Berlim – O futebol europeu não assusta tanto o técnico Carlos Alberto Parreira quanto o sul-americano. E o treinador disse isso depois de o Brasil ter empatado por 1 a 1 com a Alemanha, no Estádio Olímpico de Berlim, no dia anterior.
“É só fechar um pouco os espaços que eles não conseguem criar muito coisa”, afirmou o treinador, usando como exemplo o segundo tempo da partida amistosa, quando a equipe de Klismann teve maior volume de jogo, mas não conseguiu mudar o placar. “É muito mais complicado jogar com as seleções da América do Sul”, comparou.
Mesmo assim, fez questão de elogiar o desempenho da equipe da casa. “O Klismann botou dois pontas-de-lanças, os laterais saem bastante e é um esquema quase com três atacantes, parecido com o nosso. É uma equipe muito boa”, elogiou. Descansado e bem-humorado – a delegação, já sem os “estrangeiros”, viajaria ontem à noite de volta ao Brasil -, o treinador passou cerca de uma hora no saguão do hotel conversando com dirigentes do Bayer Leverkusen, que lhe fizeram um convite para uma estada de uma semana na Alemanha, conhecendo as instalações e o centro de treinamento do clube, que tem em seu elenco os dois zagueiros titulares da seleção, Juan e Roque Júnior, além dos atacantes França e Róbson Ponte.
Apesar do desgaste físico provocado pela partida em Berlim – os jogadores saíram direto do Morumbi para o Aeroporto de Guarulhos após a vitória por 3 a 1 contra a Bolívia, pelas Eliminatórias -, Parreira deixou claro que pretende fazer cada vez mais amistosos contra adversários de primeiro escalão. Serão os melhores treinos para sua equipe, justifica.
“A seleção chegou num impasse muito grande. A gente joga para treinar. E temos que nos adaptar aos novos tempos, porque daqui para a frente a coisa vai ser mesmo assim”, disse, lembrando das dificuldades em conseguir que os clubes europeus liberem seus jogadores por um período muito longo. Sobre essa dificuldade, o técnico garantiu ontem que o caso Milan está encerrado. A polêmica começou quando o clube italiano não cedeu o goleiro Dida, o lateral Cafu e o meia Kaká para a partida contra a Bolívia. Em represália, a CBF também deixou os atletas fora do amistoso contra a Alemanha.
“A CBF tinha de tomar uma posição, porque a caso Milan foi uma sucessão de fatos. Os dirigentes italianos chegaram a ligar para todo mundo da Europa para que os outros clubes também não liberassem seus jogadores (o Bayern de Munique também segurou Lúcio e Zé Roberto). Eles infectaram todo mundo e a gente tinha de tomar alguma atitude. Mas agora as coisas estão superadas”, explicou Parreira.
Futuro
O técnico Parreira se orgulha demais de seu trabalho de planejamento à frente da seleção. E aponta a “coisa mais importante” dessa atividade: o mapa de convocações, no qual estão relacionados cinco ou seis jogadores por posição, que são observados durante todo o tempo, dentro e fora do País. Apesar disso, ele quer mexer o quanto menos no time daqui para a frente.
“Você tem que formar um time só, não dois ou três, e as pessoas não entendem isso no Brasil. Não adianta ficar mexendo e testando o tempo todo. Agora já temos uma base boa e estamos caminhando para ter um time para a Copa”, diz o treinador, lembrando que tem usado sempre cerca de 18 jogadores em suas últimas convocações. O que facilita as coisas, na sua visão, é poder contar com um grupo entrosado e regular. Para isso, segundo Parreira, a Copa América, vencida pelo Brasil sem seus principais titulares, foi essencial.
“Agora a gente pode ver como foi boa a Copa América nesse aspecto, pois contamos aqui com sete jogadores (Julio Cesar, Juan, Maicon, Renato, Edu, Alex e Adriano) que disputaram a competição e que entram no time sem nenhum problema de adaptação.”
Líder das eliminatórias para a Copa de 2006, a equipe de Parreira terá agora pela frente três jogos pela competição até o final do ano, contra Venezuela (dia 9 de outubro, em Maracaibo), Colômbia (13 de outubro, em Maceió) e Equador (jogo marcado inicialmente para 17 de novembro). Desses adversários, os que mais preocupam o treinador são a Colômbia (“o time melhorou muito”) e o Equador (“é uma equipe que sabe se defender muito bem”). Mas sempre cauteloso, Parreira faz questão de reafirmar: “Não existe jogo fácil em eliminatórias.”