A Polícia Civil baixou ontem na Federação Paranaense de Futebol (FPF). Pela manhã, a sede da entidade recebeu a visita de oficiais de justiça e de policiais do Núcleo de Repressão contra Crimes Econômicos (Nurce), que levaram pilhas de documentos referentes à empresa Comfiar. A entidade paralela à administração da FPF é suspeita de ser pivô de desvios de verbas com fins de sonegação fiscal.
Presidida por Cyrus Itiberê da Cunha e sob supervisão do presidente licenciado Onaiveres Moura, a Comissão Fiscalizadora de Arrecadação (Comfiar) foi criada em 1994 como um braço da FPF. Mas desde o ano passado a entidade virou empresa ?independente?, com CNPJ e tudo, e recebe verbas anteriormente depositadas diretamente na conta FPF, como os direitos de transmissão do Campeonato Paranaense e parte das rendas dos jogos -conforme uma das denúncias do Superior Tribunal de Justiça Desportiva – STJD que renderam suspensão a Moura.
Thiago Trentini/SECS/Lucimar do Carmo |
Vinícius Gasparini, defende a federação. |
De acordo com o delegado Robson Barreto, do Nurce, há a suspeita de que Moura tenha dado personalidade jurídica à Comfiar para não pagar os credores da Federação, já que quase todo o dinheiro da entidade é penhorado judicialmente por causa de inúmeras dívidas. A FPF tem direito a 10% das rendas de jogos de competições estaduais e 10% nos torneios estaduais, mas há indícios de que metade destes valores era repassado à Comfiar. Barreto afirma que o presidente licenciado da FPF é suspeito de fraude contra credores, apropriação indébita e sonegação fiscal. Moura já rebateu a acusação, dizendo que todo o valor da renda era penhorado – portanto, seria impossível fazer tal divisão.
A investigação da relação FPF-Comfiar começou em maio após denúncias veiculadas pela imprensa, segundo o delegado. O Nurce, que tem status semelhante ao de uma delegacia de polícia, pediu à Justiça o mandado de busca e apreensão porque a FFP demorou em enviar os balancetes, atas, listas de funcionários e outros documentos solicitados. ?Faremos auditoria nos documentos para acelerar as investigações?, disse Barreto, que ainda não indiciou nenhum suspeito. O advogado da FPF, Vinícius Gasparini, disse que a entidade deixou todos os arquivos à disposição da polícia.
Documentos evaporaram
Os documentos apreendidos ontem pelo Núcleo de Repressão contra Crimes Econômicos (Nurce) embasam a investigação na FPF, mas outras fontes serão procuradas pela polícia.
Nas últimas semanas, caixas de documentos foram retirados da sede da entidade, no Tarumã – uma prática pouco comum. O Nurce deverá apurar que fim tiveram esses papéis e os motivos do ?desaparecimento?. A polícia já havia solicitado a entrega voluntária dos documentos, mas não foi atendida – daí o pedido do mandado de busca e apreensão. O advogado da FPF, Vinícius Gasparini, alegou que o afastamento de alguns funcionários da entidade pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva atrapalhou a entrega dos documentos.
O delegado-adjunto do Nurce, Robson Barreto, preferiu não dar detalhes da investigação, como a possibilidade de indiciamento criminal de Moura ou outros dirigentes da FPF.