Colônia, Alemanha – A catedral gótica de Colônia inspira sentimentos grandiosos. Ao visitá-la, ontem, Carlos Alberto Parreira ficou influenciado pelos bons fluidos que emanam de uns dos templos católicos mais famosos da Europa.
O reflexo dessa empolgação veio logo, pois o treinador da seleção voltou para a concentração, no retiro de Lerbach, com discurso pra lá de encorajador, em contraste com o futebol oscilante da equipe.
"Agora, é a hora boa", anunciou Parreira. "Chegamos ao momento que o jogador brasileiro gosta mais, que é a decisão, e contra adversário de peso. A Alemanha tem time jovem, mais veloz do que aquele de 2002, joga com o apoio de seu público, é a anfitrã do torneio, descansou e certamente será um desafio e tanto. Assim que é bom. Disso todos gostamos."
Ninguém deve levar esse discurso ao pé da letra. A conversa bem animada faz parte da guerra psicológica das fases de definições. Parreira sabe que não é adequado apontar falhas em sua equipe justamente na reta final da competição. Isso seria um golpe na confiança de seus atletas e, ao mesmo tempo, funcionaria como munição para os alemães.
"Não desprezo o valor de quem quer que seja", avisou o técnico. "Mas uma coisa eu garanto: no mano a mano, sou mais o jogador brasileiro, contra quem for."
Parreira voltou decisivo e relaxado do passeio que fez pelo centro de Colônia. Ele aproveitou o período de folga e foi mais uma vez à catedral. Para sentir emoção idêntica à da primeira vez em que se deslumbrou com suas torres altas, os vitrais, os altares, as relíquias dos Reis Magos. "É muito linda, já estive aqui algumas vezes e sei que tem uma história belíssima", elogiou.
O efeito do giro lhe fez tão bem que também rechaçou qualquer comparação entre o jogo de sábado e aquele de três anos atrás em Yokohama, na noite da conquista do pentacampeonato. "Revanche, se houver, só na final da Copa do ano que vem", explicou. "Mesmo assim, não será a mesma coisa."
"Aqui é Copa das Confederações e nem se trata de decisão, mas de semifinal", brincou Parreira. "O futebol é curioso, porque somos campeões do mundo e a cada semana parece que colocamos o título em jogo e contra rivais que procuram sempre fazer a partida da sua vida quando nos enfrentam."
Nada de treino
Cautela e caldo de galinha sempre fazem bem. Por isso, Parreira deu folga aos jogadores e terá conversa decisiva hoje com o médico José Luís Runco. Ele está disposto a colocar em campo apenas quem estiver bem, ou saudável, como definiu.
"Precisamos de uma dose a mais de dedicação", pediu Parreira. "Chegou a hora em que o jogador precisa dar aquela gotinha de sangue que vai definir tudo. Para tanto, quero um time com saúde, com disposição, que corra, que marque até o fim."
Isso não significa, em princípio, que deva ocorrer alteração no esquema tático. Parreira reafirmou ontem, várias vezes até, que pretende ver até onde a opção por um quarteto de jogadores habilidosos no ataque vai levar a seleção. "Mudança, agora, só se for por problema físico", insistiu. "Estamos armando uma equipe e quero ver no que isso vai dar." Parreira fingiu ignorar o cutucão que veio de seu amigo Beckenbauer. O presidente do Comitê Organizador do Mundial aposta na Alemanha, porque viu o Brasil interessado só em treinar na Copa das Confederações. "Nos três jogos que fizemos até agora, não abrimos mão de nosso estilo", ponderou o treinador brasileiro. "Como temos jogadores habilidosos e leves fomos para o ataque e criamos muitas chances. Se prendemos a bola e trocamos passes, foi para abrir espaços que os rivais não nos concedem. Não viemos treinar."