De Letra

Postura de Peres gera dúvida sobre transparência no Santos, diz Marcelo Teixeira

Em campo, o Santos terminou 2019 de uma forma satisfatória: ficou com a segunda colocação do Campeonato Brasileiro, tendo goleado o campeão Flamengo por 4 a 0 na última rodada. Fora das quatro linhas, porém, o cenário no clube tem sido bastante conturbado ao longo deste ano. A gestão do presidente José Carlos Peres acumula polêmicas desde que foi eleita no fim de 2017. Houve contas reprovadas, processo de impeachment rejeitado, racha entre Peres e o vice Orlando Rollo e algumas denúncias de falta de transparência.

Para o presidente do Conselho Deliberativo do Santos, Marcelo Teixeira, que comandou o clube de 1991 a 1993 e de 2000 a 2009, a demora de Peres para responder solicitações do órgão geram dúvidas sobre a transparência na gestão. A última polêmica aconteceu por causa do uso indevido do cartão corporativo. O próprio Peres admitiu o erro e reembolsou o clube.

“Houve uma demora na apresentação dos demonstrativos, dos extratos do cartão corporativo. O Conselho Fiscal insistia, mas não eram enviados, e isso gerou uma série de dúvidas e questionamentos devido à demora. Depois, foi entregue parte desses extratos, o Conselho Fiscal apontou despesas que não eram referentes ao clube. Diante disso, o presidente se entendeu com o Conselho Fiscal e se comprometeu a ressarcir. O Conselho Fiscal continua avaliando essas questões”, afirmou Marcelo Teixeira, em entrevista ao Estado.

Ao ser questionado se achava a gestão Peres transparente, Marcelo Teixeira pensou por alguns segundos para responder e tentou se esquivar. No entanto, indicou que a demora de o presidente se posicionar em alguns assuntos gera dúvidas.

“Difícil essa pergunta. O grande problema que não conseguimos entender a razão é a demora muitas vezes para responder e para se posicionar diante daquilo que é questionado. Isso gera um descontentamento do Conselho Fiscal e ao mesmo tempo começa a gerar dúvidas. A própria gestão precisa ter uma estrutura capaz de conseguir responder de uma forma mais rápida”, opinou.

Com sua influência política no clube, Marcelo Teixeira tem conversado com conselheiros e possíveis candidatos para a eleição para presidente no fim de 2020. Ele disse não saber se tentará comandar o Santos novamente ou se apoiará outra pessoa no pleito. A quase um ano para o pleito, Marcelo Teixeira falou que o momento é de “união” no clube.

“O que eu pretendo é, se possível, unir o alvinegros idealistas que possam de fato formar um grupo independentemente do nome do candidato. Esse nome pode vir no momento eleitoral. Hoje, muito mais importante do que o nome do candidato, é a união das pessoas. Tenho conversado com algumas pessoas e me surpreendido com essas conversas. Há pessoas me ligando, estão sentindo esse momento do clube que é preciso de união. A partir do começo do ano que vem acho que é hora de intensificar isso”, projetou.

Confira outros trechos da entrevista:

Já tinha visto um momento político tão conturbado no clube?
O Santos já teve momentos difíceis assim. É que hoje, com o que a gente percebe, existe uma série de grupos políticos envolvidos que nem sempre têm o objetivo da crítica construtiva. Você pode ser oposição, mas ter uma postura que seja crítica construtiva, com posições divergentes. Existe uma parte, que é minoria, mas existe, no intuito sempre de conturbar o ambiente do clube. Esse ambiente conturbado é decorrente também desses grupos políticos.

O que acha de até mesmo jogadores e outros profissionais criticarem o Peres?
Esses posicionamentos não são comuns. Não é uma situação normal em nenhum segmento, é uma quebra de respeito de hierarquia. Podem fazer manifestação, mas dentro de um ambiente interno, que se faça nos departamentos com os profissionais que sejam responsáveis por isso. É desagradável para a imagem do clube.

Acha que a imagem do clube está manchada?
É muito precipitado falar de mancha na imagem por causa de uma gestão.

O que fazer para o Peres responder os requerimentos dos conselheiros?
Ele responde parte, não é que ele não responda. Temos recebido do Comitê de Gestão algumas respostas referentes a requerimentos dos conselheiros. Outros encaminhamentos não responderam. A mesa do Conselho Deliberativo refaz o ofício e solicita as respostas em um período breve. É isso que estamos fazendo para tentar agilizar.

O que precisa mudar na política do clube?
É imprescindível ter união, um propósito de deixar as vaidades e outras questões de lado. Temos que trazer pessoas que tenham realmente boas intenções. Até 2009, existiam duas correntes políticas no clube: a do MT (Marcelo Teixeira) e contrária ao Marcelo Teixeira. Depois da mudança de estatuto, passou a ter a possibilidade de ter em uma única eleição vários grupos que façam parte do Conselho Deliberativo. Isso é muito ruim, porque você entra com o grupo vencedor e outros dois ou três que fizeram o mínimo do porcentual (20%). Então fica um grupo da situação contra os outros opositores. Apesar de lutarmos pela democracia, esse tipo de critério é prejudicial. Claro que precisa ter um grupo opositor, mas na proporção atual fica muito difícil fazer a gestão. Sou a favor de colocar as duas chapas mais bem votadas no conselho.

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