Crise tricolor

Supervisor de futebol admite clima sombrio no Paraná

Desde janeiro de 2012, toda vez que a temperatura da crise vivida pelo Paraná atinge elevados níveis de ebulição, a tarefa de remediar estragos internos e mediar o diálogo entre dirigentes e elenco recai sobre o supervisor de futebol, Fernando Leite.

Funcionário mais antigo do atual departamento futebolístico paranista e calejado nas agruras do cotidiano da instituição, Leite não hesita em cravar: o início de 2015 é o momento mais assombroso da história recente tricolor.

“O momento de maior crise, indiscutivelmente, não só para mim como também para toda a diretoria, desde o presidente, está sendo este início de 2015. A gente procura soluções, mas sabe que às vezes o trabalho não está acontecendo, porque, infelizmente, fora de campo, as coisas não andam bem”, revela Leite.

Ex-zagueiro com passagens por clubes da Suíça e Alemanha, Leite é graduado em Comércio Exterior e ostenta no currículo fluência em cinco idiomas. Chegou ao Paraná há três anos com missão de organizar a logística de viagens, hospedagens e locomoção do time. No dia a dia, porém, atua também como o elo da diretoria mais próximo de atletas e funcionários. “No Paraná, a gente tem de estar preparado todo dia para passar por algum obstáculo, alguma situação adversa”, afirma.

Na última terça-feira (17), por exemplo, a “surpresa” foi a greve de funcionários da cozinha do CT Racco. Com a ausência dos profissionais, que cobravam salários atrasados, a comissão técnica optou por cancelar as atividades programadas para o período da tarde. “Não é fácil, você tem que tomar decisões rapidamente. Na terça, chegamos para trabalhar e nos deparamos com uma situação triste, chata, de funcionários não conseguirem vir ao trabalho por causa da questão financeira. E isso não é só com o pessoal da cozinha. Todo mundo está passando por isso”, narra.

“Recebemos essas informações e, em questão de minutos, tomamos a decisão [de cancelar o treino]. É desumano você trazer o grupo para treinar de manhã e, depois, não ter alimentação adequada. Como você pode cobrar o melhor do atleta sem alimentação e descanso? Temos de estar conscientes da nossa realidade”, prossegue Leite.

Com o grupo de jogadores, a desgastante missão é a de repassar notícias — quase sempre negativas — enviadas do topo da cúpula. O método para garantir a confiança dos boleiros é direto: falar sempre a verdade para não perder credibilidade. “Não adianta o atleta te ver todo dia, perguntar algo, você responder uma coisa e depois ele saber que está acontecendo outra. O segredo desta relação é falar a verdade e trazer o que é real. Caso contrário, você perde a credibilidade para sempre”, receita Leite que, sempre que pode, ainda ajuda os funcionários financeiramente.

“Isso faz parte do meu dia a dia. Os funcionários são nosso apoio. A gente sabe que a situação deles é pior. Qualquer tipo de premiação repassamos pra eles. No fim de 2014, a gente juntou dinheiro entre atletas e comissão e compramos 30 cestas de Natal para distribuir entre roupeiros, seguranças, massagistas…”, conta o dirigente que, desde que chegou ao clube, por causa dos ordenados atrasados, precisou alterar a administração das próprias finanças pessoais.

“Você passa a não assumir tantos compromissos. Temos nossas reservas e vamos administrando. Fazemos o possível para deixar as contas em dia. Quando entra algo do clube você procura sanar uma situação mais emergencial”, diz Leite, que relembra de dois momentos de maior calmaria no Paraná: o início de 2012 e o longo período no G4 da Série B, em 2013. “No futebol você dificilmente tem mo,mentos calmos. O que você tem são momentos em que há menos problemas”, ressalva.

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