividade fim do estádio, ou outros espetáculos como alternativas de geração de receita. Há o trabalho contínuo da diretoria administrativa, do Conselho Deliberativo e comissão de patrimônio neste sentido. Todos estes órgãos são regularmente informados e consultados sobre qualquer mudança.
Ainda ressaltamos, não há, em hipótese alguma, a alternativa do Coritiba investir em outro espaço além do Couto Pereira como estádio e casa da torcida coritibana. A informação que circulou nas últimas semanas referente a uma arena conjunta com outras equipes da capital não é uma opção desta diretoria.
Todos os planos para obras que venham a causar algum tipo de mudança vultuosa em nosso patrimônio serão sempre levados adiante somente com os devidos estudos de viabilidade, com a segurança financeira, equipe totalmente qualificada para desenvolvimento e o respaldo dos órgãos de gestão já mencionados neste comunicado.