Parreira está perto dos 100 jogos dirigindo a seleção

Rio (AE) – Em sete dias, Carlos Alberto Parreira vai atingir a marca histórica de 100 jogos como técnico da seleção brasileira. O confronto com o Japão, domingo que vem, na Alemanha, será mais que um simples embate contra o time dirigido por Zico, recém-classificado para o Mundial de 2006.

Parreira está na Alemanha, para a disputa da Copa das Confederações, e quer uma vitória para comemorar a data e o feito.

Antes, na quinta-feira, o adversário vai ser a Grécia, a atual campeã da Europa, na estréia do Brasil no torneio. Nesta entrevista, ele fala das três passagens como técnico da seleção, recorda-se do primeiro jogo, contra o Chile, em 1983, e até faz uma confidência: a de que era imaturo para dirigir a seleção naquele ano.

Agência Estado – Como se sente às vésperas de completar 100 jogos como técnico da seleção brasileira?

Parreira – Eu nem me dei conta de que estava atingindo esse número. É um sentimento de alegria, estou envaidecido. A seleção é uma vitrine, a maior referência do futebol mundial. Acho que só o Zagallo conseguiu comandá-la por mais jogos.

AEZagallo dirigiu a seleção 136 vezes.

Parreira – Ele é um fora de série, é motivo de orgulho para mim que ele tenha alcançado essa marca. E não existe competição entre nós. Não tenho a menor pretensão de superá-lo.

AE – Que recordações guarda da estréia contra o Chile, em abril de 1983?

Parreira – Eu estava muito tenso. Vinha de sete anos em atividade na seleção do Kuwait; não acompanhava o dia-a-dia do futebol brasileiro. Vencemos por 3 a 2, gols de Careca, Éder e Renato. O público no Maracanã foi receptivo. O Chile tinha uma equipe forte, acabara de fazer uma boa Copa do Mundo. Deu muito trabalho. A lamentar apenas a contusão de Zico, que saiu no primeiro tempo, na única partida em que atuou pela seleção sob meu comando. Logo depois, ele se mudou para Udine.

AE – Foi difícil o começo da vida de técnico da seleção, em 1983?

Parreira – Muito complicado. O melhor, talvez, teria sido não aceitar o convite de Giulite Coutinho (então presidente da Confederação Brasileira de Desportos, CBD, hoje CBF). Abracei a idéia na base do entusiasmo. Mas hoje vejo que experiência é fundamental.

AE – Por que saiu?

Parreira – Futebol é resultado. Não tem jeito, vai ser sempre assim. Disputamos uma Copa América complicada, era um jogo em casa e outro no campo do adversário. O Brasil perdeu para Argentina e Uruguai, não conquistou a competição, e houve muita pressão.

AE – A volta em 1992 foi mais tranqüila?

Parreira – Eu estava mais preparado, seguro e experiente. O desafio era enorme; a cobrança, terrível. A seleção não ganhava e nem chegava à final de um mundial desde 1970. Eu acabara de levar o Bragantino à decisão do brasileiro (em 1991) e recebi novo convite da CBF. Conhecia os atletas em atividade no País e os do exterior. E sabia da importância do título de 1994. Se o Brasil perdesse o mundial dos Estados Unidos, não sei o que seria do futebol brasileiro.

AE – Quem marcou mais gols na seleção sob seu comando?

Parreira – Não faço idéia. Passaram tantos artilheiros pelas minhas mãos. Careca, Roberto Dinamite, foram muitos.

AE – Foi Bebeto, seguido por Raí.

Parreira – É uma surpresa. O Bebeto? Realmente, ele estava sempre presente e participou de vários jogos comigo. Quero esses números para meu banco particular de dados.

AE – Por que tanta hesitação ao voltar à seleção pela terceira vez, em janeiro de 2003?

Parreira – Eu não queria mais. É muito desgaste, estresse. O envolvimento é cada vez maior com tudo que cerca o ambiente de seleção. Mas acabei voltando atrás, depois do apelo do Zagallo, do Américo Faria (supervisor), do presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Logo pensei: vai começar tudo de novo. Mas longe de pensar em arrependimento. Ao contrário. Exerço o trabalho com muito orgulho. E o friozinho na barriga continua toda vez que o time entra em campo. A seleção é o Brasil que dá certo. O modelo de organização na parte técnica é exemplar. Agora mesmo, com relação à Copa das Confederações, já tínhamos gente nossa na Alemanha havia três meses, cuidando de tudo: local de treinos, estádios, hotéis. Existe um grau elevadíssimo de profissionalismo na seleção.

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