A Copa do Mundo se transformou em um evento caro demais, e a Fifa precisa rever o custos de seus megaeventos. Quem faz o alerta é o vice-presidente da Fifa e presidente da Uefa, Michel Platini. Em entrevista exclusiva, o francês defende que o orçamento, que triplicou em sete anos, seja investigado.
O ex-jogador deixa claro que seleções sem condições mentais e físicas adequadas sofrerão e que está cada vez menor a diferença entre os países que tradicionalmente foram potências e os demais. Platini vai decidir se será candidato a presidente da Fifa em setembro. As eleições ocorrem em 2015, e Joseph Blatter já indicou que vai participar. Abaixo, os principais trechos da entrevista:
Agência Estado – A qualidade dos jogos no Brasil é muito alta. O que mudou desde 2010 no futebol? Por que tantos gols marcados nesta Copa?
Michel Platini – Tenho dito, há algum tempo, que a qualidade do futebol ofensivo em nossas competições na Europa é extraordinária, com um número maior de times jogando para ganhar e marcar gols, em vez de jogar para não perder. Já que muitos jogadores atuam na Europa, não me surpreende que o mesmo ocorra no Mundial.
Agência Estado – Grandes seleções, como Espanha, Inglaterra e Itália, foram eliminadas na primeira fase. O que isso mostra?
Michel Platini – O nível geral dos times na Copa é mais alto que no passado e existe uma diferença menor entre as seleções grandes e as pequenas. Isso significa que países do topo podem ser eliminados se não estiverem em boa forma física ou mental. Talvez seja isso que esteja ocorrendo com alguns deles.
Agência Estado – Existe hoje uma atmosfera de festa no Brasil. Como se explica a redução dos protestos?
Michel Platini – Houve ainda alguns pequenos protestos, e eu acredito que as pessoas têm o direito de se expressar, se o fizerem de forma pacífica. Respeito isso de forma integral. Mas tenho de dizer que fiquei satisfeito em ver que as pessoas abraçaram a Copa e o futebol incrível que está sendo jogado. Sabe, eu me lembro de jogar no Maracanã pela primeira vez em 1977 e foi uma ocasião especial para mim, por causa da atmosfera mágica no Brasil.
Agência Estado – Como vê a seleção brasileira? Alguns dizem que estamos muito dependentes de Neymar.
Michel Platini – Não existe nenhum grande time sem grandes jogadores e não existem grandes jogadores sem um grande time. Você poderia dizer o mesmo sobre a Argentina, dependendo muito de Messi, e Portugal, com Cristiano Ronaldo. Neymar é uma estrela e é normal que as seleções tenham alguma dependência de suas estrelas.
Agência Estado – Qual sua avaliação sobre a preparação do Brasil para a Copa? A festa está nas ruas, mas custou três vezes mais que o esperado. Isso deve ser investigado?
Michel Platini – Não estive no Brasil durante a preparação, mas sei que houve muitos atrasos com os estádios e outras infraestruturas. Sobre os custos, se eles foram muito maiores que o esperado, então acho que o povo deve saber por que isso ocorreu.
Agência Estado – Quais lições o Brasil ensina para a Fifa no futuro?
Michel Platini – Eu acho que um volume grande demais de dinheiro está sendo gasto na organização de torneios como a Copa e acho que isso precisa ser examinado no futuro.
Agência Estado – Doze sedes como tivemos no Brasil é um número bom para uma Copa?
Michel Platini – É o país-sede que escolhe as cidades que recebem os jogos. Muitas cidades querem participar e, no final, é complicado, porque isso acaba se tornando uma decisão política.
Agência Estado – Teve impacto negativo o fato de as seleções viajarem tanto pelo País?
Michel Platini – O Brasil é um país grande. Sinto que as seleções devem rodar entre muitas cidades para dar a mais pessoas, em um número maior de regiões, a chance de as assistir.
Agência Estado – O que achou da tecnologia para determinar se a bola cruzou a linha do gol?
Michel Platini – Ela foi aprovada pelo Conselho Internacional, e a Fifa decidiu usá-la neste torneio. Não tivemos muitos casos duvidosos até agora, mas acredito que funcionou bem. Existe a possibilidade de que possamos utilizá-la na Eurocopa de 2016 também. Devo dizer que sinto que deveríamos ter mais árbitros assistentes na Copa do Mundo, trabalhando ao lado da Goal Line Technology.