Alfredo Taunay comanda todos os sessenta monitores que mostram imagens simultâneas. |
Quando senta na poltrona e liga seu televisor domingo à tarde, o torcedor quer saber da produção dos jogadores de seu time, do comportamento do técnico e das decisões do árbitro. Mas quase nunca ele se dá conta que, para acompanhar cada instante da partida, há um enorme aparato por trás das câmeras. Para levar um jogo de futebol ao vivo para os lares brasileiros, as televisões começam a trabalhar dois dias antes, com um contingente que chega a 60 profissionais. A Tribuna acompanhou ontem, de dentro do caminhão de controle da TV Globo, toda a agitação e o estresse da transmissão para todo o Brasil inteiro de Atlético x Corinthians.
O trabalho começou já na sexta-feira, quando os dois caminhões da emissora – um de controle e outro somente para execução das artes gráficas, como escalação, resultados dos outros jogos e publicidade -chegaram à Kyocera Arena, vindos de São Paulo. A primeira tarefa é instalar quilômetros de cabos que ligam as câmeras e os microfones às centrais de controle. No sábado, todo o equipamento é testado – se apresentar problema, há tempo de fazer os reparos necessários.
No dia do jogo, a equipe chega cinco horas antes do início. Tudo tem que funcionar perfeitamente, e novos testes são feitos – no sistema de áudio, nas gruas que ficam atrás dos gols e novamente nas 18 câmeras.
O ?cérebro? é a central de controle, com uma infinidade de botões e telas que parece incompreensível. Dois homens -o produtor executivo Alfredo Taunay e o diretor de imagem Ricardo Giovaneti – coordenam a transmissão através de 60 monitores que mostram imagens simultâneas.
O jogo
Pouco antes da partida são gravadas tomadas da torcida e outros detalhes, que serão exibidos na abertura da transmissão. Começa o jogo, e tudo o que vai ao ar passa pelas mãos de Giovaneti, que com um toque de botão muda a câmera de acordo com o andamento da jogada.
Taunay, chefe da equipe, coordena todos os monitores. Ele tenta captar as melhores tomadas, recupera imagens ?perdidas?, pede para os câmeras observarem a movimentação no banco de reservas, da torcida e de tudo o que envolve a partida. Quando há alteração, por exemplo, um dos câmeras é designado a acompanhar o jogador que entra em campo, para que o departamento de arte entre em ação e ponha na tela o nome do substituído e do substituto.
Durante a partida há comunicação constante com a cabine do narrador e dos comentaristas. ?Captamos aqui um lance duvidoso e avisamos o comentarista de arbitragem, para que ele analise o replay?, exemplica Taunay.
O jogo chega ao fim, mas não o trabalho. Os operadores de videoteipe preparam um clipe com os melhores momentos do jogo, que serão mostrados mais tarde na programação normal. Enquanto isso, os técnicos começam a recolher o material, tarefa que só termina às 22 horas.
Equipe técnica sempre torce pra terminar 0 a 0
O momento de maior tensão de uma transmissão é o gol. ?O pessoal da parte técnica torce para que todo jogo seja 0 a 0. Às vezes cada gol nos envelhece dez anos?, diz Alfredo Taunay, que comanda transmissões ao vivo desde 1985 e já trabalhou em quatro Copas do Mundo. Imediatamente após as redes balançarem, os gritos dos coordenadores ecoam dentro do caminhão, avisando para os cinco operadores de replay prepararem a repetição do lance, nos melhores ângulos disponíveis. Enquanto isso, o diretor de imagens não desgruda da comemoração dos jogadores, da torcida e do recomeço da partida. Tudo é decidido em questão de segundos.
O gol define também a seqüências das próximas imagens. Depois que Fabrício abriu o placar para o Atlético, o coordenador orientou os câmeras do gramado a focalizar o ?sofrimento? da torcida corintiana – o mesmo procedimento, porém, não foi adotado quando Atlético perdia o jogo. Toda a tensão do jogo não permite envolvimento emocional – mesmo com vários corintianos dentro do caminhão de controle, a comemoração dos gols da equipe foi tímida e contida.
Torcida
O experiente Taunay conta que a Arena e o Pinheirão oferecem boas condições de trabalho. No Couto Pereira, o problema é a iluminação deficiente, que tem que ser ?compensada? eletronicamente. Mas há locais complicados, como o Serra Dourada, que exige cabos mais compridos pela longa distância entre o caminhão e o gramado. No Moisés Lucarelli (estádio da Ponte Preta), na Vila Belmiro e no Parque Antártica, o desafio é a torcida. ?Quando o time da casa perde, ouvimos de tudo?, conta o produtor.