Ao desembarcar em Curitiba, onde foi recebida com grande festa, Daiane dos Santos garantiu que ainda não há nada decidido sobre uma possível cirurgia no joelho direito. "Tem um mal-entendido nisso", afirmou a ginasta de 21 anos, referindo-se às informações de que seria operada em janeiro.
Daiane chegou a ficar nervosa com as questões sobre a cirurgia, que ela própria tinha anunciado, ainda na Inglaterra, antes de ganhar a medalha de ouro na prova de solo da grande final da Copa do Mundo de Ginástica, domingo, em Birmingham.
"De novo. Mais uma vez. Já foi falado", repetia a ginasta, enquanto a pergunta sobre a cirurgia era formulada. "Falam tanto nisso que já está me irritando."
Segundo Daiane, não houve nenhuma afirmativa ao repórter que lhe perguntou em Birmingham, na Inglaterra, sobre a cirurgia. "Disse que podia ser que sim ou que não", acentuou. "Isso tem que ser decidido entre mim, o médico e o treinador." A coordenadora de seleções da Confederação Brasileira de Ginástica (CBGin), Eliane Martins, tomou a palavra para dizer que a possibilidade de nova cirurgia já tinha sido levantada pelo ortopedista Mário Namba, quando este realizou a intervenção antes da Olimpíada de Atenas para remover pedaços de cartilagem do joelho direito de Daiane.
"O médico disse que mais tarde deveria ter uma nova intervenção para que, no futuro, ela não venha a ter problemas mais sérios no joelho, quando ficar mais velha, problemas de artrose", afirmou Eliane Martins. "A decisão de fazer em janeiro não foi comentada, não foi nada decidido."
Eliane acredita que essa cirurgia possa ser feita até mesmo depois que Daiane tenha parado de competir. "Não é para amanhã, nem para o mês que vem. Temos que conversar sobre a melhor opção", explicou.
O ortopedista Mário Namba estava em consultas nesta terça-feira e não deu retorno à ligação telefônica da reportagem da Agência Estado.
Assunto recorrente
Mesmo pedindo para que o assunto não fosse mais comentado, a própria Daiane voltou a falar sobre os problemas médicos. "O que eu quero é apenas que meu joelho não doa mais", afirmou a ginasta. "Agora ele está ótimo, não está incomodando. A polêmica tem que ser deixada para quando for fazer (a cirurgia). Quando for fazer, eu vou falar para todo mundo. Se for bom para mim, ótimo. Se não for, fazer o quê?"
Festa
No Aeroporto Afonso Pena, em Curitiba, Daiane foi recebida por cerca de 100 pessoas, a maioria suas colegas de ginástica. "Daiane, 9.712 vezes parabéns", dizia uma faixa, lembrando a nota recebida na apresentação que lhe deu ouro em Birmingham.
De lá, ela seguiu em um carro do Corpo de Bombeiros, percorrendo as principais ruas da cidade e sendo aplaudida pelos curitibanos. Até mesmo uma bandinha comandada por um palhaço foi saudá-la, tocando Brasileirinho, música de sua coreografia.
Para Daiane, o sucesso na Copa do Mundo deve-se ao maior tempo de treino em relação ao que teve para a Olimpíada de Atenas, quando vinha de uma cirurgia. "A evolução da ginástica brasileira tem um nome: trabalho", repetiu várias vezes. "Foi o trabalho da família da ginástica brasileira."
Segundo ela, hoje o Brasil não deve nada aos países considerados mais desenvolvidos na ginástica, como Romênia e Rússia. "Trabalhamos igual a eles", garantiu. Mas ressaltou que isso será uma exigência a mais para as futuras ginastas brasileiras. "A nova geração é boa, tem melhor estrutura, mas vai ter que trabalhar mais, porque cada vez a arbitragem vai exigir mais", alertou Daiane. "Vão exigir mais porque o Brasil não vai apenas para competir, mas para lutar por medalhas."