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Pelé vê ataque do Brasil depender ‘de um só jogador’

Pouco tempo antes do início da Copa do Mundo, Pelé voltou a se manifestar para dizer que não quer ver Neymar carregando toda responsabilidade na seleção que lutará pelo hexacampeonato mundial. Mesmo assim, o melhor jogador de todos os tempos sabe que sem o bom futebol do jogador do Barcelona será difícil o Brasil vencer a Copa do Mundo em casa.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, durante evento promocional realizado pela Head & Shoulders em São Paulo, o ex-atleta disse esperar que o atacante desponte como craque a nível mundial e que a consequência do que ocorrer na Copa depois, quando Pelé poderá entregar a Bola de Ouro na eleição dos melhores jogadores do mundo na próxima edição da premiação promovida pela Fifa.

Estadão – Você vestiu a camisa 10 da seleção pela primeira vez ainda muito jovem, assim como o nosso camisa 10 do Mundial de 2014. É possível enxergar semelhanças?

Pelé – Foram momentos diferentes. Por coincidência, peguei esse número em um sorteio da CBD na época e logo de cara ganhei a camisa quando disputei a Copa Rocca e também na Copa de 1958, quando eu tinha só 17 anos. O Neymar já está com 22, e além disso, eu costumo brincar que até ali a camisa 10 era só um número, e que somente depois passou a ganhar muita importância, já que o jogador precisava ser realmente bom e ter muita confiança. Isso é tão nítido que pouca gente se lembra, mas na Copa de 1970, em que dizem que aquele Brasil foi a melhor seleção já vista até hoje, só o Jairzinho não era o 10 no seu time. O Rivellino era o número 10 no Corinthians, o Pelé era o 10 do Santos, o Tostão era o 10 do Cruzeiro e até o Gerson era o número 10 do Botafogo. E é por isso que aquela equipe deu certo.

Estadão – O Neymar já está preparado para assumir essa responsabilidade de ser protagonista?

Pelé – Eu acho que jogar esse peso de ser o protagonista em cima do Neymar é muito prematuro. O fato dele ser o camisa 10 não quer dizer que ele tem tanta experiência ou que jogue na seleção há muito tempo. Porém, uma coisa que foi boa para ele foi ter ido para o Barcelona. O nível do futebol europeu é alto, e para a seleção, para o Neymar e para nós do Brasil, foi ótimo porque ele chega com mais confiança.

Estadão – Para o Neymar ser o principal jogador e ganhar a Copa do Mundo, o que você acha que é preciso fazer de diferente em comparação com a última temporada?

Pelé – Antes dele sair do Santos, o que conversávamos com ele, era para tirar a preocupação dele não aceitar o jogo duro dos europeus, já que até mesmo aqui, antes de ele ir para a Espanha, o pessoal começou a chamá-lo de cai-cai. Na Copa do Mundo, o Neymar deve entender que ele é estrela do time, o jogador mais conhecido e que sempre terá um marcador em cima dele, como ficavam em cima de mim, do Zico, do Tostão, do Romário. Ele precisa ter um pouco de calma para não revidar. Em alguns jogos que nós vimos aqui da seleção ele se irritou um pouco e isso eu acho que deve ter em mente que não é bom para ele na Copa do Mundo.

Estadão – Você o vê como a única estrela da seleção brasileira para essa Copa?

Pelé – Essa obrigação que estão jogando em cima do Neymar de ganhar vai também por conta dessa geração. Por incrível que pareça, é a primeira vez na história do futebol brasileiro que o ataque está dependendo de um só jogador. O Brasil sempre foi um time grande nos Mundiais por causa do ataque, como Pelé, Garrincha, Vavá, Ronaldo e Romário. E agora me diga três da geração atual? Nós estamos falando do Neymar e do Fred, que é centroavante.

Estadão – Quem será o adversário mais difícil do Brasil?

Pelé – Têm seleções que têm mais nomes do que outras como Itália, Espanha, França, Brasil, Argentina, mas dentro do campo está muito nivelado. Pelo fato de jogarmos contra a Croácia, que é um adversário pouco conhecido, muita gente acha que o Brasil vai ganhar fácil. E podem ter uma surpresa porque é um jogo duro. A Croácia é um time de jogadores regulares e é muito bem organizada. Nós temos de entender e pôr na cabeça dos jogadores que não tem jogo fácil na Copa do Mundo. Outro fator é o que tem acontecido contra o México. Nos últimos jogos, inclusive na Olimpíada, a gente encontrou dificuldade contra eles, e isso pode afetar. Eu acho que, com essa preparação, com essa defesa que o Brasil tem hoje, é difícil a gente se preocupar em não se classificar ou ter uma surpresa nesse início de campeonato.

Estadão – A Copa do Mundo será muito mais difícil para o Brasil do que foi a Copa das Confederações?

Pelé – Sim. São equipes diferentes também. Copa das Confederações é um torneio em que o pessoal não leva muito a sério como uma Copa do Mundo, uma preparação de Copa do Mundo é bem diferente. São mais times, mas eu acho que foi bom para o Brasil porque ainda estava em preparação e era um time novo. Agora a Espanha que vimos foi uma Espanha que veio passeando, não veio focada como veio para o Campeonato Mundial.

Estadão – Você acredita que esta será a Copa do Neymar?

Pelé – O Neymar tem tudo para despontar nesta Copa. Ele está na Europa, na seleção brasileira, além disso é um garoto com boa formação física, com poucas lesões e esperamos que ele tenha uma longa carreira. Apesar disso, esta tem de ser a Copa do Brasil e não de um jogador só.

Estadão – Além dele, quem são os principais candidatos a melhor jogador do Mundial?

Pelé – É muito difícil citar um protagonista, mas por toda a expectativa, a gente coloca Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo com os favoritos, mesmo que possam surgir um ou outro jogador que possam surpreender a gente. A Alemanha vem com um ataque bom, a Argentina tem um ataque muito bom também. Pode surgir um ou outro jogador que possa surpreender a gente. Mas a possibilidade de quem tem mais experiência são o Messi, o Neymar, que está no Barcelona e com toda essa expectativa, e são os dois. O Cristiano Ronaldo é um jogador mais de gols, é o nosso Ronaldo, não é um jogador técnico, que vem de trás, que dribla, que passa. Ele pode ser o artilheiro, mas isso não quer dizer que ele será o melhor jogador da Copa.

Estadão – Se o Neymar for o melhor da Copa, ele desponta na briga para ser o melhor jogador do mundo?

Pelé – Acredito que sim. Eu faço parte da comissão (que elege a Bola de Ouro da Fifa) e infelizmente, nos últimos anos, teve só dois jogadores que ganharam o prêmio. Mas eu gostaria mesmo de estar entregando para os brasileiros. Vamos ver se este ano eu consigo entregar o prêmio de melhor do mundo para o Neymar.

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