Paulo Campos, um técnico das Arábias

 Fotos/ João de Noronha
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Paulo Campos entre os
jornalistas do Paraná-Online.

Paulo Campos apareceu praticamente do nada para o sucesso. Fez toda a carreira e a fama girando pelo futebol árabe. Desconhecido técnico do Iraty, apresentou-se ao Paraná Clube e conseguiu montar uma equipe competitiva com poucos recursos oferecidos. Perdeu o cargo no meio da temporada e voltou para salvar o time do rebaixamento. Para falar de sua longa experiência no futebol árabe e das primeiras impressões no mercado brasileiro, o treinador esteve com os jornalistas do Paraná-Online na churrascaria Tobias Grill, saboreando a inigualável "costela borboleta" e abrindo o jogo. 

Luiz Augusto Xavier: Como é praticamente começar uma carreira e, ser reconhecido no Brasil depois de tanto tempo de trabalho profissional fora?

paulocampos7261204.jpg"Estou me sentindo um verdadeiro jovem. Um jovem de 47 anos, começando minha carreira no Brasil. É uma experiência muito interessante."

Paulo Campos – Estou me sentindo um verdadeiro jovem. Um jovem de 47 anos, começando minha carreira no Brasil. É uma experiência muito interessante. Eu sou um jovem técnico, com uma larga experiência. Está sendo mole.

Cristian Toledo – E como foi essa experiência?

Paulo Campos – Como atleta, comecei jogando no dente de leite, aquela época do "bom na bola, bom na escola", em que a gente ganhava bicicleta quando se destacava. Eu sempre fui apaixonado por futebol, pois além de ter jogado futebol de campo também fui federado de futebol de salão e, por ser de Niterói, fui também federado no futebol de praia. Minha família inteira veio do futebol de praia. Meu irmão mais velho foi considerado, na década de 1960, o melhor jogador brasileiro de futebol de praia. No tempo em que o futebol de praia era jogado 11 contra 11, disputei até um campeonato brasileiro, em Tramandaí-RS. Eu sempre fui atleta, desde a época da escola, nos Jogos Infantis, representava minha escola em quase todas as modalidades: futebol, voleibol, basquete e, até, futebol de botão. Nasci para o futebol, nasci para o esporte, tanto que não foi surpresa nenhuma eu decidir fazer faculdade de educação física. Só que minha turma, a rapaziada com quem eu convivia, ria de mim por eu querer fazer educação física. Todo mundo querendo fazer engenharia, advocacia, medicina, eles diziam: "você vai fazer educação física, vai morrer de fome". Eu disse que não, pois existem profissionais e profissionais, assim como acreditava que eles seriam ótimos médicos, ótimos engenheiros, eu esperava ser um grande profissional da minha área. O que aconteceu? Eu me formei, fiz mestrado e fui chamado para ser professor na Gama Filho, tanto da graduação como da pós-graduação em futebol. Então, comecei a trabalhar com educação física com 20 anos. Fiquei até os 45 anos no exterior e voltei ao Brasil há dois anos, convidado pelo Lapolla (Sebastião), que era diretor do Palmeiras, para ser treinador do Palmeiras B. Uma semana depois, o Vanderlei Luxemburgo assumiu o Palmeiras A. Foi aí que começou a nossa amizade. Começamos a trabalhar em conjunto, eu no B, ele no A e meu time, só de garotos, foi campeão do primeiro turno da séria A3, batendo times tradicionais do futebol paulista, como Ferroviária, XV de Piracicaba, XV de Jaú e Noroeste. Daí o Luxemburgo subiu oito dos meus jogadores e depois o Jair Picerni subiu mais 5. Ou seja, dos meus 18 jogadores, 13 foram promovidos. São esses garotos que hoje estão aí: Vagner, Edmílson, Glauber, Alceu, Correia, entre outros.

Rodrigo Sell – Você seguiu uma carreira normal de jogador profissional?

Paulo Campos – Fui até o primeiro ano de júnior. Só que tive uma lesão em um jogo contra o Fluminense. Na decisão do Campeonato Carioca de Júnior, eu estava carregando a bola em velocidade, quando o Gilcimar, irmão do Gilson Gênio veio tentar roubar a bola e a trava da chuteira dele entrou e rompeu o tendão de aquiles do meu pé de apoio. Isso foi em 1975. Fiquei sete meses em tratamento, mas como não consegui me recuperar, o Vasco me convidou para estagiar, já que eu estudava educação física

Sell – Há alguma dificuldade em ser treinador de futebol para você que não jogou tanto?

Paulo Campos – Não, para mim foi mole. Eu sempre fui um apaixonado pelo futebol e, se não tive anos atuando como profissional, sempre convivi com o profissionalismo. Como comecei muito cedo como assistente, já estava focado muito mais em aprender do que em jogar. Foi uma grande lição para mim, ter que, desde garoto, focar meu aprendizado com profissionais.

Irapitan Costa – Hoje a gente vê muitos treinadores que são ex-treinadores e hoje criou-se uma mística de que isso dá resultado. Dá resultado?

Paulo Campos – Como que eu posso analisar isso? Se você tiver sido jogador, já sai com uma grande vantagem. Se você aliar essa prática a um estudo, ou seja, fazer um curso de educação física ou de técnico, aí eu garanto que você será um dos principais. Somente teoria não te leva a uma grande capacidade. Somente a prática também não. Você tem que ter as duas. Eu, por exemplo, em algumas situações de treinamento, gosto de demonstrar. E se a gente tiver teoria, além dessas demonstrações, isso nos dá um grande handicap.

Xavier – E para o jogador isso é importante também, ele quer testar o técnico…

paulocampos2261204.jpgPaulo Campos – Com certeza, ele te vê de outra maneira. Semanas atrás, antes do jogo com o Atlético-MG, eu e o Júlio (auxiliar técnico) fizemos 200 cruzamentos, e tudo na cabeça do atacante.

Cristian Toledo – Você falou dessa diferença da teoria e da prática e você viveu ali em 1975. Como era o trabalho dos treinadores naquele tempo, como foi seu aprendizado com esses técnicos?

Paulo Campos – Foi uma ótima escola, porque anos atrás o futebol que era valorizado no Brasil era o futebol arte. E eu peguei ainda um pouquinho daquele futebol arte, com a transição já para o futebol com especialistas, com preparação física. O Lopes foi o primeiro a me dar oportunidade no futebol profissional. Em 1978, eu era assistente de preparação física do júnior e assistia aos treinos do profissional e o Lopes era o assistente do preparador físico Djalma Cavalcanti. E quando o Vasco viajava, o Lopes ficava com aqueles jogadores que tinham ficado no Rio. E eu lá, na arquibancada, imaginando o dia em que eu estaria trabalhando com os profissionais. Até que um dia eu cheguei para ele: "professor Lopes, será que eu não poderia estagiar aqui com você nos profissionais?" E ele aceitou numa boa. Em 1979, o Lopes passa a ser preparador físico do Vasco e eu já sou contratado como assistente dele. Daí é contratado Oto Glória como técnico e o Lopes sai, então vem Raul Carlesso para ser preparador físico. Em julho de 1980, Oto Glória sai para treinar a seleção da Nigéria e vem Zagallo para treinar o Vasco. Quatro meses depois, Oto Glória me liga da Nigéria: "Você não quer começar tua carreira de treinador?". Eu com 23 anos disse: "O que é isso, como é que eu vou ser treinador?" E ele respondeu: "Você tem o perfil de técnico, você será técnico no futuro". Pensei, opa, quem disse isso foi o Oto Glória, um dos homens mais respeitados no futebol brasileiro. "Mas vai ter um monte de jogadores mais velhos do que eu", aí ele me provocou: "Você não se garante não?" Daí eu me garanti e embarquei. Casei em uma semana e embarquei. Namorava minha mulher há sete anos, mas nunca tínhamos dinheiro para casar. Quando recebi minha primeira proposta, quatro mil dólares, eu casei. Em uma semana eu decidi aceitar a proposta, casei e fui para a Nigéria.

Rubens Chueire Jr – E a adaptação lá, foi muito difícil?

paulocampos2261204.jpg"Na Nigéria teve cobra dentro de casa, faltava luz e água todos os dias, roubaram meu gerador, mas foram dois anos maravilhosos."

Paulo Campos – Foi muito difícil. Não de nossa parte, pois a gente foi querendo vencer, mas foi difícil porque, chegando lá, nós fomos morar numa oca, daí eu exigi uma casa melhor, senão voltaria para o Brasil, daí me puseram em uma casa perto do lixão. "Aqui eu não fico". Então eu fui para um hotel. Ficamos três meses no hotel, eu, minha mulher e minha cunhadinha de 12 anos, que foi junto porque a família da minha mulher ficou preocupada. Mas depois foi espetacular, foram dois anos maravilhosos. Ganhamos a primeira competição lá, que foi a copa do país e ficamos em segundo lugar no campeonato nacional. E eu garotão, 23 anos, querendo jogar, não queria me inscrever nas competições apenas como treinador queria jogar também. Mas foi espetacular: teve cobra dentro de casa, faltava luz e água todos os dias, roubaram meu gerador, mas foram dois anos maravilhosos: me chamavam de "Bacara", que no dialeto deles queria dizer branco. E onde eu passava era aquela gritaria "Bacara, Bacara". No ano seguinte fomos bicampeões da copa e quinto lugar no campeonato nacional, mas daí viemos embora, porque roubaram novamente minha casa, apareceu cobra venenosa lá, então resolvemos voltar. Mas foi um período iluminado, pois não tomamos remédio para malária e nunca pegamos a doença.

Irapitan – E depois da África, qual foi sua trajetória?

Paulo Campos – Da África eu voltei para o Brasil e o Lopes já era treinador do Vasco em 1983. Daí ele me convidou para ser seu assistente. Com três meses de Brasil, o Lopes foi convidado para a seleção do Kuwait, para substituir o Parreira, e quem que ele leva junto? Lá fui eu pro Kuwait. Aí ficamos um ano no Kuwait, daí fui para a Libéria, onde trabalhei com o George Weah, depois para a Arábia Saudita, daí para Gana, voltei para o Kuwait, fui para Emirados Árabes, para o Qatar, rodei 23 anos por esses sete países.

Irapitan – E como se forma uma família nessa correria toda.

Paulo Campos – Eu costumo dizer que me acho um protegido por Deus, porque montei uma família espetacular. Minha filha é um sonho. Simplicidade, correta, menina boa, é brincadeira. Minha mulher, braço direito sempre. Meu pai, falecido, era aquela alegria de viver, sempre sorrindo e meus irmãos mais velhos que me levaram para o futebol

Xavier – E como foi para a família esse vai e vem?

Paulo Campos – Minha filha, que hoje tem 19 anos, viveu comigo, lá fora, dos seis meses de idade aos 15 anos. Quando ela fez 15 anos, há quatro anos, eu dei de presente pra ela a vinda ao Brasil. Ela veio morar aqui com a mãe. Nesses 15 anos, ela estudou sempre nas escolas americanas dos países.

Irapitan – A gente percebe que há uma certa preferência por parte da CBF a profissionais do Rio de Janeiro. Você, por estar sempre em contato com esses principais nomes do Rio de Janeiro, não pensou em seguir esse caminho?

paulocampos3261204.jpgPaulo Campos – Não, embora eu tenha trabalhado na seleção sub-20 no ano passado. Mas eu não pensei em seleção porque eu ainda não tinha um nome forte aqui no Brasil, tudo o que eu tinha conquistado lá fora ainda não tinha aqui no Brasil. Quando voltei para o Brasil em 2002, foi minha primeira oportunidade em um clube grande, no Palmeiras. Fizemos um trabalho interessante e eu tive a oportunidade de trabalhar com o Américo Faria, que era diretor de futebol do Palmeiras. Em abril, ou maio, o Américo saiu, voltando para a CBF, para reorganizar a seleção que disputaria a Copa do Mundo. Em seguida, o Luxemburgo sai do Palmeiras, indo para o Cruzeiro, e me indica para substituí-lo na equipe principal do Palmeiras. Mas como a diretoria do clube estava chateada com o Luxemburgo, acabou me dispensando também. Quando soube que eu saí do Palmeiras, o Américo me chamou para trabalhar na CBF, como assistente da seleção sub-20, já que eu não tinha nome para assumir a seleção. Fizemos um trabalho muito bom na seleção, com o Valinhos de técnico. Quando acabou meu trabalho na seleção, voltei para o mundo Árabe, fui para o Qatar. Depois de ter sido campeão lá no Qatar, Luxemburgo me chamou para voltar ao Brasil, me indicando para o Sérgio Malucelli para ir para o Iraty, daí que começou minha carreira como técnico aqui no Paraná.

Xavier – Você não levou um susto em vir para o Iraty? Você conhecia alguma coisa sobre o clube que estavam te arrumando?

Paulo Campos – Não conhecia nada. Mas, quando estava no exterior eu pensava se não haveria um dia em que teria a oportunidade de trabalhar no meu país. Pensava em começar no Nordeste e ir descendo gradativamente. Todo mundo trabalhando, rodando por vários clubes e não surgia nenhuma oportunidade para mim. Até o Luxemburgo falar do Iraty, ele me disse que era um clube médio no Estado, mas com uma boa estrutura, boa mentalidade e um presidente sério, que eu teria condições de mostrar o meu trabalho. Por se tratar de uma indicação do Vanderlei, aceitei de olho fechado. Liguei para o Sérgio para tratar do contrato. Eu pedi X, ele me ofereceu X divididos por três. Eu sonhando que iria ganhar um salário que eu pudesse viver no Brasil, acostumado com os salários do exterior, daí o Sérgio me mostrou que a realidade aqui era outra, mas eu fui em frente.

Irapitan – Mais do que o Iraty, o que te passaram do futebol paranaense?

paulocampos3261204.jpg"Quando vim para o Sul do País, tentei trazer a minha magia carioca, da técnica, da criatividade, aliada à disciplina, profissionalismo, velocidade e força do Sul do Brasil. Foi o que tentei, deu certo no Iraty e muito mais certo no Paraná."

Paulo Campos – Não conhecia nada. Só sabia que, por se tratar do Sul, eu poderia usar muito da minha filosofia. Quando estou lá fora, tento levar para minha equipe a técnica brasileira, aliada à minha concepção de futebol moderno, com tática, disciplina e organização européia. Quando vim para o Sul do País, tentei trazer a minha magia carioca, da técnica, da criatividade, aliada à disciplina, profissionalismo, velocidade e força do Sul do Brasil. Foi o que tentei, deu certo no Iraty e muito mais certo no Paraná.

Cristian – E aí você estréia, no Couto Pereira, contra o Coritiba, que era o time da moda naquele momento, campeão invicto, na Libertadores, estreando um time novo e o Iraty passa por cima do Coritiba. Aquele jogo pode ter feito toda sua carreira de agora?

Paulo Campos – Aquilo foi "Papai do Céu", é aquele momento de iluminação que a gente tem. Como ia imaginar que aquela seria a única derrota do Coritiba na campanha do bicampeonato? Aquilo caiu do céu. Agora, modéstia à parte, essa vitória foi construída dias antes. Eu fui assistir um amistoso do Coritiba no domingo, a estréia era quarta-feira. Ali, o Lopes colocou toda a equipe titular para jogar. Eu vi tudo o que ia sair e nós trabalhamos só em cima daquele Coritiba que eu tinha visto. E, no jogo, aconteceu 99% do que eu tinha visto. Aí contamos com a sorte, com a compreensão e determinação dos garotos, deu certo. Não foi só aquilo, mas aqueles detalhes foram muito importantes.

Irapitan – Em um clube pequeno é mais fácil você preparar seu time para jogar de acordo com o adversário do que em um clube grande?

Paulo Campos – Quando você está em um clube grande, você tem, teoricamente, a obrigação de vencer. Então, primeiro, você tem que montar sua equipe. Se você conseguir colocar na cabeça de seus atletas que têm que jogar respeitando as características do adversário, perfeito, é líder. Quando você está em uma equipe menor, você tem que encontrar meios de fazer com que aquela equipe ultrapasse seu limite. Como você vai bater um time forte se você não tiver a resposta dos atletas? Você tem que fazer que eles ultrapassem o limite, tem horas que dá certo, tem horas que não. Mas eu gostaria muito mais de trabalhar em um time grande do que em um pequeno. Em time grande você tem mais qualidade, mais capacidade, mais estrutura. Montar time não é fácil não. Eu tenho facilidade em montar um time, tento simplificar ao máximo, não tenho um esquema tático pré-concebido, monto o time de acordo com as peças que eu tenho.

Cristian – O Paraná de hoje é um time que se movimenta, que tem uma variação de três homens no meio que fazem bem isso. Você considera essa movimentação a chave para a constância ofensiva?

paulocampos4261204.jpgPaulo Campos – No primeiro tempo do jogo contra o Fluminense, por exemplo, foi uma das atuações mais bonitas que eu já vi. O time jogou tecnicamente muito bem, com uma velocidade incrível, tanto pela direita quanto pela esquerda e muitas oportunidades foram criadas. Mas é que quando nós chegamos no Paraná, a partir do momento que eles iam me dando os jogadores, eu ia observando as características de cada um para chegar ao esquema tático ideal. Eu já tinha falado àquela época que o ideal seria um atacante e três meias de qualidade, naquela época seriam o Galvão, Aílton, Jean Carlo e Canindé. Pelas peças que estavam me dando, eu já montava, na minha cabeça, a configuração da equipe. Tanto que quando eu voltei, montei ali Galvão, Cristian Canindé e Marcel. Foi quando o time deu a verdadeira subida ofensiva.

Irapitan – Para esse time ter decolado, esses meias precisavam ser mais efetivos, mais práticos na frente do gol?

Paulo Campos – Eles precisavam ser mais matadores. Se todos eles tivessem uma qualidade enorme de finalização, a gente poderia estar classificado para uma Sul-Americana, mesmo tendo saído do último lugar. Eles foram grandes construtores, se fossem grandes finalizadores, Nossa Senhora!

Irapitan – Tem como corrigir para que eles se tornem matadores?

Paulo Campos – O treinamento pode ajudar, mas característica não se muda muito não.

Cristian – Fora do Brasil, é comum treinar passe, chute, cabeceio, até cobrança de lateral, se for o caso. Você acha que jogador brasileiro não tem fundamentos?

Paulo Campos – Tem que trabalhar muito, é brincadeira o quanto a gente trabalha finalização, por exemplo. A diferença é que lá fora, você treina para atingir determinado limite, mas o limite aqui no Brasil é superior ao limite de lá. Então se você trabalhar aqui igual você trabalha lá fora, você estará ultrapassado.

Sell – Como você lida com a malandragem dos jogadores e como se conquista eles?

paulocampos3261204.jpg"Eu trabalho tentando falar a mesma língua deles, mas nada artificial. Procuro tirar a malandragem em benefício da equipe. Seja malandro, mas não seja otário, use essa malandragem em benefício seu e do grupo."

Paulo Campos – Eu trabalho tentando falar a mesma língua deles, mas nada artificial. Um relacionamento muito amplo, muito honesto. Amigo, sério, disciplinador, mas coerente. Eu procuro tirar a malandragem em benefício da equipe. Seja malandro, mas não seja otário, use essa malandragem em benefício seu e do grupo.

Sell – Você disse que gostaria de trabalhar em um time grande para ter jogadores de melhor qualidade, mas daí você corre o risco de ter muita "cobra" no elenco. Como você lida com isso?

Paulo Campos – É bom, me dê todas as cobras que eu faço um serpentário muito bom. É mole, não tem mistério nenhum. Me larga no meio das cobras que eu dou um jeito.

Rubens – Os times do Rio são um serpentário?

Paulo Campos – Cobra criada tem em qualquer lugar, o segredo é domesticá-la.

Xavier – A gente percebe que o jogador brasileiro tem uma característica diferente: Ele tem que ter, além do técnico, um consultor, um pai, um padrinho, aquele cara que dá o tapinha nas costas. É um profissional até um certo ponto, mas não é frio como o europeu. E no mundo árabe?

paulocampos9261204.jpg"Teve um ano na Arábia Saudita que eu tinha que falar árabe, para os jogadores locais, francês porque eu tinha um atleta da Costa do Marfim, inglês porque tinha um jogador britânico e português para os brasileiros que eu tinha levado."

Paulo Campos – É um baita laboratório. Acho que a maioria dos grandes treinadores aqui do Brasil passou por lá, creio que só o Leão não foi. Só na questão da língua já é uma grande aprendizagem. Teve um ano na Arábia Saudita que eu tinha que falar árabe, para os jogadores locais, francês porque eu tinha um atleta da Costa do Marfim, inglês porque tinha um jogador britânico e português para os brasileiros que eu tinha levado. Então, em uma mesma preleção, eu falava quatro idiomas. No francês eu arranhava, português, inglês e árabe eu já falava normalmente. Aprendi tudo de ouvido. O árabe que eu falo é aquele de jogador, do tipo "nóis vai", mas o importante era que o pessoal entendia.

Xavier – Queria voltar um pouco para a tua vinda para o Paraná. Eu lembro daquele jantar na sede do clube, foi um momento muito marcante, com a presença de toda a diretoria, até do Luxemburgo. Como se deu essa sua vinda a partir da parceria?

Paulo Campos – Tudo começou com um comentário do Sérgio Malucelli da possibilidade de se fazer uma parceria com o Paraná. E ele disse que caso isso acontecesse ele gostaria que eu fosse o técnico. Daí, parece que o presidente Miranda, após ouvir uma entrevista minha no final do jogo entre Iraty e Paraná, gostou da maneira como eu me expressei nessa entrevista e concordou com minha vinda.

Xavier – E o que você viu quando chegou aqui?

Paulo Campos – O engraçado é que quando eu vinha de Irati para Curitiba, no caminho do aeroporto, eu passava pelo campo do Paraná e falava para meus auxiliares, eu ainda vou trabalhar nessa capital, vou treinar esse clube um dia. Meses depois eu estava ali, treinando o Paraná Clube.

Irapitan – E você encontrou um Paraná se refazendo de um Torneio da Morte. Como você aceitou o desafio de tentar fazer alguma coisa no Campeonato Brasileiro com um time que estava sendo remontado?

Paulo Campos – Eu já passei por algum momento de moleza nessa minha vida? Eu nunca tive um momento de tranqüilidade na vida profissional, tive que ralar a vida toda. Então foi mais um desafio. O momento mais difícil no Paraná foi minha chegada, vindo de Irati, era visto com uma certa desconfiança. A partir do momento em que eu entrei em campo, junto com a comissão técnica, foi mole. Sair e voltar também foi mole.

Xavier – E você provou de novo que é bom de estréia.

Paulo Campos – Nem fale, 2 x 1 no Coritiba, com o Iraty, depois, no Paraná, 3 x 2 no Santos e na reestréia 4 x 1 no Cruzeiro. Sou um iluminado.

Xavier – E estrear com vitória é importantíssimo, não é?

paulocampos3261204.jpg"Fiz um desafio com os jogadores: ‘Vocês estão em último lugar porque são uns merdas ou porque o momento está ruim? Vocês acreditam no potencial de vocês, vocês acreditam na recuperação?’"

Paulo Campos – O mais interessante foi na reestréia no Paraná, o pessoal do Rio falando, que eu ia pegar o último lugar, ia cair para a segunda divisão e ia fechar o meu mercado no Brasil. Mas como eu passei dois meses sem trabalho no Rio, sem ter sido convidado por ninguém, claro que eu ia reassumir o Paraná. Na véspera do jogo contra o Cruzeiro, nós tivemos uma idéia, que pode ter sido a grande idéia na recuperação do Paraná. Eu fiz um desafio com os jogadores: "Vocês estão em último lugar porque são uns merdas ou porque o momento está ruim, vocês acreditam no potencial de vocês, vocês acreditam na recuperação?" Eles mostraram confiança, então eu fiz o desafio: "Se nós perdermos, os jogadores vão doar cestas-básicas aos necessitados, se vencermos, a comissão técnica que fará as doações". Além dessa confiança, nós trabalhamos para aquele Cruzeiro e o que deu? 4 x 1 para nós. Pronto, a partir daí os jogadores colocaram para fora a confiança e o time só cresceu.

Irapitan – Você trabalha muito esse aspecto psicológico e emocional. Você se inspira em alguém ou em alguma situação especial?

paulocampos7261204.jpgPaulo Campos – Da vida, não me inspirei em ninguém em especial. Na parte da psicologia não, como técnico de futebol sim, eu tenho vários ídolos, mas no emocional, foi com lições da vida.

Cristian – Em conversas que a gente teve com alguns jogadores do Paraná, a gente sentia essa confiança. Eu cheguei a falar com o Marcel, dizendo que a gente torcia para que o Paraná saísse daquela situação ruim e ele respondeu: "Não se preocupe, a gente não vai cair". Você trabalhou com um grupo de garotos que também te ajudaram nesse aspecto, ninguém esmoreceu, certo?

Paulo Campos – Exatamente. Eu sempre frisei para eles que nós não estávamos com medo de nossa posição entre os quatro últimos, nós estávamos sim com esperança de sair dela. Assim como vários clubes estavam com medo de entrar, nós estávamos com esperança de sair.

Xavier – Você se recusava, inclusive, em falar a palavra rebaixamento…

Paulo Campos – Nunca falei, a única vez que eu disse essa palavra, na verdade, foi na comemoração após a vitória contra o Criciúma. "Agora escapamos do rebaixamento".

Rubens – E qual foi o momento mais difícil nessa luta para escapar?

Paulo Campos – Todos eles, não teve jogo mole. Olhando hoje, a gente começa a analisar e parece fácil, mas a gente ganhou nove jogos e empatou quatro. Se tivéssemos perdido do Cruzeiro na reestréia, estaríamos entre os rebaixados, qualquer resultado que não viesse nos colocaria na zona. Ganhamos da Ponte Preta, em Campinas, além de Criciúma, Grêmio, Atlético-MG, adversários diretos.

Irapitan – O Paraná estava 20 rodadas na zona de rebaixamento, todo mundo falando que não tinha mais chances de escapar e, no clube, ninguém falando em crise. Como se explica isso? Antes da sua chegada também se falava em "panelinha". Você também detectou isso?

Paulo Campos – Eu não detectei nada, eu só queria que cada um fizesse a sua parte, eu não olhava para as coisas negativas. Se, por exemplo o ambiente estava ruim, quando eu entrei, ficou para trás. Você pode ter certeza que a comissão técnica que estava antes também fez um trabalho importante. A série de resultados ruins não foi culpa da comissão técnica, foi de uma série de decisões ruins de todo o clube. Por isso, que quando voltei, nem me preocupei com o que tinha acontecido ontem.

Irapitan – Entre essas decisões ruins, você coloca a sua saída?

paulocampos7261204.jpg"Todo o diretor quer o melhor para sua empresa e, se naquele momento eles achavam que minha saída era o melhor para o Paraná, tinham todo o direito de tentar. Só que, infelizmente, deu errado."

Paulo Campos – Claro que minha saída foi errada, eu tinha vindo de três empates dificílimos: Vasco, Botafogo e Coritiba. Tínhamos três vitórias, quatro empates e quatro derrotas, para um time que havia sido montado há semanas, com jogadores vindos dos mais diversos lugares, a campanha até que estava regular para um grupo que mal se conhecia. Mas eu não reclamo disso, pois todo o diretor quer o melhor para sua empresa e, se naquele momento eles achavam que minha saída era o melhor para o Paraná, tinham todo o direito de tentar. Só que, infelizmente, deu errado.

Irapitan – Você acha que aquelas três primeiras vitórias, contra Santos, Cruzeiro e Flamengo foram ilusórias tanto para a torcida quanto para a diretoria?

Paulo Campos – Claro que foram. Ninguém imaginava que o Paraná começaria ganhando daquelas três equipes. O normal para o Paraná foi ter perdido para Juventude e Vitória, não por aqueles placares. Uma equipe jovem, com diversos jogadores estreando na séria A, o resultado comum era a derrota fora de casa e jogos parelhos em casa. Mas em casa a equipe jogou bem, ganhou bem do Santos, virou o jogo contra o Flamengo e jogou muito bem contra o Cruzeiro, batendo o campeão nacional, o vice, e um finalista da Copa do Brasil. Então começaram a achar que o Paraná seria campeão brasileiro

Xavier – Como um profissional de futebol reage quando tem que lidar com dirigentes amadores, ou passionais? Você não saiu chateado?

Paulo Campos – Você não pode ter raiva. Eu não saí chateado, saí tentando entender os motivos deles. Não entendi a avaliação do futebol. Depois de três empates, sendo dois fora de casa e a equipe em um patamar de equilíbrio, não entendi qual foi o critério de avaliação.

Roger Pereira – Dois meses depois você volta e ajuda o Paraná a sair do rebaixamento até com rodadas de antecedência. Não ficou aquele sentimento de que dava para ter ido mais longe se não tivesse o trabalho interrompido?

Paulo Campos – Deixa a torcida responder isso. Mas eu sinto isso, sim. Por isso que nós da comissão técnica criamos aquelas competições particulares. Nas nossas competições particulares, estávamos brigando pela Libertadores ou Sul-Americana.

Irapitan – A gente sabe que o Sérgio (Malucelli) tinha influência na tomada de decisões pelo Clube e foi voto também para a sua saída. Isso te magoou?

paulocampos8261204.jpgPaulo Campos – Não, de jeito nenhum. Não foi ele que me colocou, tinha todo o direito de me tirar. Mas ele errou.

Irapitan – Ele já confessou isso para você?

Paulo Campos – Já sim. Nós nos tornamos amigos ele se explicou: "Paulo, desculpa, eles fizeram minha cabeça, me enrolaram e eu também fui um dos que votou para sua saída". Eu respondi: "Deu azar, se deu mal, pagou caro".

Cristian – Você deve ter pensado em querer distância desse pessoal um bom tempo, mas logo voltou, não ficou nenhuma mágoa?

Paulo Campos – Nada, a minha índole não permite isso. Não permite mágoa, não permite nada disso. Quem não quiser estar comigo, um abraço.

Irapitan – Você entende que voltou por cima no Paraná?

Paulo Campos – Claro, mesmo porque, fui eu que fiz meu contrato. Eu tive o aval do presidente, do José Domingos e da diretoria. Se eles foram me buscar, vão ter que aceitar minhas condições, aquela era minha hora. E o presidente, uma pessoa espetacular, aceitou prontamente, já que eu não pedi nada demais, só queria ter mais segurança. Outro fator que me fez voltar foi porque o clube foi muito correto comigo na minha saída. Voltei porque eu fui bem tratado aqui, ganhar e perder faz parte.

Xavier – E um clube com dificuldades financeiras. Aliás, dizem que você chegou a emprestar dinheiro a clube, teve isso?

Paulo Campos – Eu já botei tanto dinheiro em tanto lugar para ajudar, que nem me lembro, mas aqui acho que não. No Qatar, cheguei a emprestar 23 mil reais ao meu presidente para montar o departamento de futebol do meu clube. O clube estava sem dinheiro e eu tinha acabado de receber as "luvas", então resolvi emprestar, acreditando na credibilidade do meu presidente. Quando o clube recebeu o dinheiro da federação, a primeira coisa que fez foi me pagar. Mas no Paraná eu não lembro não, só sei que todos os meus "bichos" foram para as cestas-básicas.

Sell – E qual foi sua cota de sacrifício nessa reta fina de Brasileiro?

Paulo Campos – O único sacrifício é a distância da família. Profissionalmente não é sacrifício, financeiramente não é sacrifício. Eu só via a minha família uma, no máximo duas vezes por mês.

Sell – Como é trabalhar em um clube que não tem toda a estrutura necessária, que não tem um centro de treinamento?

paulocampos4261204.jpg"A única coisa que me deixa triste aqui é que, mesmo tendo três estádios, não temos a estrutura certa para os treinamentos. Acho que se o Paraná quiser investir para o futuro tem que começar por aí."

Paulo Campos – Esse é o nosso grande problema. Podia até pedir para o Atlético e o Coritiba nos ajudarem um pouquinho. Essa é a única coisa que me deixa triste, de, mesmo tendo três estádios, não ter a estrutura certa para os treinamentos. Acho que se o Paraná quiser investir para o futuro tem que começar por aí.

Irapitan – Essa é uma questão que pode pesar na sua decisão?

Paulo Campos – Claro, eu não vou dizer "eu quero", mas eu gostaria, acho que deveria ser assim. Não tem mais como ficar acomodando as coisas. O grande problema do Paraná é o de mentalidade em questões de estrutura.

Irapitan – Esse problema estrutural é de escassez financeira ou de boas idéias?

Paulo Campos – Eu acho que vem do passado. O Paraná perdeu o grande momento dele nos anos anteriores, quando deixou de pensar no futuro e pensou só no momento. O tempo passou e a situação piorou. Peço a Deus que o presidente Miranda e sua diretoria consigam montar essa máquina do futuro a partir de agora.

Xavier – Você se valorizou neste ano no Paraná Clube. Está na hora de você fazer esse mercado brasileiro?

Paulo Campos – Não, ainda falta muita coisa, eu diria que esse foi o pontapé inicial, não quanto à experiência no futebol, mas em se falando de Brasil, estou apenas começando.

Sell – Você trocaria, por exemplo, o Paraná por um Grêmio na segunda divisão?

Paulo Campos – Trocar o Paraná Clube hoje em dia é difícil, pelo carinho, pelo amor que adquiri aqui e pelo respeito das pessoas. Mas te digo uma coisa. Seria um prazer imenso trabalhar no Grêmio. No Guarani, outro time que caiu. Trabalharia sim, sou um apaixonado pela profissão, e não importa se o clube está na segunda divisão. Vou lá tentar ajudar a equipe, o que quero é trabalhar.

Cristian – Na pré entrevista, hoje é dia 14 de dezembro, você disse que está torcendo para o Atlético ser campeão. Da mesma maneira em que também torce para o Vanderlei Luxemburgo, por ter trabalhado com ele anteriormente. Apesar do pouco tempo na cidade, você já adquiriu esse paranismo, ou seja, essa coisa de torcer pelo Estado?

paulocampos4261204.jpgPaulo Campos – Não tenho esse negócio de rivalidade. Acho que isso começa na hora em que a bola rola. Fora de campo, torço para todos do Estado. Se o Paraná estiver bem, torço pelo clube, se o Atlético estiver bem, também torço pelo time e da mesma maneira com o Coritiba. E não é papo furado não, graças a Deus não dependo de ninguém. Tenho a minha vida própria e não tenho rabo preso com ninguém. Acho que rivalidade acontece dentro de campo. Vou te dar um exemplo. Na Arábia Saudita, e foi algo que me marcou muito. Tinha poucos brasileiros naquela cidade e nos encontrávamos muitas vezes. Quando começou o campeonato, um determinado técnico que era rival da minha equipe, o Al-Ittihad e a outra equipe era o Al-Rayyan, treinada por um brasileiro de Minas Gerais. Esse cara vivia na minha casa, porque sempre consegui reunir os amigos, jogar um baralho e conversar. Quando o campeonato se iniciou, o presidente desse clube proibiu o treinador de freqüentar a minha casa por causa da rivalidade. Pra minha surpresa, porque não é a minha maneira de pensar, ele realmente nunca mais me procurou. Eu senti aquilo, porque éramos poucos brasileiros. A rivalidade tem que ser levada pra dentro de campo. Se ele tivesse personalidade e fosse homem, ele falaria ao presidente do clube que, antes de qualquer coisa, nós éramos amigos. Dentro de campo nós não precisamos nem nos falar. Mas ele acabou fazendo o contrário. Quando foi demitido, ele foi na minha casa, chorando, com a esposa, pedir desculpas. Mas daí eu falei, a gente se respeita, se conhece, mas infelizmente não é a mesma amizade. Entendeu? Então a minha alegria pelo Estado é igual. Se estiver jogando contra eles, quero ganhar todas. Mas depois do jogo, vamos comer um churrasco, bater um papo.

Irapitan – Mesmo estando aqui há um bom tempo, você mantém sua família no Rio de Janeiro. Muitos fogem de lá. Como é essa relação?

Paulo Campos – Aqui tem segurança. Lá no Rio vive-se bem, mas não tem segurança. Mas o que posso fazer se minha filha faz faculdade? É difícil de tirar eles de lá. Gostaria, mas acho difícil.

Cristian – Como você chegou aqui e se adaptou? A cidade que é conhecida como um lugar onde as pessoas são frias.

paulocampos8261204.jpg"Me falaram que o curitibano não te recepciona, não te trata bem e não sei da onde tiraram isso. Toda noite tem um churrasquinho, tem um papo. Todo mundo é simpático comigo. Acho que isso é uma crendice para as pessoas não chegarem muito."

Paulo Campos – Isso foi a maior mentira que me contaram. Me falaram que o curitibano, o paranaense não te recepciona, não te trata bem e não sei da onde tiraram isso. Toda noite tem um churrasquinho, tem um papo. Todo mundo é simpático comigo. Várias vezes me param na rua. E é torcedor do Coritiba, do Atlético, do Paraná, e sempre é uma palavra de carinho. Acho que isso é uma crendice para as pessoas não chegarem muito.

Xavier – Mas isso não vai um pouco também por causa do seu estilo?

Paulo Campos – Pode ser também. Mas acredito que é papo furado que me disseram.

Irapitan – Como é o seu vestiário?

Paulo Campos – No vestiário, lá, se não entrar pra ganhar, o pau come. Brincadeira. Mas sem dúvida é de muita cobrança.

Irapitan – Te digo isso por causa do jogo de Campinas, contra o Guarani.

paulocampos5261204.jpg"É inadmissível os jogadores não terem um mês inteiro de férias e pelo menos três semanas de preparação, antes do início da competição. Todo mundo entre em férias por um mês, porque os jogadores e a comissão técnica não podem?"

Paulo Campos – Ali eu soltei os cachorros. Achei inadmissível colocar um jogador e com dois minutos ele cometer um pênalti. A falta do Carlinhos em cima do Viola. Um jogador de futebol tem que ser inteligente. Teve uma penalidade de um jogador do Bahia num atacante do Brasiliense, quando o jogo estava um a zero, e mudou a partida. Então não aceito de jeito nenhum.

Xavier – E o que você acha que leva o jogador a agir dessa forma?

Paulo Campos – A falta do algo mais. Aquele extra.

Xavier – Você condicionou a sua permanência no Paraná Clube pela manutenção dessa base e num trabalho mais ambicioso?

Paulo Campos – Só isso. Porque não fui eu que procurei a diretoria. Não pedi nada. O presidente que chegou até mim e falou para renovarmos até o final de 2005. É uma garantia passada por ele, mas vamos conversar. Obrigado pelo interesse, mas perguntei: "já que vocês me querem, qual é o objetivo no próximo ano"? Eles falaram que iriam isso, aquilo, e então disse que iria analisar a proposta antes de dar uma resposta final. A grande resposta será dada a partir do momento em que mostrarem o que nós teremos para a temporada. Não adianta montar um time para disputar novamente o torneio da morte.

Irapitan – Mesmo se livrando do rebaixamento, muita gente considera o Paraná como um elenco fraco. Como você avalia isso?

Paulo Campos – O Paraná tem um elenco de médio para bom. Mas para disputar o título você tem que ter um elenco de bom para excelente. E hoje em dia, aqui, o Atlético tem, e o Coritiba está próximo disso.

Rubens – E o restante das equipes?

Paulo Campos – O Santos tem uma bela equipe. Mas achei o campeonato bem nivelado. Para achar o Paraná, com essa garotada, ganhar da grande maioria, é que o futebol está muito parelho.

Cristian – Quando você voltou, os jogadores que tinha imaginado receber, na verdade não aconteceu. Na verdade chegou um jogador, o Émerson. Fez a diferença?

Paulo Campos – Ele caiu como um luva. Não fez a diferença, mas caiu como uma luva. Profissional, inteligente, parceiro, técnico, força.

Irapitan – Você tem algum jogador fora de série no elenco?

Paulo Campos – Não. Agora quem também foi muito bem foi o Flávio. Foi um tremendo suporte para a equipe. E outros jogadores cresceram muito com o desempenho dele. O Lombardi não é o mesmo do campeonato paranaense. Galvão também cresceu muito. Cristian jogando muito bem e dando suporte para o ataque. Marcel também evoluiu. Axel e Beto também cresceram. Enfim, todo mundo melhorou.

Xavier – O Jean Carlos fez falta na equipe?

Paulo Campos – Acho que sim. Poderia ter ficado mais tempo.

Cristian – Veio também o Marcelo Passos. Você se dispôs a ir participar como testemunho de defesa do jogador no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Como foi aquela situação? Porque talvez o baque emocional daquele caso pudesse ter influenciado nos resultados seguintes.

paulocampos9261204.jpgPaulo Campos – Tentei dar o apoio de um técnico, de um ser humano, de um amigo. Foi a minha intenção. E tive a oportunidade de trazê-lo novamente ao futebol brasileiro. Ele foi meu adversário no Qatar. E, agora, muito tempo depois, ele pediu minha ajuda para voltar a atuar no País. E, quando aconteceu aquilo (a punição), sabia que ele tinha tido a intenção de querer voltar a jogar o mais rápido possível. E então me propus a ajudá-lo e acabou dando certo.

Cristian – Esses pequenos atos que vieram dos jogadores pra você fizeram com que o time saísse daquela situação?

Paulo Campos – Sem dúvida. Todo o time foi importante. Não teve um que foi o maior destaque. Desde o roupeiro ao presidente do clube.

Xavier – Você falou agora pouco de tática e numerologia, essas coisas de 3-3-2, 3-6-1. Teve esse congresso no Rio de Janeiro, e um técnico escocês esteve presente e falou para os brasileiros pararem de copiar o tradicional esquema europeu. Para continuar com um futebol mais solto…

Paulo Campos – Todo mundo gostou dessa declaração. Sou um cara que não tive muitas oportunidades no Brasil, mas aprecio o futebol arte. Sou a favor disso, o Brasil não tem que mudar nisso. Tem é que melhorar na disciplina, organização. A característica, não. O futebol arte com responsabilidade. Ai é que entra um dos meus ídolos. Além do Oto Glória, o Telê Santana.

Cristian – Você é um daqueles que acha que a Copa de 82 mudou o futebol brasileiro?

Paulo Campos – Não. Ali tivemos uma grande seleção, que não ganhou.

Xavier – Mas aquilo não virou argumento para os times que sempre jogaram defensivamente?

paulocampos6261204.jpg"Gosto do futebol bem jogado e daquele que ganha. Não gosto de perder jogando mal. Se estiver jogando bem e perder, até aceito, agora, jogou mal e perdeu é complicado. Detesto cabeça de bagre, perna de pau."

Paulo Campos – Mexeu com a cabeça de alguns, mas acredito que a filosofia não mudou muito. Gosto do futebol bem jogado e daquele que ganha. Não gosto de perder jogando mal. Se estiver jogando bem e perder, até aceito, agora, jogou mal e perdeu é complicado. Detesto cabeça de bagre, perna de pau.

Cristian – Você falou muito no Oto, e algumas vezes nós até esquecemos do que ele fez no futebol do Rio e na Europa. Além do Oto e do Telê, tem mais alguém que você destacaria e que acabou influenciando o seu modo de trabalhar?

Paulo Campos – Vanderlei Luxemburgo. Acho que a minha maneira de trabalhar é um pouco parecida com o jeito com que ele comanda seu time. Acho que ele é um vencedor e é o que eu pretendo ser também aqui no Brasil. Outra pessoa que tenho grande admiração é o Antônio Lopes.

Xavier – Você falou antes da entrevista da questão de colocar a faixa nos jogadores antes de entrar em campo. Como que isso funciona?

Paulo Campos – Tem um momento certo. Isso não pode se tornar rotina não. Aquele que você sente que o atleta vai estar confortável para a decisão. Tem uns que entendem isso com mais vontade e garra, e outros que dão uma murchada. Então que ter cuidado. Acho que o Vanderlei faz isso e também gosto. Mas não é bom fazer isso toda hora não.

Irapitan – E como é a sua preleção?

Paulo Campos – Minha preleção é durante a semana. A gente estuda o adversário em todos os treinamentos. E quando vamos para a "tradicional" preleção dura vinte minutos, para rememorar o que já foi discutido e lembrar de alguns detalhes. Na véspera já passa um vídeo do adversário, isso é uma rotina.

Roger – Você já disse que é ambicioso. Já planejou muita coisa pro futuro?

Paulo Campos – Não, ainda não penso nisso. Deixa a vida me levar.

Cristian – Temos vários tipos de técnico no País. Tem o boleiro, o erudito, que vai a teatro, cinema , o que estuda constantemente. Você se encaixa em algum rótulo?

Paulo Campos – To fora de qualquer rótulo. Se quiser ir a um teatro vou, num cinema a mesma coisa.

Irapitan – E a balada?

Paulo Campos – Se puder tirar toda a rapaziada das baladas, eu faço. Quando trabalhava no Palmeiras B era notícia atrás de notícia, de jogador que passava a noite na balada. É ruim, acaba se queimando por besteira. Beba com moderação. Esse é o negócio. Procure ter um equilíbrio. Tem dia certo para sair. E procuro dar exemplo.

Irapitan – Mas um jogador pode ser vítima de uma situação ou ele é sem-vergonha mesmo?

Paulo Campos – Um jogador inteligente se testa. O que realmente ele quer buscar? Depende muito de cabeça. E tem aqueles que assumem esse estilo de vida.

Xavier – E não tem também um deslumbre por parte do jogador?

paulocampos7261204.jpg"Nunca fui procurar ninguém dentro de boate. Se estiver rendendo dentro de campo, chegou na hora certa, está jogando bem, tudo certo."

Paulo Campos – Isso acontece, sem dúvida. Mas não sou treinador de ter que ficar procurando jogador. Nunca fui procurar ninguém dentro de boate. Se estiver rendendo dentro de campo, chegou na hora certa, está jogando bem, tudo certo. Tento passar uma mensagem se o jogador quiser ouvir, tudo bem, senão, fazer o quê?

Cristian – Como é a estrutura do jogador na Arábia?

Paulo Campos – São países que têm como base a cultura, as tradições e você tem que respeitar. Não pode querer que eles modifiquem seus hábitos de acordo com a sua maneira de pensar. Tive diversos convites para me converter ao islamismo, mas sou católico. E, mesmo não tendo igreja católica, tinha momentos de fé, de ficar rezando. Sou muito religioso, acredito em Deus. E não me converti e disse que pra mim Deus tem um nome só. Então agradeço o convite, mas respeito muito a tradição deles. Minha mulher saía com o véu cobrindo a cabeça, também minha filha. Nós morávamos em Medina, que é a segunda cidade mais sagrada depois de Meca. E nos adaptamos.

Xavier – O que acontece na cabeça de um técnico quando a mudança tática não dá certo?

paulocampos5261204.jpgPaulo Campos – Não existe receita de bolo. Em determinadas situações você troca um jogador e é tratado como herói, se toma o gol é criticado. Mas isso não sobe à cabeça, se uma mudança não der certo. Com o Fluminense, nós estávamos tristes por não estarmos ganhando. Foi desatenção. O negócio é o seguinte. Não quis devolver o Edinho para o banco, quando o Lombardi machucou. Ia colocar o Maranhão e iria para a frente com tudo, só que ia manter a zaga. Mas tinha perdido o Flávio por contusão e queimei uma substituição. Queria colocar o Sinval e tinha três substituições programadas. Botei o Sinval e tinha mais uma, que foi o Edinho. Se conseguisse um empate seria bom. Mas como não tenho medo de tentar, avisei que não iria colocar o João Paulo. Mas foi desatenção de ter deixado o Ramon sozinho para marcar. Ali a culpa foi do meio campo.

Cristian – Nessa alteração você puxou o Beto pra zaga e colocou o Edinho pra frente. Você exige essa polivalência do seu jogador?

Paulo Campos – Tem que ter. Não gosto de jogador limitado. Tem que jogar em todas as posições. Se eu puder trocar até o sistema tático sem tirar ninguém de campo é excepcional.

Cristian – E aquele jogo contra o Vasco? Você teve uma reação extremada?

Paulo Campos – Foi um monte de erros. Mas não xinguei ninguém não. Foi um xingamento ao léu. Tanto que os jurados do STJD não me condenaram. E o presidente do tribunal se manifestou pela forma como xinguei, porque não foi diretamente para uma pessoa, foi um desabafo. E acabei sendo absolvido por unanimidade.

Xavier – E como você se sentiu no tribunal?

Paulo Campos – Muito estranho, nunca tinha ido a um tribunal. Nunca entrei numa delegacia. Estranho, horrível. Cheguei a falar com o presidente que aquela era a primeira vez que estava entrando num tribunal. Estava me sentindo muito mal, porque parece que a gente errou ou cometeu um delito. Mas fui muito bem tratado lá e me senti feliz, até porque saí vencedor e agradeço muito a comissão.

Xavier – E como você viu o tribunal nesse ano, com rigidez, e punindo qualquer coisa, seja com copo arremessado ou com outra coisa?

paulocampos6261204.jpg"Bato palmas, tiro o meu chapéu para o tribunal do Luiz Zveiter. Estão tentando moralizar o futebol brasileiro. Parabéns, e acho que é por ai mesmo."

Paulo Campos – Bato palmas, tiro o meu chapéu para o tribunal do Luiz Zveiter. Estão tentando moralizar o futebol brasileiro. Parabéns, e acho que é por ai mesmo.

Irapitan – E, brasileiro só funciona assim, com rigidez?

Paulo Campos – Só. Vocês lembram do cinto de segurança? Como foi? Quem não usar o cinto será multado em tantos reais. Hoje em dia todo mundo usa cinto de segurança. No mundo árabe, roubou perde a mão, traficou, perde a cabeça. Acho que tem que ser por aí mesmo.

Xavier – Na Europa, se você rouba, tem a punição imediata.

Paulo Campos – Paulo Campos, você é a favor da pena de morte? Sou. Acho inadmissível você se for uma pessoa correta perde sua vida ou a vida de pessoas corretas por causa de maldade, por atos ilícitos. Não concordo.

Cristian – Como você se sente vendo o Rio parecer uma terra de ninguém?

paulocampos2261204.jpgPaulo Campos – Então você imagina a minha tristeza e minha preocupação. Me sinto muito mal. Esse é o melhor país do mundo, aqui não temos acidentes naturais. Muitos países passam por terremotos, maremotos. Eu passei pela Guerra do Golfo, por duas guerras civis, tanto na Nigéria quanto na Libéria. E tenho mais medo da guerra diária do Rio de Janeiro, do Brasil.

Irapitan – Você se posicionou favorável à pena de morte. Ela funciona ideologicamente ou é possível acreditar na pena de morte diante da morosidade judicial no Brasil?

Paulo Campos – Acho que o policial tinha que ser supervalorizado nesse país e, como em todas as profissões, existem bons e maus exemplos. E nós temos que valorizar a segurança. E acho que deveríamos valorizar a proteção que recebemos dos policiais.

Cristian – Qual a sua posição sobre o Campeonato Brasileiro de pontos corridos?

Paulo Campos – Muito interessante, muito bom. Tanto que nós falávamos que tanto a briga pelo título quanto a disputa para fugir do rebaixamento só iriam se definir na última rodada. E aí está. Até o final, uma briga constante.

Xavier – O brasileiro está começando a se acostumar com isso?

Paulo Campos – Não só torcedor, mas os treinadores, os jogadores e os dirigentes estão começando a se adaptar ao que é um campeonato disputado em pontos corridos. No primeiro ano foi estranho, esse ano foi melhor e ano que vem será ainda mais disputado. Na minha opinião a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) está fazendo um grande trabalho.

Irapitan – O que é preciso para se adaptar a esse sistema?

Paulo Campos – Planejamento, capacitação dos árbitros, cursos para atletas, dirigentes. fóruns internacionais, como teve agora no Rio de Janeiro. Tudo isso para melhorar a qualidade.

Rubens – E, diferente do que acontece no exterior, onde a fórmula é a mesma, mas o campeão geralmente é conhecido antes do final do campeonato, nesse ano, a emoção seguiu até o final.

Paulo Campos – Eu acho que é muito interessante. Porque a Copa do Brasil, por exemplo, é disputada no mata-mata. O Brasileiro tem que premiar a melhor equipe, a mais regular, isso é importante.

Roger – Você é a favor da adequação ao calendário europeu, para que não se perca jogador no meio do campeonato?

Paulo Campos – É uma situação que tenho que analisar melhor. Nunca me atentei para esse detalhe. Nós moramos no Hemisfério Sul e eles no Hemisfério Norte. É diferente.

Roger – Mas a Argentina já tem um calendário equiparado ao dos europeus.

Paulo Campos – Mas a Argentina se acha a Europa Sul-americana. Os argentinos são os italianos do continente.

Cristian – E os campeonatos estaduais?

Paulo Campos – Não podem morrer. Mas para o calendário do Brasil, e já tentei debater isso com os jogadores, é inadmissível os jogadores não terem um mês inteiro de férias e pelo menos três semanas de preparação, antes do início da competição. Teria que haver uma reunião entre CBF e as federações estaduais. Agora também com a presença dos sindicatos dos atletas, sindicato dos treinadores, dos árbitros. Para poder tornar um negócio mais palpável. Todo mundo entre em férias por um mês, porque os jogadores e a comissão técnica não podem?

Xavier – No próximo ano teremos menos quatro rodadas no Brasileiro. Não seria o caso de aproveitarem melhor o calendário?

Paulo Campos – Um tira e o outro aproveita. É sempre assim. Não tinha que haver uma reunião nacional. Mas o problema é que ninguém quer ceder. Acho muito difícil.

Xavier – Pensando nisso você já liberou dois atletas, Flávio e Galvão, antes mesmo da última rodada. Por quê?

Paulo Campos – Eles participaram de todos os jogos do clube nesse ano, treinaram todos os dias, nunca faltaram. E, por merecimento, já fui dando uma semana de folga.

Cristian – O futebol brasileiro é excessivamente mercantilista?

paulocampos3261204.jpg"Qual é o grande objetivo de uma empresa? Lucro. Qual é um grande objetivo de um clube? Título. Então o grande erro da mentalidade do futebol-empresa foi tirar o título por lucro e com isso o futebol afundou."

Paulo Campos – Sabe qual foi o grande erro dos clubes que pensaram em se tornar empresa? Lembra que há alguns era febre? Chiquinho da Silva S/A, era todo mundo… Qual é o grande objetivo de uma empresa? Lucro. Qual é um grande objetivo de um clube? Título. Então o grande erro da mentalidade do futebol-empresa foi tirar o título por lucro e com isso o futebol afundou. Se eu quero ser dono de um clube, quero primeiro conquistar títulos. Com as conquistas, terei lucro. Quando começaram a pensar somente em lucro, esqueceram da qualidade, esqueceram dos títulos.

Xavier – A questão da lei do passe ajudou ou não?

Paulo Campos – Deu uma quebrada nos clubes. Para os atletas foi bom até certo ponto. Muitos clubes mal são administrados ou administrados ilicitamente. Se a administração fosse honesta e correta, acho que hoje estariam todos muito bem.

Xavier – Paulo Campos por Paulo Campos.

Paulo Campos – Sou boa gente. Me acho boa pessoa.

Transcrição: Rubens Chueire Jr. e Roger Pereira.

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Serviço:
A Churrascaria Tobias Grill tem a legítima costelinha borboleta e
as melhores carnes nobres de Curitiba, com serviço a la carte.
Abre para almoço e jantar de segunda a sábado e aos domingos para almoço.
Estará atendendo para almoço no dia 1.º de janeiro até as 16h.

Rua: Professor Lycio Grein de Castro Vellozo, 180 – Mercês
(em frente à Torre Redonda da Telepar). Estacionamento próprio. Fone 339-4909.

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