Neco Varella / Futura Press |
Fernando Carvalho está preocupado: além do Inter, Flu e Corinthians também podem ter jogos anulados. |
São Paulo – As duas comissões criadas pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva para avaliar quais partidas do Campeonato Brasileiro serão anuladas provocam polêmica entre os dirigentes dos 14 clubes envolvidos nos 11 jogos apitados por Edílson Pereira de Carvalho.
Nessa hora, cada um cuida do seu próprio interesse. Um dos mais preocupados é o presidente do Internacional, Fernando Carvalho. Atual líder do Brasileiro, com 51 pontos, o Inter venceu o Coritiba, por 3 a 2, no dia 21 de agosto, numa partida apitada por Edílson. ?O Coritiba pode ter suas queixas, mas também temos as nossas. O árbitro não influiu no resultado, esse jogo não precisaria ser repetido?, disse Carvalho, ontem, à Rádio Gaúcha. A preocupação dos gaúchos não se restringem apenas aos pontos ganhos do Coritiba. Corinthians e Fluminense, seus concorrentes diretos, perderam pontos em jogos apitados por Edílson.
O Figueirense tem dois jogos sob suspeita: vitória e derrota. A posição do clube é de cautela. ?Vamos aguardar a manifestação do STJD?, disse o presidente Norton Boppré. ?Mas a partida contra o Vasco (derrota por 2 a 1, no dia 7 de agosto) deveria ser repetida pelas próprias denúncias da revista Veja. Agora, o jogo contra o Juventude (vitória por 4 a 1, no dia 24 de julho) não precisaria porque o próprio juiz admitiu que não conseguiu alterar o resultado.?
?Não é hora de os clubes olharem as suas individualidades?, pediu Walter Dal Zotto Júnior, presidente do Juventude. ?O certo era anular os 11 jogos ou manter os resultados dos 11?, sugeriu. ?Como alguém pode afirmar que o juiz foi mal-intencionado num lance?? As duas comissões criadas pelo presidente do STJD Luiz Zveiter, a 1.ª formada por árbitros e a segunda por auditores, já começaram a trabalhar e devem apresentar o resultado dentro de uma semana a dez dias.
O presidente do Brasiliense, Luiz Estevão, foi irônico. ?O curioso é que o árbitro desonesto (Edílson) fez menos do que juízes ditos honestos que erram e definem resultados com seus erros?, disse o dirigente que criticou dois juízes: Héber Roberto Lopes (PR) e Wagner Tardelli (RJ). ?Das 28 partidas do Brasiliense, fomos prejudicados em pelo menos dez?, reclamou o ex-senador cassado.
PF já tem identidade de intermediário
São Paulo – O promotor Roberto Porto revelou ontem que o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e a Polícia Federal já sabem a identidade do responsável pela intermediação entre árbitros e empresários na chamada máfia do apito. Até agora, ele é conhecido apenas como Wanderlei.
Roberto Porto não quis, porém, revelar quem seria. ?Não podemos adiantar o nome ainda, mas já temos a identificação e ele vai ser ouvido?, avisou o promotor.
Ele também informou que o próximo árbitro a ser ouvido será Romildo Correia. Ele foi citado no depoimento de Edílson Pereira de Carvalho como um dos juízes que teriam sido aliciados por Wanderlei.
A investigação do Ministério Público, entretanto, não constatou o envolvimento de Romildo Correia. ?Acho natural que ele seja ouvido, por ter sido mencionado e não por estar envolvido no esquema?, analisou o promotor. Romildo Correia negou a participação no esquema e disse que foi procurado por Wanderlei em setembro de 2004, mas que se negou a recebê-lo. O árbitro disse, ainda, que irá processar Edílson Pereira de Carvalho por ter sido citado no depoimento.
As investigações ainda devem se estender por tempo indeterminado. Roberto Porto não delimitou um prazo para o fim da apuração. ?Temos pressa, mas ainda não dá para se limitar um prazo?, avisou.
Segundo ele, ainda há vários depoimentos a serem requeridos, mas não especificou de quem. ?Existem pessoas que ainda não têm sua participação comprovada, mas que podem estar envolvidas no esquema?, revelou o promotor.
Procon diz que torcedor deve aguardar
São Paulo – O torcedor que se sentiu prejudicado pela ação de Edílson Pereira de Carvalho terá de esperar para exigir indenização. O Procon de São Paulo informa que o Código de Defesa do Consumidor protege as pessoas que compraram ingresso para os jogos do Brasileirão envolvidos no escândalo, mas orienta os usuários a aguardar a decisão do STJD antes de procurar a entidade.
O Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), ligado ao Ministério da Justiça, deve manifestar-se hoje.
O Procon informa que sua ação dependerá do parecer do STJD, que deve não só apontar se houve manipulação de resultados mas determinar como o campeonato será conduzido até sua conclusão. Ou seja, decidirá se alguns jogos serão disputados novamente, de que maneira a torcida poderá acompanhá-los e se as pessoas que compareceram na primeira partida terão direito a ressarcimento do valor do ingresso.