Em uma das entradas de Paris, em frente ao Stade de France, em Saint-Denis, o telão instalado na fachada de uma empresa de vendas na internet mostra desde a noite da última quinta-feira uma bandeira do Brasil tremulando e a frase em português: “Bem-vindo, Neymar!”. Desde o anúncio da contratação do craque da seleção pelo Paris Saint-Germain, a capital francesa vive uma febre, a Neymarmania, que enche lojas, causa ruptura de estoque de camisetas do astro e já impulsiona as finanças do clube.

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O efeito da contratação de Neymar pôde ser visto nesta sexta-feira, na abertura das lojas do Paris Saint-Germain e da Nike, a sua fornecedora de material esportivo. Longas filas de espera se formaram, como na avenida Champs-Elysées, onde centenas de torcedores se amassaram nas portas para tentar comprar um exemplar da tradicional camisa azul marinho ou da reserva, amarela em homenagem ao Brasil. No interior, a impressão era de que o clube não tem outro jogador: todos os uniformes à mostra indicavam o nome do brasileiro contratado do Barcelona.

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A demanda inédita para um clube acostumado a vender cerca de 500 mil camisetas por ano – cerca de um terço em comparação ao Manchester United, o recordista mundial – provocou ruptura de estoque já no meio da tarde. Segundo o clube, só pelo site foram vendidos nesta sexta-feira o equivalente a 500 mil euros (pouco mais de R$ 1,8 milhão) em camisetas, sempre com o nome de Neymar exposto acima do número 10.

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Entre os torcedores mais fanáticos, as atenções se dividiram entre tentar comprar a camiseta e tirar uma foto rápida do brasileiro no dia em que ele pisou pela primeira vez no estádio Parque dos Príncipes como novo astro do clube. Clement Blanchon, torcedor do Paris Saint-Germain de 22 anos, não se conteve e comprou duas: uma com o nome de Daniel Alves, outra com a de Neymar. Em compensação, não viu o craque. “Eu já estava contente com a chegada de Dani Alves e agora com Neymar é um sonho! Com Neymar e Cavani, vamos ter um ataque de louco!”, entusiasmou-se o jovem, que fez a fila, mas perdeu a passagem do ídolo. “Já virei ao jogo amanhã (sábado) e soube que o Neymar pode estrear. É demais! Não dá para acreditar!”

Entre os torcedores que se amontoaram para ver o craque brasileiro passar, o discurso mais comum é o de esperança de que o maior clube da França na atualidade mude de patamar e possa, quem sabe, tornar-se o maior clube do mundo nos próximos cinco anos – o tempo de contrato de Neymar. “Eu vim para ver Neymar. A camiseta vai esperar um pouquinho”, disse Thomas Goutzionitzos, de 23 anos, que deixou o dia de trabalho em uma empresa de informática para ter a foto do craque em seu celular. “Espero que faça Paris mudar de nível também. Não dá para dizer que um jogador vá mudar o clube, mas o que todos esperamos é que ele nos ajude a mudar de nível”.

Para muitos torcedores, o exemplo mais bem acabado do que pode vir a ser o futuro do Paris Saint-Germain é o Chelsea, da Inglaterra, que, adquirido por um milionário apaixonado pelo esporte, o russo Roman Abramovich, deixou o passado de derrotas para tornar-se campeão europeu.

Para Kevin Kalombo, de 27 anos, estudante de direito, Neymar não só vai enriquecer o Paris Saint-Germain, mas também a Ligue 1, a primeira divisão do Campeonato Francês, que considera “taticamente e fisicamente mais completo que o espanhol”. Outra vantagem de contar com o craque, diz ele, é superar o fantasma do 6 a 1 para o Barcelona nas oitavas de final da última Liga dos Campeões da Europa de 2016-2017.

Para Kalombo, aquele é o tipo de derrota que fortalece o clube e seu vínculo com a torcida. “O 7 a 1 foi uma humilhação para o Brasil, um pouco como o 6 a 1 que tomamos do Barcelona. Mas eu acho que essas derrotas reforçam o espírito de um clube ou uma seleção”, disse. “Espero que o Paris possa brilhar na Europa e quem sabe a seleção possa brilhar na Rússia”.

Entre os torcedores que correram às lojas, ao estádio e ao centro de treinamento do clube nesta sexta-feira, grande parte portava a nova camisa amarela do Paris Saint-Germain – claro, com o nome de Neymar. Os ouvidos pelo Estado lembravam da relação histórica entre o clube e os jogadores brasileiros, como Raí ou Valdo.

Já Jean-Claude Jumarie, de 62 anos, torcedor fanático do clube, preferiu ir ao estádio Parque dos Príncipes com uma camisa verde do Brasil. “Sou um admirador do futebol brasileiro desde sempre”, contou o aposentado, que retornará ao local neste sábado na expectativa de ver a estreia do craque. “Neymar é um ídolo. Não só para mim o que está acontecendo é um sonho, mas para todo mundo. Quem conhece a história dos brasileiros no Paris, sabe disso”.