Königstein – O canhão do tanque está bem calibrado. Adriano soltou suas costumeiras bombas no treinamento de ontem à tarde, em Königstein, e fechou o exercício com o melhor aproveitamento do quadrado mágico. Carlos Alberto Parreira ficou entusiasmado com o desempenho do atacante e do quadrado em si. ?Está engrenando?, foi uma de suas observações.
Para acionar a engrenagem, o treinador fixou oito jogadores titulares em posições estratégicas. Emerson recebia a bola, passava para Zé Roberto que servia Kaká. O meia lançava Cafu que cruzava para Adriano ou Ronaldo concluírem ao gol. Quando a jogada era do lado esquerdo, Zé Roberto acionava Ronaldinho Gaúcho, que servia Roberto Carlos para os cruzamentos aos atacantes.
Neste toque final do exercício, Adriano se deu bem. O atacante fez 13 finalizações. E marcou sete gols, aproveitamento de 54%. ?Isso Adriano, perfeito?, incentivou Parreira durante a sessão de armação de ataque que acabava em Adriano, Ronaldo, Kaká e Ronaldinho Gaúcho.
Inter de Milão
Adriano confirmou ontem que permanecerá na Inter de Milão após a Copa. ?Tive um momento difícil na Itália, fiquei muitos jogos sem marcar gols. Mas, agora tudo mudou?, contou o jogador em entrevista ao jornal italiano Gazzetta dello Sport.
Adriano explicou que o único problema dele na Inter era com o meia argentino Sebastián Verón, que deixou o clube italiano no começo desta semana para jogar no Estudiantes, adversário do São Paulo na Libertadores. ?Só tinha problemas com ele. Não o considero um grande jogador. Tenho certeza que a Inter contratará alguém parecido ou até melhor que ele?.
Ronaldo também não decepcionou, apesar de treinar com menos intensidade. Em 12 chutes ao gol, marcou cinco, um aproveitamento de 42%. Kaká e Ronaldinho Gaúcho, mais articuladores do que finalizadores no treino, marcaram só um gol cada um. Kaká precisou de quatro chutes para fazer um gol. Ronaldinho Gaúcho, em sete finalizações só cravou um gol.
Foi um treino de mentalização da mecânica da saída de bola até o ataque, sempre aproveitando as jogadas de velocidade pelas laterais. Tudo dentro do script de Parreira: ?A hora é de mentalização e de lapidação do que já foi feito?, disse o treinador, fiel ao seu estilo de repetir sempre os mesmos exercícios para enfiar na cabeça dos jogadores.
Grupo inicia contagem regressiva pra estréia
Königstein – Passar um dia trancado no hotel já é cansativo. Imagine 18. Os jogadores da seleção fazem contagem regressiva para a estréia na Copa, marcada para terça-feira, contra a Croácia. Ninguém mais suporta a concentração, os rígidos horários para o café, o almoço e o jantar, as reuniões, os exaustivos treinos, os mesmos gritos dos torcedores e as perguntas – muitas vezes repetitivas – dos repórteres.
A ansiedade no elenco é grande. Está chegando a hora de pôr em prática o favoritismo brasileiro, time mais badalado na Europa às vésperas do início da competição. ?Não vemos a hora de começar a jogar?, declarou Kaká, em busca de seu primeiro título mundial como titular. Até Carlos Alberto Parreira revelou estar comendo e dormindo menos. ?Um pouco de adrenalina faz bem?, comentou.
A rotina, iniciada em 21 de maio, em Weggis, tornou-se chata e incômoda para os atletas. Os mais experientes, como Dida, Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo, já haviam participado de outras Copas e estão acostumados à situação. Mesmo assim, demonstram impaciência.
Tédio
Um fator favorece o aumento do tédio. Enquanto a maioria das seleções disputou amistosos de preparação contra equipes fortes, em partidas emocionantes, o Brasil enfrentou adversários de quinta categoria e entrou em campo sabendo que seria o vencedor. Os jogos não mexeram com ninguém no elenco. Há nove dias, os brasileiros massacraram o pobre Lucerna (8 a 0), recém-promovido para a 1.ª divisão da Suíça. No domingo, fizeram 4 a 0 na Nova Zelândia, que nem sequer chegou à fase final das Eliminatórias da Oceania. ?Eles não agüentam mais?, afirmou uma pessoa ligada aos atletas. ?Todos torcem para que a Copa comece logo.?
Alguns ficam de mau humor e se tornam rabugentos. Outros, mais agitados, como Robinho e Roberto Carlos, fazem bagunça na concentração para fazer o tempo passar.
Confirmado treino em Offenbach
Königstein – A Alemanha é linda, tem muito verde e quase tudo funciona à perfeição. Mas o estádio Bieberer Berger, em Offenbach, a 22 km de Frankfurt, local do treino aberto de hoje da seleção, não é nenhuma maravilha. O gramado foi refeito às pressas, para cobrir ondulações, o piso do vestiário reservado aos pentacampeões do mundo está solto, como manda a tradição da várzea, e a entrada estava suja, até terça-feira, para vergonha dos organizadores do evento. Mas, como alemão gosta das coisas certinhas e em seus devidos lugares, há promessa de que tudo seja transformado até o início da tarde, como em passe de mágica.
A movimentação aberta ao público é uma exigência da Fifa. Além disso, não há como fugir do compromisso com anfitriões e muito menos com os fãs. Desde terça-feira, não sobrou nenhum dos 25 mil ingressos gratuitos que foram distribuídos para a multidão de alemães e brasileiros.
É bem provável que Parreira opte por coletivo – ou, na pior das hipóteses, uma movimentação com bola, que é do que gostam os jogadores e o público.