Entre 1995 e 2011, o Brasil e o mundo mudaram muito. O Atlético idem. Há 16 anos, Mário Celso Petraglia liderava um grupo que revolucionou o clube. Agora, ele retorna ao comando rubro-negro, mas dissociado dos chamados “notáveis”. O cenário não é diferente apenas na vida política do Furacão, mas na política local e nacional, na economia do país e no modelo de gestão do futebol brasileiro. São desafios que se apresentam a Petraglia, dos quais ele já andou reclamando. “Pela nossa experiência de vida, nos negamos pagar os absurdos valores que treinadores brasileiros estão pedindo. Loucura! Sem nexo, sem base, sem razão, os valores alcançaram patamares loucos para jogadores e comissão técnica, precisamos rever”, afirmou ele, por meio de seu twitter oficial.

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No Atlético, e no contexto em que está envolvido o clube, dá para afirmar que há uma única coincidência, além do próprio Petraglia: o fato de, como em 1995, ele ter encontrado o Furacão na Série B. Já economicamente, o país vive uma outra realidade. Se há 16 anos o real ainda engatinhava, hoje é uma das moedas mais fortes do planeta, o que dificulta, por exemplo, vender jogadores, mas facilita importar. A ponto de Petraglia ter preferido trazer uma comissão técnica uruguaia. “O intuito é sair do atual ciclo vicioso do mercado brasileiro para a consequente mudança de cultura e de comportamentos. Ciclo este que foi detectado após as negociações com profissionais brasileiros que supervalorizam seus honorários sem querer assumir riscos ou responsabilidades sobre os resultados em campo. Dentro deste perfil, anunciamos a comissão técnica toda formada por profissionais uruguaios”, justificou, no site oficial do clube.

Se mudou a economia, mudou também a política brasileira. Em 1995, Fernando Henrique Cardoso assumia o seu primeiro mandato como presidente do Brasil, cargo que ocupou até o final de 2002. A partir de 2003, com Lula, o PT foi quem passou a administrar o país. No Paraná, Jaime Lerner era o governador quando Petraglia assumiu o Atlético – período em que, coincidentemente, o clube deu seu salto de qualidade, entre 1995 e 2002. Depois, Roberto Requião passou a ocupar o governo estadual, que agora tem no comando Beto Richa. Se há coincidências nesse aspecto, é que Petraglia sempre foi próximo do poder.

Poder que ele aprendeu a desfrutar na internet. Para voltar à presidência do Atlético, Petraglia fez quase toda a sua campanha calcada nas redes sociais. Em 1995, algo que era impensável. Há 16 anos, ninguém nem sonhava em ter um computador com internet em casa, muito menos se comunicar via MSN, Facebook ou Twitter. Foi através destas mídias que o atual presidente minou a administração Marcos Malucelli, que ele cunho de “adm+chuteiras”.

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Desde 2008, Petraglia foi seguido diuturnamente na internet, desancando os que elegeu como “inimigos” ou então atualizando os torcedores de plantão a respeito de negociações de jogadores e como estava a administração atleticana, utilizando-se de informações privilegiadas. “Dizer que agora assume o futebol para tentar salvar a queda, além de leviana a declaração, imputa a todos os seus subordinados a responsabilidade das decisões fracassadas desta gestão adm+chuteiras!”, disparou Petraglia, em seu perfil no Facebook.

Por outro lado, a internet – agora com Petraglia de volta ao poder rubro-negro – pode fazê-lo experimentar do mesmo veneno. Se em 1995 era mais fácil blindar os bastidores de um clube, pois apenas jornais e emissoras de rádio e televisão eram as fontes de notícias, hoje as redes sociais amplificam as cobranças à diretoria, as campanhas contra técnicos, os pedidos de reforços ou até antecipam negociações.

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Série B profissional

Se o mundo mudou, mudou também o futebol. O calendário brasileiro está mais organizado, com competições no seu devido tempo, com data para começar e terminar. A Série B, por exemplo, agora é vista dentro de um cenário nacional como um torneio capaz até de dar lucro. Em 1995, a competição era o fundo do poço. Havia pouca visibilidade e a maioria de seus par,ticipantes hoje se encaixaria na Série D, seja pela estrutura que possuíam, seja pelas condições dos estádios em que mandavam seus jogos.

Em 1995 também não existia a Lei Pelé – criada em 1998 -, que hoje coloca os jogadores nas mãos de empresários, o que dificulta algumas contratações. Na época, os direitos dos atletas pertenciam totalmente aos clubes pelos quais eles jogavam, não acarretando tantos problemas nas negociações e até rendendo mais dinheiro para os cofres das equipes. Mas neste quesito, Petraglia não irá requerer adaptações. Ele fez do Atlético um dos clubes que melhor soube negociar jogadores desde a Lei Pelé, ainda que algumas cercadas de polêmicas.