São Paulo – Carlos Alberto Parreira deixou escapar, logo após a derrota para o Equador, que a situação da seleção brasileira pode piorar em 2005. A classificação com tranqüilidade para a Copa da Alemanha pode ter sido apenas um sonho. Há chance de que velhos traumas do Brasil nas Eliminatórias possam voltar, como pressão e cobranças de imprensa e torcedores, que o treinador queria evitar de qualquer maneira.
"O jogo contra os equatorianos foi só o primeiro dos quatro que eu considero de alto risco nas Eliminatórias. Os outros três são o Uruguai em Montevidéu, a Argentina em Buenos Aires e a Bolívia em La Paz", avisou Parreira.
O fracasso no seu primeiro desafio no Equador fez o treinador relembrar o que falou durante todo o ano. "Eu queria que o Brasil disparasse na frente nas Eliminatórias neste ano e fosse apenas administrando com calma em 2005.
Além da derrota para o Equador, acredito que perdemos pontos preciosos em empates com o Uruguai e Colômbia dentro da nossa casa. E as outras seleções foram encostando no Brasil. Foi o contrário do que eu queria", admitiu Parreira.
Se o Brasil perder para os uruguaios, argentinos e bolivianos nos "jogos de alto risco" de Parreira, a classificação para o Mundial deverá ficar bem difícil pela pressão que seria criada. Isso que aterroriza o treinador. Em 1993 ele foi massacrado até que a seleção se classificou na última rodada contra o Uruguai – depois, conquistou o tetra nos Estados Unidos.
Os demais adversários nas Eliminatórias, com os quais Parreira não se assusta, são os peruanos, paraguaios, chilenos e venezuelanos.
Para evitar que, outra vez, a seleção sofra para se classificar a um Mundial, Parreira planeja conversar com o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, para que o dirigente o ajude a melhorar o relacionamento da entidade com os clubes europeus.
O plano é voltar ao esquema que Luiz Felipe Scolari tão bem soube usar: o de convencer os dirigentes europeus, donos de quase a totalidade dos atletas selecionáveis, a liberá-los com maior antecedência. Parreira quer treinar os jogadores para evitar novos vexames.
"Sem tempo para organizar o time não se pode exigir nada. Vamos trabalhar duro e sério para tentar amenizar essa situação. Por mais talento que os jogadores tenham, não dá para apenas colocá-los para bater bola um dia e depois mandá-los a campo enfrentar uma seleção que ficou se preparando com antecedência. Isso porque ninguém tem tantos jogadores na Europa como o Brasil. Vamos tratar de corrigir essa desvantagem", afirmou Parreira.
Estratégia
Para diminuir o efeito da derrota contra o Equador, outra jogada estratégica. O Brasil deverá fazer um amistoso dentro do País na quarta-feira de Cinzas de 2005, dia 9 de fevereiro, antes do jogo oficial pelas Eliminatórias contra o Peru, marcado para 26 de março, em Goiânia.
O adversário do amistoso deverá ser fraco, se possível disposto a tomar uma goleada que resgate a confiança do torcedor e da mídia na seleção de Parreira.
Irritação por cobranças
São Paulo – Acabou a lua-de-mel com a seleção brasileira. No vôo de volta do Equador para o Brasil, Carlos Alberto Parreira deixou claro haver percebido o desencanto generalizado pela maneira que o Brasil sofreu a derrota de quarta-feira, que acabou com a invencibilidade nas Eliminatórias. Percebeu que, ao contrário do ditado, será a última impressão que ficará do seu time em 2004.
As críticas foram muitas e pesadas por parte dos jornalistas. As principais: o fato de a equipe tentar se esconder atrás da altitude para explicar a falta de personalidade e luta. E a desconfiança sobre jogadores que são donos de posição. Como Ronaldo, que andou em campo e mesmo com falta de ar não foi substituído.
Ao desembarcar, Parreira foi contraditório. Esqueceu que havia dito na véspera do jogo, que desejava vencer o Equador para terminar 2004 com o Brasil invicto e em primeiro nas Eliminatórias. "O que vale é conseguir se classificar para a Copa. Não importa ser primeiro das Eliminatórias. O Brasil conseguiu a vaga em quarto para 2002 e foi campeão. Não tem que ficar valorizando essa derrota", dizia, irritado.
Parreira percebeu que o apoio que estava recebendo no comando da seleção foi seriamente abalado pela derrota. A raiva ele já havia demonstrado na saída do vestiário em Quito e no vôo de volta. Ao contrário do que faz normalmente, ele evitou conversar com os jornalistas. Ficou protegido na primeira classe do avião. Sua cara ficou mais fechada ainda ao saber da vitória da Argentina por 3 a 2 diante da Venezuela.
O encanto foi quebrado também em relação a alguns jogadores. O comportamento de Kaká no avião também foi significativo. O jogador não quis conversar nem com os seus companheiros. Fez questão de ficar isolado. Quando o avião abastecia e todos os atletas conversavam, ele preferiu ficar por horas no celular.
Verdadeiro
Só que o próprio capitão Cafu não se conformou com as explicações pífias dos companheiros. Foi fundo na questão altitude. "Não existe essa história de buscar desculpa na altitude. Todos sabíamos o que iríamos encontrar em Quito. Faltou futebol à seleção. Temos de admitir e trabalhar para corrigir. Temos que assumir quando jogamos mal. Não precisa ter vergonha de falar o que todo mundo viu."
Já Ronaldinho Gaúcho, que não tem assessor particular, preferiu não explicar a sua má atuação, questionada pelos vários jornalistas que acompanharam a última partida da seleção em 2004.
Entrevista
São Paulo – O bairrismo foi deixado de lado no estádio Atahualpa, em Quito, na quarta-feira. Repórteres paulistas, cariocas, mineiros e gaúchos não entendiam o porquê de Parreira manter em campo Ronaldo, lento e obrigado a respirar no balão de oxigênio no vestiário no intervalo da partida Equador 1 x 0 Brasil pelas Eliminatórias Sul-Americanas. Só aos 36 minutos do segundo tempo Adriano entrou. Mesmo com pouquíssimo tempo mostrou vigor e bom futebol. Conseguiu até dar um gol para Ronaldo desperdiçar.
Agência Estado – Você consegue perceber que virou um problema para Parreira? Fiel ao seu esquema tático conservador, ele não tem como escalar você ao lado de Ronaldo, Kaká e Ronaldinho Gaúcho.
Adriano – Isso é bobagem. Muita gente quer nós quatro juntos. Bastaria treinar, arrumar alguns amistosos para provar que é possível. Nós temos talento para atuar sem comprometer o time. Pelo contrário. Juntos seríamos muito fortes.
AE – O Parreira foi o treinador que apostou em você na recente conquista da Copa América. Ele está errado em não escalá-lo como titular?
Adriano – Eu o respeito demais e sou grato na confiança que ele sempre teve em mim. Mas acredito que o meu aprendizado acabou. Estou pronto para poder colaborar mais como titular. Tenho 22 anos, mas jogo como titular da Inter de Milão, um dos times com maior cobrança do mundo, assim como a seleção brasileira. E tenho ido muito bem.