Rio – O pedido de dispensa do atacante Ronaldo, do Real Madrid, para a disputa da Copa das Confederações da Alemanha, entre os dias 15 e 29 de junho, sob a alegação de que precisa de férias, deixou o técnico da seleção brasileira, Carlos Alberto Parreira, em um dilema.
A situação embaraçosa foi evidenciada ontem. quando, ao mesmo tempo em que teceu vários elogios ao atleta, admitindo inclusive a possibilidade de liberá-lo, o treinador fez severas críticas à atitude do artilheiro.
"Vou estudar com calma. A idéia não é agradável e o Ronaldo teve personalidade ao pedir dispensa. Se ele não quer, não o quero insatisfeito lá. É melhor que fique de fora mesmo", disse Parreira, que desembarcou no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no início da manhã de ontem, vindo de Istambul, na Turquia, onde assistiu à conquista do título da Liga dos Campeões pelo Liverpool sobre o Milan, na quarta-feira.
"Agora, é muito gostoso você só querer jogar a Copa do Mundo. Também queria ser o técnico da seleção somente na Copa e não ter que passar pelos amistosos, jogos eliminatórios."
O principal problema para Parreira é o de que liberando Ronaldo apenas para descansar estará abrindo um precedente e, na teoria, seria forçado a dispensar também o atacante Adriano, da Internazionale, de Milão, para a disputa da final da Copa da Itália, contra a Roma, dia 12, no Estádio Olímpico, e dia 15, no San Ciro. Por conseqüência, o Bétis também pediria a desconvocação do atacante Ricardo Oliveira, para a decisão da Copa do Rei, dia 11, contra o Osasuña.
Mas, se não atender ao pedido de Ronaldo, Parreira sabe que terá um jogador insatisfeito e pouco à vontade no elenco, com potencial para prejudicar o desempenho do grupo na competição. Por isso, a tendência é a de que o treinador, em conjunto com o atacante, arrume uma justificativa convincente para liberá-lo. Hoje, inclusive, já deu uma pista do caminho a seguir.
"Se houver uma coisa superior…O Ronaldo vem de uma série de situações pessoais e a gente até entende. Para descansar eu não aceito essa desculpa", frisou Parreira, dando a entender que todo episódio do conturbado casamento com a modelo Daniella Cicarelli poderia servir de álibi. "Quem quiser ser campeão do mundo tem que passar pelo sacrifício disso tudo."
Apesar do discurso áspero, Parreira recorreu ao bom senso para frisar que não tomará nenhuma medida radical contra Ronaldo. Lembrou que o atleta é o principal jogador da equipe e, até a ameaça feita pelo supervisor da seleção, Américo Faria, de que o jogador que não participar da competição alemã estaria praticamente fora da Copa do Mundo, foi rechaçada por Parreira.
"Ronaldo é um jogador especial, o mais importante da seleção. Foi decisivo na Copa de 2002, como foi Romário, em 1994, Garrincha, em 1962, e Pelé, em 1958. Mas, não existe atleta imprescindível ou insubstituível", destacou Parreira. Em seguida, comentou as declarações de Faria. "Não vamos começar com ilações porque falta um ano para a Copa do Mundo e em futebol a gente sabe que as coisas nunca são definitivas."