Atlético x Paraná

Paranista teve vida alterada após levar tiro em clássico

Narayana Rohn Cardozo, 23 anos, curitibana, tinha uma vida como a de uma garota normal. Apesar de ter sido uma criança quieta e contida, adorava brincar, inventar histórias e interpretar diversas personagens. Cresceu no meio dos seus primos mais velhos subindo nas árvores e nos muros da casa da vó. Estudou quase a sua vida toda no mesmo colégio e sempre foi uma ótima aluna, dedicada e com boas notas.

A estudante, que mora com os seus pais, Sérgio Bonatto Cardozo e Nidia Mara Rohn Cardozo, alimenta uma grande paixão por animais de estimação. “Já tive três cachorros, um porquinho-da-índia, um papagaio, três hamsters e hoje tenho uma gata, a minha pequena Mimi, uma cachorra, a Fiona, uma tartaruga, a Filomena e alguns peixes”, cita.

Segundo Narayana, uma das coisas que mais gostava na sua adolescência e ainda gosta é o futebol. Seu pai foi o principal influenciador da paixão da filha pelo Paraná Clube. Sendo a única herdeira, acompanhou o time desde sempre e começou a frequentar os jogos com o pai aos 12 anos.

“Tudo era bem tranquilo na minha vida, até 30 de outubro de 2005”, relata. Neste dia, ocorreu, no Estádio Joaquim Américo Guimarães, popularmente conhecido como Arena da Baixada, o jogo clássico entre o Atlético e o Paraná Clube, no qual Narayana, seu pai e mais alguns familiares marcaram presença. “Após a partida, na saída do estádio, percebemos que uma pequena confusão começou a se estabelecer e ficamos curiosos. Quando olhei para trás senti uma pancada no rosto e caí no chão”, lembra.

“Eu tinha levado um tiro de borracha no olho esquerdo”, conta. Ao cambalear e cair, Narayana perdeu a consciência por alguns instantes. Foi levada ao Hospital Evangélico pelo seu tio, médico, que também estava assistindo ao jogo. Lá, foi muito bem atendida. “Recebi os primeiros cuidados como pontos e raios-X, mas naquele momento nada mais profundo poderia ser feito, visto que o machucado externo no meu olho era muito grande”, recorda.

A garota relata que no dia seguinte ao acidente foi fazer uma consulta ao oftalmologista e foram detectadas diversas lesões em seu olho, as mais graves foram a retina descolada e o cristalino arrebentado. Alguns dias depois fez uma cirurgia e os médicos verificaram que Narayana não voltaria a enxergar normalmente. Após a cirurgia, descobriram que a estudante ficou com glaucoma, uma doença no olho que precisa de tratamento contínuo. “Esses dois dias foram, sem dúvidas, os piores da minha vida” , afirma.

A respeito do tratamento, Narayana não estava apresentando bons resultados. Apesar dos sete colírios e mais um remédio, se sentia extremamente mal o tempo todo. Enjoos, dores de cabeça terríveis, soro na veia para controlar as dores e idas ao médico a cada dois ou três dias começaram a fazer parte da sua rotina. “Precisei fazer mais uma cirurgia com um especialista. Depois de realizada, comecei a retomar aos poucos a minha vida, saindo da cama e de casa”, relata.

A paranista conta que depois de tudo isso o ano terminou e, graças ao seu desempenho brilhante no primeiro semestre, não reprovou no colégio. Nessa época, toda a sua família a ajudou muito. A mãe passou a viver almejando a recuperação da filha, porém, seu pai ficou arrasado, muito triste, “talvez até pior que eu”, compara.

“Tenho alguns traumas, mas posso dizer que sou feliz”, afirma. Com o tempo, Narayana percebeu que não enxergaria quase nada com seu olho esquerdo e perderia sua visão em perspectiva, fato com o qual, infelizmente, não se adaptou até hoje. “Minha preocupação maior era com a minha pálpebra, pois o músculo arrebentou com o tiro. Fiz a minha primeira cirurgia em 2008, assim que passei no vestibular em Engenharia Civil, na Universidade Federal do Paraná (UFPR), e em 2009 fiz a segunda e última”, lembra.

No ano passado, a estudante terminou sua faculdade, recebendo oficialmente o título de engenheira, e passou em um concurso público. “Agora, em 2014, comecei a trabalhar como engenheira civil do Estado do Paraná, no Departamento de Est,radas de Rodagem, na mesma diretoria que meu pai trabalha e onde minha mãe e meu pai se conheceram e começaram a namorar”, compartilha.

Hoje, Narayana praticamente não enxerga com o olho esquerdo e tem sérios problemas com visão em perspectiva, mas em contra partida, ama sua profissão, é uma pessoa mais forte e continua marcando presença em todos os jogos do Paraná Clube, faça chuva ou faça sol.

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