Se depender da vontade dos dirigentes do futebol paranaense, a “mesa” do futebol brasileiro ficará mais firme do que nunca ao término do Campeonato Brasileiro de 2002. Apesar de equipes como Palmeiras, Vasco, Bahia e Flamengo, pertencentes ao Clube dos 13, estarem brigando para evitar o rebaixamento, os paranaense dão um crédito à moralização. Nem mesmo as declarações do presidente do Vasco, Eurico Miranda, que afirmou não haver a menor possibilidade de sua equipe cair, faz os dirigentes mudarem de idéia.
“Quem cair, dança”, resumiu o presidente do Atlético Paranaense, Mário Celso Petraglia. Engajado na cúpula do futebol, o dirigente garantiu que pelo que vem sendo debatido, as chances de virada de mesa inexistentem. “A probabilidade de virada é 0%”.
O presidente do Coritiba, Giovani Gionédis, já deixou claro que se houver tentativa de “burlar” as regras do jogo, a briga será feia. “Todos querem a moralização do futebol e a definição de um calendário a longo prazo. Isso é fundamental para reconduzir os patrocinadores aos estádios. Eles querem um produto confiável”, diz.
Até mesmo o Paraná Clube, time paranaense mais ameaçado pelo rebaixamento, é contra à virada de mesa. “Não tenho o menor temor de que isso aconteça. Acredito na moralização e a defenderei até o fim. O Paraná já caiu de divisão e voltou pela porta da frente. É essa a postura que esperamos de todos”, disse Ocimar Bolicenho..
Segundo informou a Agência Estado, o presidente do Clube dos 13, Fábio Koff, também não acredita na hipótese de virada de mesa. “Isso não existe. Quem cair, caiu. Não há condições políticas de isso vir a acontecer. E a dignidade?”. Só resta saber se as equipes que forem cortadas pela afiada guilhotina do rebaixamento vão lembrar dela.
No Brasil, a certeza já não é a mesma
A possibilidade de Vasco, Palmeiras Bahia – entre outros times de grande torcida e tradição no Brasileiro – caírem para a Segunda Divisão reacende a polêmica sobre a seriedade do futebol no País. O velho recurso de “virar a mesa” já é abertamente discutido pela cartolagem. O seu representante mais característico, o boquirroto presidente do Vasco da Gama, Eurico Miranda, diz que time grande não cai. Pelo menos no caso do seu Vasco, exclui completamente essa possibilidade. E toma posição com a mesma naturalidade com que agiu várias outras vezes ao atropelar regulamentos.
O estilo Eurico Miranda faz escola. Alguns cartolas defendem a posição do confrade – só que de maneira envergonhada. O diretor de Futebol do Santos, Francisco Lopes, por exemplo, embora diga que é contra virada de mesa agora, acha que deveria haver regra que impedisse as grandes equipes de serem rebaixadas. “Elas dão vida ao futebol, geram dinheiro e têm grandes torcidas, que não podem ser prejudicadas”, diz.
O ex-técnico da seleção Zagallo concorda em gênero, número e grau com o cartola santista. “Já imaginou um campeonato de pontos corridos, com oito meses de duração, como deve ser o de 2003, sem três grandes clubes?”, questiona. O “Velho Lobo” disse que não gosta de ficar “em cima do muro”, mas respondeu com uma pergunta ao falar se era a favor de reviravolta. “Quantas vezes o regulamento não foi cumprido?”
Osvaldo Pascoal, que por 25 anos trabalhou como jornalista e hoje é o diretor de Futebol do Figueirense, não duvida que possa haver mudança. “No futebol brasileiro as coisas são de um jeito hoje e no outro estão diferentes. Tudo pode acontecer. Não adianta sofrer antecipadamente.”
Dirigentes de clubes “pequenos” ameaçados de rebaixamento, como Goiás e Paysandu, estão no momento sofrendo por outro motivo. Eles temem ser prejudicados pela arbitragem. Hailê Pinheiro, presidente do Conselho Deliberativo do Goiás, diz que, no jogo contra o Palmeiras “o árbitro marcou dois pênalits inexistentes”. A culpa, em sua opinião, seria de Eduardo José Farah, presidente da Federação Paulista de Futebol, para ajudar o Palmeiras.
O presidente do Paysandu, Arthur Tourinho, fala grosso sobre o tema: “Não aceitaremos baixarias e nem desonestidade de juízes nos nossos jogos para beneficiar grandes clubes que estão em apuros.”
Muitos cartolas e boleiros, porém, não aceitam a tese de adaptar regulamentos para ajudar times tradicionais. O presidente do Grêmio, José Alberto Guerreiro, e o vice do Inter, Pércio França, nesse assunto têm opinião idêntica – e reprovam a idéia. O ex-jogador e atual comentarista Dario, o Dadá Maravilha arrisca outra de suas famosas pensatas: “Time grande é grande dentro de campo, não é grande no tapetão.”