Há um duelo interno e mudo na Ferrari. Mudo porque um dos duelistas, Kimi Raikkonen, já não é mesmo de falar muito. E o outro, Felipe Massa, não escancara a pressão que vem vivendo desde domingo passado, quando terminou o GP da Malásia em quinto lugar e viu seu companheiro abrir nove pontos de vantagem na classificação.
Felipe adota o discurso de que nada do que acontecer hoje e amanhã, no Bahrein, será definitivo na decisão que a Ferrari, cedo ou tarde ? mais provavelmente cedo ?, terá de tomar no que diz respeito às condições de cada um na equipe. Falando mais claramente: qual dos dois receberá tratamento de primeiro piloto ao longo da temporada.
Por primeiro piloto, não se entenda ?prejudicar o segundo?. Em times grandes, a posição significa prioridade em algumas situações, como a escolha da estratégia de corrida, do papel de escudeiro a ser desempenhado por um dos dois e até eventuais trocas de posição, dependendo das circunstâncias de uma corrida.
Com Fernando Alonso, da rival McLaren, já na liderança depois de duas etapas, e o vislumbre de que este será um mundial apertadíssimo, a Ferrari informalmente espera pelo fim do tour pela Ásia e pela Oceania para redigir seu script para 2007. Se Kimi chegar muito à frente de Massa ao início da temporada européia, é nele que serão concentrados os esforços de Maranello.
Por isso, Felipe tem grande necessidade, hoje, de andar melhor que o finlandês no treino que define o grid de largada para o GP do Bahrein. A sessão começa às 8h de Brasília. Ontem, Raikkonen foi o mais rápido nos dois treinos livres, começando melhor o fim de semana bareninta.
Massa não se abalou muito. ?Fiquei feliz com o trabalho que fizemos e meu carro parece muito consistente. Mas precisamos melhorar um pouco nas voltas lançadas?, falou, prevendo dificuldades na classificação. Kimi, de poucas palavras, nem elogiou, nem criticou o desempenho da F2007. Preferiu resmungar contra a sujeira na pista, cheia de areia, e o vento do deserto. ?Estava difícil de guiar?, disse.
Lewis Hamilton, o estreante-sensação da temporada, fechou o dia ontem com o segundo tempo. Robert Kubica, da ascendente BMW Sauber, ficou em terceiro, com Massa em quarto e Alonso em quinto. ?Vai ser uma disputa muito apertada, mas temos tudo para andar bem no treino e na corrida?, espera Felipe. Ele sabe que se não conseguir, é bom começar a se preparar para amargar uma incômoda posição de segundo piloto.
Por isso, o Bahrein ganhou uma importância inesperada na temporada do brasileiro. Se ele tem de marcar uma data para reagir no campeonato, é hoje. E, principalmente, amanhã, nas 57 voltas da corrida.