A chuva fina que cai sobre o concreto do imenso prédio não impede que Steve esteja às 7 horas da manhã na porta de uma das maiores prisões dos Estados Unidos, à espera de encontrar um de seus filhos. Com 78 anos, ele escreve em um caderno os versículos da Bíblia que vai repassar com o menino condenado. “Hoje vou falar sobre a rocha que permanece inabalável diante das dificuldades da vida”, disse.
Steve é um dos tantos familiares que aguardam o dia de visita no Centro de Detenção Metropolitana do Brooklyn. Na espera, todos eram imigrantes de descendência latina, asiática ou negra, um espelho da disparidade social que existe nos Estados Unidos.
Sob a mesma condição estão os parentes de José Maria Marin, ex-presidente da CBF e responsável pela Copa de 2014, além de ex-governador de São Paulo (1982/1983). No pequeno espaço reservado aos visitantes que aguardam, celulares com salsa ou cumbia dão a trilha sonora de um local que mistura crianças, mulheres de maquiagem caprichada, mães, muçulmanos com longas barbas e homens com correntes douradas penduradas no pescoço. A espera da visita no presídio é árdua.
As conversas misturam lamentos de saudades dos países de origem, reclamações sobre o corte de luz da casa, desemprego e relatos de choro de filhos de pai preso. Alguns trazem dinheiro para pagar pela refeição ao lado de quem vão visitar. José Maria Marin é um preso como qualquer outro, mesmo aos 85 anos.
Quem não precisa esperar são os seus advogados. Na última segunda-feira, repassaram com José Maria Marin a estratégia da defesa e o atualizaram sobre o processo. Segundo relatos, ele estaria impactado pelas condições da carceragem, mas está lúcido e com saúde.
O presídio à beira da Upper Bay ficou conhecido entre parentes dos presos como a “Abu Ghraib do Brooklyn”, uma referência aos locais de tortura do exército norte-americano no Iraque. Há cerca de 10 anos, investigações revelaram o abuso de policiais contra presos.
No ano passado, três prisioneiras denunciaram abusos sexuais por parte dos policiais da prisão. Em janeiro, um deles foi condenado por cometer quatro estupros dentro do local que hoje conta com 1,8 mil prisioneiros – 3% de mulheres. Em 2016, uma juíza federal afirmou que não enviaria mais detentas para a prisão onde está José Maria Marin. Seu argumento: o local parece ser de “um país de terceiro mundo”. “Aqui é um armazém de pessoas”, disse ao Estado uma senhora da Guatemala, que aguardava para ver o marido preso.
A vista a partir das celas é limitada. No Centro de Detenção Metropolitana do Brooklyn, as janelas são pequenas frestas, sempre embaçadas. A posição de algumas celas permite ver a Estátua da Liberdade. Na rua, cartazes foram colocados com mensagens de amor para aqueles que cumprem pena.
Advogados de outros condenados da mesma ala de José Maria Marin dizem que as regras da prisão são claras. Há uma chamada às 6 horas da manhã. O café é servido uma hora depois. Cabe ao preso fazer a sua própria cama. Marin é obrigado a varrer a sua cela, tirar o lixo e garantir que ela esteja limpa. Seu armário precisa estar arrumado, sob pena de punição, como qualquer outro.
Com o número de registro #86356053, ele pode usar apenas as roupas da prisão e, se quiser comprar outros itens em uma pequena loja, tem a chance de ter acesso a malhas brancas ou cinzas.
Sem um pátio ao ar livre, José Maria Marin toma sol no teto da prisão. Ele e os demais presos. As ligações telefônicas são reguladas e a internet, proibida. No início de abril, Marin saberá a sua pena. Seus advogados informam que não comentarão a sua situação até o encerramento do processo.