Não tinha tristeza!

Por onde passava, Comel enchia a Tribuna de alegria

Quando soube que eu era de Ponta Grossa, Nelson Comel estrilou: “outro”? Naquela época – idos de 1995 -, a redação da Tribuna, Paraná Online e de O Estado do Paraná fervilhava de conterrâneos. Mas o que nos aproximou mesmo foi o “Uh, Caldeirão!”  grito de guerra da torcida do Atlético, que se transformou na nossa saudação. O Furacão era o time do coração do veterano jornalista e bastava ele me ver na redação e já bradava o “uh!”. Não deixava passar em branco, ao ponto de me causar arrependimento, já que havia me tornado vítima de uma brincadeira que eu mesmo criei.

Quando eu estava meio cabisbaixo pelas coisas da vida ou assoberbado pelas tarefas diárias da edição na Tribuna, o Comel não queria saber: ao passar pela minha mesa mandava o indefectível “uh!” e se não recebesse resposta ficava insistindo pelo tempo que fosse para a diversão da editora Sueli Saeko, que dividia o espaço comigo. Impressionante como uma pessoa já com o peso dos anos nas costas não se importava em brincar, enfim dava ouvidos às besteiras dos mais jovens e participava de tudo com a maior vivacidade.

No Natal do ano passado o Gerson Klaina, o “Bambu”, foi buscá-lo para conhecer a nova redação da Tribuna. Comel subiu as escadas com dificuldades, se apoiando em uma bengala, algo impensável há poucos anos, pois sempre demonstrou uma saúde de ferro. Era um multitarefas: escrevia as matérias do Peladão Tribuna, ao mesmo tempo que cuidava das inscrições – com a ajuda da esposa Dona Leoni-, e das festas de premiação do certame (sempre cabia mais um!), sem descuidar das pescarias na represa do Capivari, do “grumicho” no bar do Popadiuk (uma vez por semana por sorteio, um grupo de amigos oferecia um banquete no bar), além das edições mensais de O Passarinho, jornal católico editado por ele.

A grande diferença que nós sentimos foi que nessa última visita para ouvi-lo era preciso ficar próximo, porque o vozeirão característico havia sumido. Ele sussurrava, mas mesmo com os problemas de saúde, demonstrava alegria em rever os companheiros de redação. Entreguei um exemplar da Tribuna que continha um artigo que mencionava o velho Comel, uma divertida história sobre Heloísa, a amante de Abelardo. Vibrou com a lembrança, não sem antes se penitenciar por não ter lido: “Como eu não vi se leio Tribuna todo dia?”, se perguntou.

Mas se fosse para contar todas as histórias envolvendo o “véio louco”, como era carinhosamente chamado, dava para encher um livro pelo menos. Quando a redação ficava meio quieta ele bradava “exatamente”, com aquela voz de trovão. O termo era a senha de que lá vinha alguma piada que o Comel havia pescado da memória.

No inverno, ele anunciava com uma semana de antecedência a sessão do pinhão. No dia marcado, estacionava sua Ranger no pátio da editora e chamava a galera para ajudar a descarregar o panelão. Sem brincadeira, era um tacho daqueles que usam no Exército para alimentar a tropa. O caldeirão fumegante era colocado numa mesa no centro da redação e o Comel chamava todos para comer. “Está uma delícia, foram sete horas de fogo”, exagerava. A gente brincava que ele deveria ter uma siderúrgica em casa. Sem contar que era um pinhão especial: “Este pinhão é da minha casa, sem agrotóxico”, dizia em tom de galhofa. De fato, o solitário pé de pinheiro ainda enfeita a frente do casarão da Carlos de Carvalho, mas seu ilustre dono já não faz mais a propaganda dos saborosos frutos que se tornaram eternos.

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