Orlando Kissner
Tico Fontoura bate o pé e
promete ir até o fim para
ser considerado o vencedor.

O Coritiba vive um momento de suspense. E de imobilismo, por conta do imbróglio eleitoral. A oposição entrou com um recurso para impugnar nove votos e, por conseqüência, ser declarada vencedora da eleição realizada segunda-feira. Além desta hipótese, o Conselho de Administração pode suspender o pleito por completo, zerando a situação e tendo que marcar nova data para a escolha da Diretoria Executiva. O presidente Giovani Gionédis conta com a negativa do recurso para seguir trabalhando, mas inevitavelmente o processo de reformulação do futebol ficou estacionado – pelo menos neste final de semana.

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Isto porque uma negociação de divisão de poder segue, mesmo com chances remotas. José Antônio Fontoura, candidato derrotado na segunda, confia na aprovação do recurso e por isso tende a não aceitar a proposta de coalizão feita por Gionédis. Falou-se, inclusive, na possibilidade de Tico assumir o departamento de futebol – o que obrigaria o presidente a dispensar ao menos um dos novos responsáveis do setor, no caso o diretor Almir Zanchi. ?Isto seria errado, as pessoas foram apresentadas há dois dias?, reconhece Fontoura.

Já Gionédis segue apostando no resultado da segunda. ?Eu sou o vencedor. A eleição foi limpa, não houve problemas e refletiu o posicionamento da grande maioria dos conselheiros. E a prova da correção do processo está nos resultados. A oposição venceu no Conselho de Administração e tem a maioria das cadeiras do Conselho Fiscal?, afirma o presidente, que não quer falar sobre o recurso apresentado ontem. ?Não pretendo ficar transformando o clube em um local de batalha jurídica?, resume.

O recurso foi recebido pelo presidente do Conselho de Administração Júlio Militão da Silva, e dele parte para os responsáveis pela eleição e, caso necessário, para o voto dos conselheiros. Apesar de ligado à oposição, Militão será o ?magistrado? da história. ?Tenho certeza que haverá uma decisão justa, qualquer que seja?, afirma Tico Fontoura.

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Mas o certo é que o Coritiba sofre com a disputa, que a princípio reúne duas vertentes que não pensam em acordo. O anúncio do departamento de futebol, que deixou claro que não tomaria nenhuma decisão nesta semana, transparece uma preocupação com o atual momento político do clube. Almir Zanchi, Odivonsir Frega e José Hidalgo Neto seguem trabalhando (eles ficaram reunidos durante a tarde de ontem), mas também se obrigam a esperar o desenrolar da situação.

E se os responsáveis pelo futebol não tomam (ou não podem tomar) decisões, todo o trabalho da comissão técnica e das possíveis renovações fica parado. O técnico Márcio Araújo, o auxiliar Nilton Santana e o preparador de goleiros Luiz Henrique seguiram ontem para São Paulo, mas não sabem se haverá definição na segunda-feira. É provável que aconteça, até para não confirmar uma paralisação no Alto da Glória. Já as renovações podem ser adiadas. ?Nós vamos ter que deixar a poeira baixar. Até agora, ninguém conversou com a gente?, resume o capitão Reginaldo Nascimento, que em 31 de dezembro não é mais jogador do Cori.

?Missão impossível?

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A conversa do assessor da presidência do Coritiba, José Hidalgo Neto, durante almoço ontem no restaurante Colibri, preocupou um torcedor coxa-branca que, de ouvidos atentos, saboreava um espetinho em uma mesa próxima. O amante do clube, ainda abalado pela queda do time pra segunda divisão, ouviu a seguinte afirmação na mesa ao lado: ?Se subirem apenas dois, nós não subimos (sic)?.

O torcedor saiu preocupado e, antes de chegar à porta, perguntou a outro conhecido. ?Se diz que não subiremos por que assumiu? Que saia já, então!?, reclamou o torcedor.

Hidalgo, vestido de camisa verde e calças pretas como manda o figurino de eleição recente, estava acompanhado do cronista esportivo Carneiro Neto e de uma terceira pessoa, que não foi reconhecida pelo fanático coxa-branca.

Ainda no restaurante, o assessor da presidência atendeu a um telefonema da produção da CNT que solicitava uma entrevista. Susto maior do coxa-branca da mesa vizinha foi o tom de chamada do celular do novo integrante do estafe coxa-branca, marcado pela melodia inusitada de Missão Impossível, tema do filme estrelado por Tom Cruise.

A música é de responsabilidade de Danny Elfman e Lalo Schifrin.

No telefonema com a CNT, o ex-meia verde e branco da década de 70 cumprimentou o jornalista Dorival Crispim e passou a falar da missão que irá desempenhar no Coritiba. No papo, nenhuma informação sobre a preocupação da não-subida do verdão caso haja apenas duas vagas, muito embora a proposta hoje seja a de que quatro times voltem à divisão de elite do Brasileirão.

Ao celular, Hidalgo pediu aos amigos da emissora que aumentassem o retorno de áudio e disse que está trabalhando num projeto. ?Num projeto de reestruturação.? Aproveitou a deixa e ressaltou o empenho do presidente reeleito, Giovani Gionédis, no saneamento das dívidas do clube. ?Tanto é que ninguém atacou este trabalho?, frisou o assessor direto de GG. Ele comentou ainda no plural que o ocaso da queda ?são coisas que embora não estivessem nos planos acontecem no futebol?, e repetiu: ?um patrimônio forte é a base para o crescimento do clube?, referindo-se aos investimentos de Gionédis. Para que os que testemunharam a conversa não desanimassem de vez, ao menos uma informação foi salva no telefonema. A de que foi alto o gasto do Coritiba com o elenco e comissão técnica, responsáveis pelo descenso. Resta saber se alguém se beneficiou do dito custo-benefício, ou melhor, malefício.

De toda uma conversa do almoço de uma sexta-feira, 9, com clima de sexta-feira, 13, entendida em parte por ouvidos espichados à mesa ao lado, restam alguns esclarecimentos à fidelíssima torcida coxa-branca.

Há caixa suficiente para montar um time que possa trazer o Coritiba novamente à primeira divisão, independentemente do número de vagas disponíveis e do regulamento, se pontos corridos, ou no molde que trouxe o Grêmio e o Santa Cruz?

Se não houver caixa, ímpeto e competência, serve de sugestão o tema de alerta do celular de Hidalgo para ser cantado em prosa e verso pela torcida alviverde no Couto Pereira. Outro alerta é para que conversas deste tipo, que podem preocupar muita gente, sejam feitas em ambiente mais reservado, em vez de um restaurante público.