São Paulo – A Portuguesa não sobrevive a mais uma queda no futebol brasileiro, como se desenha até agora pela campanha pífia que faz na série B do campeonato brasileiro. Em último lugar num torneio em que os quatro piores descem uma divisão, a equipe tem mais 12 partidas para se safar.
Trata-se de uma das mais espinhosas tarefas dos últimos anos da agonia lusitana. É trabalho tão árduo que mesmo uma vitória nesta sexta sobre o líder Náutico não tira o clube da lanterna da Segundona.
?Durmo todos os dias assombrado pelo rebaixamento. Se a Portuguesa cair para a terceira divisão será o fim?, prevê o presidente do clube, Manuel da Lupa, apontado por rivais políticos como o responsável por tudo de ruim do clube.
Os três próximos meses serão decisivos na história do clube, fundado em agosto de 1920 e que já teve em suas fileiras jogadores como Djalma Santos, Julinho Botelho, Servílio, Ivair, Enéas, Dener, Zé Roberto e tantos outros que contam a história do futebol nacional, cada qual em sua época. Na opinião do presidente é o fim da Lusa que está em jogo. É sua sobrevivência que sobe a campo com o elenco.
O fraco desempenho da equipe é apenas a ponta do iceberg de uma condição de dar pena. ?Quando cheguei aqui, em janeiro de 2005, não havia água para beber, os banheiros eram sujos, as duas peruas do time estavam uma no cavalete e outra presa no Detran, os pneus dos ônibus estavam carecas. Era o caos?, conta Manuel da Lupa. ?O time não existia. Não havia dinheiro. Tive de formar um grupo de baciada. Nenhum jogador queria atuar na Portuguesa, pois sabia que não receberia seu pagamento em dia.?
O presidente começou do zero. Foi se ajeitando e se livrando dos problemas. Fez dinheiro (R$ 7 milhões) com a venda de Celsinho para o Lokomotiv de Moscou e graças a ele tem sobrevida financeira até o fim desta temporada. A folha de pagamento do clube – incluindo funcionários do Canindé e jogadores do time – é de R$ 400 mil por mês.
?Pago em dia e todos os atletas sabem disso. Por isso é que cobro, por isso é que falo de boca cheia que eles poderiam correr um pouco mais. Não aceito a derrota de 4 a 0 para o Marília, sem briga, sem brilho, sem vergonha. Mas sei que os meninos estão cientes da situação e se esforçando. Sou presidente, não entro em campo, não jogo bola. Tenho fé que escaparemos?, diz o cartola, com mandato até dezembro de 2007. ?E vou cumpri-lo.?
No meio da conversa, Manuel da Lupa admite, porém, que se a Lusa cair, ele não terá condições políticas de seguir no cargo. ?Se cair, a Lusa fecha as portas?, diz.
Advogado e especialista no ramo de imóveis, Manuel da Lupa não tira dinheiro do bolso para socorrer o clube. O socorro vem do Banco Banif, que adiantou o dinheiro da venda de Celsinho (feita em três parcelas) e ainda mantém forte ligação financeira com o clube do Canindé.
Para não deixar as burras vazias, a Portuguesa vai costurando acordos e fazendo malabarismo para arrecadar um trocado. O aluguel do Canindé para eventos – religiosos, como cultos, e profanos, como bingos – é hoje a maior fonte de renda.
As bilheterias dos jogos são confiscadas pela Justiça do Trabalho. As ações trabalhistas giram atualmente em torno de R$ 100 milhões. ?Mas se tivesse R$ 40 milhões acertaria tudo. Assumi essa encrenca de gestões passadas?, jura Da Lupa.
Existe ainda um acerto em andamento com o Corinthians. O time do Parque São Jorge bancaria as reformas exigidas pelo Contru, que interditou parte do Canindé, e teria em troca o estádio à sua disposição. ?A idéia é que eles usem o campo na sul-americana e Paulista. Com R$ 150 mil tudo seria feito.?
O presidente conta envergonhado que até os fios de cobre do pára-raios do Canindé foram roubados.
Foco no time
Nada disso terá utilidade se a equipe não reagir. Precisa vencer pelo menos seis das 12 partidas que lhe restam na série B. No começo da temporada, Palmeiras, Corinthians e São Paulo acenaram com uma ajuda. O Palmeiras emprestou o zagueiro Leonardo Silva. E paga parte do seu salário. O time tricolor ficou de mandar Flávio Donizete. Não mandou. E do Corinthians era para vir Dinelson. Não veio.
?Todos falam em ajudar, mas na hora do vamos ver somem. Entrei no Refis do governo pela terceira vez. Não vamos à FPF porque o custo do seu dinheiro é alto. A grande verdade é que 2006 tem sido uma desgraça. E agora nosso destino está em campo, nos pés dos atletas.?