Um esquema de compra e venda de ingressos da Copa do Mundo, entranhado na Fifa e estendido até a seleção brasileira, foi desarticulado nesta terça-feira em operação da Polícia Civil do Rio. Acusado de ser o líder da quadrilha, o franco-argelino Lamine Fofana andava de carro oficial da entidade no Rio e tinha trânsito livre pelos eventos do Mundial, inclusive no luxuoso Hotel Copacabana Palace, onde está hospedada a cúpula da Fifa.

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O grupo teria agido nas últimas quatro edições da Copa e, segundo a polícia, tinha “potencial” para lucrar R$ 200 milhões somente com o Mundial do Brasil. A quadrilha conseguia os ingressos, inclusive de camarote, das mais variadas formas: com a própria Fifa, com delegações de seleções, comprando de torcedores e também de ONGs que recebiam gratuitamente as entradas.

Na operação policial denominada “Jules Rimet”, que apreendeu cerca de 130 ingressos da Copa – nenhum deles falsificado, de acordo com a polícia -, foram encontrados 10 bilhetes em nome da “Comissão Técnica da Seleção Brasileira”.

A operação pegou de surpresa toda a cúpula da Fifa e abriu uma crise interna. A entidade vem insistindo que luta contra o mercado ilegal. Nas últimas semanas, seus diretores têm concedido entrevistas alertando que não tolerariam o mercado negro e que estavam dispostos a ações duras.

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Fontes dentro da entidade revelaram que a polícia do Rio jamais informou que estava investigando o caso, mesmo com a existência de um acordo entre o departamento de segurança da entidade e as forças públicas para lidar com cambistas de uma forma “coordenada”.

“Como até o momento a Fifa ainda não foi contatada pelas autoridades locais nem recebeu informações oficiais sobre o assunto, não estamos em posição de fazer qualquer comentário por enquanto”, declarou o departamento de imprensa da entidade.

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ESQUEMA – O acusado de ser líder da quadrilha, com residência em Dubai, foi preso na manhã desta terça-feira no apartamento de três quartos que alugou num condomínio de luxo na Barra da Tijuca, no Rio. “Tenho elementos suficientes para entender que ele estaria associado a algum membro da Fifa”, disse o delegado Fábio Barucke, da 18ª DP (Praça da Bandeira), responsável pela investigação. “O quartel general dele é o Copacabana Palace. Ele só vai lá para pegar os ingressos”, disse um dos agentes que participou da operação.

Com o franco-argelino Lamine Fofana, foram apreendidos vários ingressos de camarotes da Match Hospitality, única empresa autorizada pela Fifa a revender e negociar esses pacotes. Os bilhetes estavam em nome das empresas Pamodzi Sports Marketing, Atlanta Sportif International, Jet Set Sports e Reliance Industries Ltd.

CAMBISTAS – Segundo as investigações, as margens de lucro da quadrilha variavam de 200% a 1.000%. “Só no jogo entre Brasil e Camarões, eles lucraram R$ 500 mil com a venda de 22 ingressos”, contou o delegado Fábio Barucke. Para a final da Copa, no dia 13 de julho, no Maracanã, planejavam obter R$ 35 mil com a venda de um só ingresso, de arquibancada.

O único estrangeiro entre os detidos é Lamine Fofana. Os demais foram presos no Rio (oito) e em São Paulo (dois, entre eles o suposto braço direito do franco-argelino no Brasil, Jorge Massih, que é empresário do jogador Elano). Os presos serão indiciados pelos crimes de “cambismo” com associação criminosa e lavagem de dinheiro, com penas que podem chegar a 18 anos de prisão, se puramente somadas. As investigações continuam e a polícia disse estar próxima de identificar e prender pelo menos outros sete integrantes da quadrilha.