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Presidente de comitê irlandês negociou com revendedor ilegal, diz polícia

O Núcleo de Apoio aos Grandes Eventos (Nage) da Polícia Civil descobriu troca de e-mails entre o presidente do Comitê Olímpico da Irlanda, Patrick Hickey, e Marcus Evans, dono da THG, empresa que vendeu ingressos para a Olimpíada a preços abusivos. Em e-mail datado do dia 3 deste mês, Hickey afirma para Evans que pode lhe repassar pelo menos 30 ingressos destinados à família olímpica irlandesa para assistir a cerimônia de abertura.

Eles combinam que os ingressos seriam retirados por Kevin Mallon, funcionário da THG e representante da Pro10, empresa criada em abril do ano passado, segundo a Polícia Civil, para maquiar o repasse dos ingressos para a THG, que não conseguira autorização do Comitê Rio-2016 para a revenda de ingressos. A negativa se deveu à participação da empresa na venda ilegal de ingressos da Copa do Mundo de 2014.

Os policiais descobriram que a THG chegou a vender ingressos para a cerimônia de abertura da Olimpíada por U$ 8 mil, cerca de R$ 25 mil – o valor correto seria de R$ 1.400. Segundo o delegado Ricardo Barbosa, titular da Delegacia de Defraudações, a empresa usava um programa falso de hospitalidade, com recepções e transporte até os eventos, a fim de disfarçar os preços abusivos.

“Está muito claro que o comitê irlandês facilitou a indicação da Pro10 para revender os ingressos e repassá-los à THG. A análise do material dos e-mails confirma que Patrick Hickey estava em contato direto com o Marcus Evans, diretor THG, grande organizador desse esquema criminoso”, disse Barbosa.

Hickey e Mallon estão presos no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, zona oeste do Rio. Os policiais encontraram mais de mil ingressos com o grupo, para os eventos mais requisitados da Olimpíada, como a cerimônia de abertura e a final do futebol masculino.

Para os policiais, Hickey admitiu que trocou mensagens com Evans, mas com o único intuito de pedir que o empresário esclarecesse os fatos, livrando-o das suspeitas. O irlandês também é membro do Comitê Olímpico Internacional (COI). “Ele também nos disse que conhece Evans desde a Olimpíada de Londres, em 2012, quando seu filho trabalhou para o empresário. Vimos trocas de e-mails semanais deles desde 2010. O vínculo entre os dois está bem claro para nós”, disse o delegado assistente Aloysio Falcão. A THG já foi a revendedora oficial de ingressos do comitê em outras edições da Olimpíada.

Hickey argumentou que a escolha da THG e depois da Pro10 para revender os ingressos do comitê irlandês foi tomada por todos os 13 diretores executivos do conselho. Isso fez com que os agentes da Nage também pedissem para ouvir seis membros que estavam no Brasil. O grupo só conseguiu achar Kevin Kilty, chefe de missão da Irlanda; Dermot Henihan, secretário-geral honorário do comitê; e Stephen Martins, diretor executivo do conselho.

Eles tiveram os passaportes apreendidos pela polícia e proibidos de deixar o Brasil. Com o grupo foram recolhidos 228 ingressos, que estavam dentro de um cofre. “Sabemos que cada atleta tem direito a dois ingressos para a modalidade que compete. Por isso, vamos averiguar de quem seriam estes ingressos”, disse Barbosa.

Henihan foi ouvido nesta terça feira pela Polícia Civil, que descartou sua participação no esquema, pois teria comprovado exercer apenas funções burocráticas no comitê e não na tomada de decisões. Ele terá o passaporte devolvido. Os outros dois irlandeses serão ouvidos na próxima quinta feira, pois seus advogados pediram para ter acesso aos autos. O esquema renderia R$ 10 milhões ao grupo.

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