Mundial 2014

Petraglia fala sobre impasse da Copa na Arena da Baixada

Mário Celso Petraglia, ex-presidente do Atlético e idealizador da Arena da Baixada, pode ser considerado o personagem que mais batalhou pela Copa do Mundo em Curitiba.

Mas, alijado pela atual diretoria do clube, se vê afastado do processo. Em entrevista ao Paraná Online, ele conta um pouco do que pensa sobre o impasse na viabilidade econômica da Arena e sobre o que a capital perde se não for palco da Copa 2014.

Como o senhor vê as negociações para viabilizar e garantir a Arena da Baixada na Copa de 2014?

Mário Celso Petraglia – A garantia existe desde maio de 2009, quando Curitiba foi incluída e o estádio indicado foi a Arena. Desde então, o governo do estado, a prefeitura e o Atlético Paranaense não deram desenvolvimento aos trabalhos na velocidade e nos níveis necessários.

Paraná Online –

Quinze meses se passaram e estamos mais ou menos na mesma situação. Agora as fichas estão caindo. Seria lamentável que um estado como o nosso, com uma das principais capitais do Brasil, ficasse de fora da Copa.

O valor necessário é 20% do que outras capitais estão gastando. Não teria nenhum sentido. Vejo com apreensão, mas acredito que de forma lenta, gradual, quase se arrastando, chegaremos a um final feliz.

Paraná Online – Parece que agora as coisas estão um pouco mais definidas. Por que demorou tanto?

Petraglia – Não vejo agora mais definidas. Está como em 31 de maio de 2009. As pessoas envolvidas hoje não tinham as informações para dar continuidade. Poderíamos estar com o estádio em andamento.

Construímos a Arena em 18 meses, sem dinheiro. Como é que para a conclusão, para a Copa do Mundo, em 15 meses não fizemos nada? Não quero parecer presunçoso, mas agora começam a ter informações que já tínhamos.

Paraná Online – Muita gente não compreende a importância da Copa para o Atlético e vê as exigências da Fifa como ônus.

Petraglia – Acho que é má-vontade, é maldade. Não pode qualquer ser humano, dentro de suas faculdades mentais, ver algum ponto contrário à vinda da Copa e à conclusão da Arena Fifa na vida do Atlético.

Idealizamos e construímos o estádio em 1997. Já temos que trocar o telhado, melhorar a iluminação, concluir a outra parte… Com a Copa, o Atlético terá facilidade de resolver todos esses problemas e ainda agregar 50 a 80 milhões de reais a seu patrimônio.

O valor que o Atlético que gastaria para concluir a Arena a está dentro de seu nível de necessidades. O que vejo como falta de habilidade da atual direção do clube é não liderar isso, para que aconteça o mais rápido possível.

E o prejuízo que o clube terá por se ausentar da sua praça de esporte terá que ser tratado com inteligência. No Couto Pereira, teremos condição de ampliar já nosso quadro associativo de 20 mil para cerca de 40 mil.

Com isso o clube vai aumentar suas receitas e não diminuí-las. Claro, temos aí um prejuízo técnico, ao sair da Arena, com sua mística. Mas o Atlético tem tradição nisso. Sempre jogou em todos os estádios.

O Couto Pereira era nossa casa. Quando desmontamos a velha Baixada, o Atlético jogou no Pinheirão, na Vila Capanema.! Esse será um novo salto de qualidade na nossa história, a oportunidade da nossa vida. Não podemos jogar na lata do lixo.

Paraná Online – O mercado brasileiro do futebol deve chegar a receitas de R$ 3 bilhões em 2014. Participar da Copa é uma forma de ter uma fatia maior desse crescimento?

Petraglia – O valor agregado para o futebol paranaense e para o Atlét,ico é muito difícil mensurar. Tive a oportunidade de estudar uma consultoria contratada pelo Atlético… Um negócio ridículo, primário.

Não levaram em conta nenhuma receita e crescimento futuro. Para se ter condições de uma análise, teríamos que fazer um estudo com projeção no mínimo de 15 anos, que é o período do financiamento.

Quando chegamos ao Atlético, em 1995, nossas receitas eram de R$ 6 milhões por ano. Hoje são R$ 60 milhões… Cresceram dez vezes. Claro que a receita não crescerá dez vezes de novo, mas no mínimo dobrará. Com um investimento de R$ 30 milhões em 15 anos.

Sabíamos que o BNDES não financia clubes. Precisamos de alguém que tome esse financiamento e repasse ao Atlético. Quando eu disse que tinha que ir ao BNDES correndo e pegar o dinheiro, não falei que seria o Atlético. Nem que o Atlético quisesse.

Tomar o empréstimo é uma coisa. A responsabilidade de pagá-lo é outra. O Atlético ficará responsável pela sua parte. Se for R$ 30 milhões, o Atlético pagará R$ 2 milhões por ano, em 15 anos, mais juros.

E a prefeitura, o estado ou qualquer que seja o responsável garantirá a outra parte. Agora, não buscar o financiamento, não se preocupar em viabilizar… Isso é o que tem me deixado triste. Temos as melhores condições, a mais fácil solução, um dos mais baratos estádios, na melhor cidade brasileira e estamos perdidos por causa de tostões.

Paraná Online –
Fala-se muito que o senhor teria interesse pessoal na vinda da Copa para Curitiba. Tem negócios ligados ao Mundial?

Petraglia – Os investimentos públicos e privados, diretos ou indiretos, nesses anos, até 2015, ultrapassarão R$ 200 bilhões. Como um empresário como eu, que tenho vários negócios, não terei interesse na Copa? Claro.

Agora, ter interesse não quer dizer que serão negócios escusos. É só olhar o Atlético. Nós fornecemos a cobertura, as cadeiras e várias coisas das nossas empresas a preço de custo. Que negócio é esse?

Aqui, dentro do Atlético, é de paixão. Fora do clube, se vier o metrô amanhã para Curitiba, nossas empresas estão diretamente envolvidas nesses negócios. Seria crime que viéssemos a fornecer, se vencêssemos a concorrência?

É uma deformação, uma maldade. Por isso me afastei. Mesmo depois de ter feito tudo o que fiz, de construir o que jamais alguém fez, não só para o Atlético, mas para qualquer clube, ainda há almas invejosas que dizem que foi interesse pessoal… É maldade de invejosos e é muito triste conviver com isso. Qualquer um que tenha negócios em Curitiba tem interesse na vinda da Copa. Nem que seja para vender pipoca na esquina ou vuvuzela no sinaleiro.

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