A crise no Paraná Clube parece não ter fim. Ao mesmo tempo em que dirigentes apelam para a “união de forças”, situações vexatórias são a todo instante reveladas. Ontem, foi a vez de o médico Jonathan Zaze oficializar o seu desligamento do Tricolor. Ele entregou a carta de demissão em caráter irrevogável, alegando uma inacreditável falta de condições de trabalho – jogadores encostados no SUS, atleta que não pode operar porque o clube não tem dinheiro – e uma clara divergência de ideias, Zaze deixa o clube após quatro anos ocupando o cargo de coordenador do departamento médico.

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“Não bastassem os salários atrasados, há também questões estruturais defasadas”, comentou Jonathan. O médico lembrou, por exemplo, de que desde maio do ano passado – quando Roberto Tauchman pediu demissão para se transferir para a base do Coritiba – vinha trabalhando sozinho, no dia a dia de treinamentos e jogos. “Isso estava me gerando um problema profissional. Tenho outros compromissos e que estavam sendo deixados de lado devido à agenda dentro do Paraná”, confirmou. Zaze, sempre que solicitou a contratação de outro médico para dividir o acompanhamento do clube, a resposta foi sempre a mesma: “não temos dinheiro”.

Jonathan lembrou que hoje o clube não dispõe sequer de um departamento médico estruturado no CT Racco, onde o clube realiza os seus treinamentos diários. Pior do que isso: invariavelmente, os atletas lesionados acabam sendo internados pelo SUS diante da ausência de um plano de saúde, inclusive para procedimentos cirúrgicos. “Hoje, está inviável trabalhar no Paraná. Já não tenho forças para seguir diante destas situações. Então, prefiro sair e deixar espaço para alguém que chegue com um novo ânimo”, confirmou Zaze.

O médico foi contundente ao revelar uma clara divergência política dentro do Paraná. “Dentro do mesmo clube vemos pessoas com objetivos, intenções e propostas divergentes e isto faz com que o caminho a ser trilhado não seja aquele que considero o ideal. Consequentemente não compartilho com os caminhos que foram determinados pelos membros da diretoria do clube”, cravou Jonathan Zaze, externando o seu descontentamento com situações inerentes à sua área. O zagueiro Renan, por exemplo, até agora não passou pelo procedimento cirúrgico necessário por absoluta falta de recursos.

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Com a saída de Jonathan Zaze, a diretoria terá que buscar outro profissional para gerir o departamento de futebol. Hoje, não há nenhum outro médico atuando no clube, já que há algum tempo, segundo Zaze, a base não conta com um profissional da área contratado. “O clube precisa urgentemente de uma transformação. Do jeito que está, infelizmente, não vejo futuro”, arrematou o ex-coordenador médico do Paraná Clube.

“O Paraná não acabou”

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“O clube do futuro, o time milionário, já não existe”. O presidente Rubens Bohlen reconheceu que o Paraná Clube “parou no tempo, gozando as glórias de seis títulos estaduais e campanhas medianas na Série A do Brasileiro”. O pronunciamento rápido do comandante tricolor, ontem pela manhã, na sede da Kennedy, foi motivado pelo desabafo do gerente de futebol Marcus Vinícius. Logo após o clássico, chorando, o gestor disse que se nada for feito, o Tricolor “acaba neste ano”. Bohlen disse esperar que este gesto possa ser o marco de uma virada na história do clube.

“Entendemos o desabafo do Marcus Vinícius, que segue como o nosso gerente de futebol até o final da temporada. Torço para que as declarações possam marcar o início de uma nova era”, disse Rubens Bohlen. O dirigente não fez rodeios quanto à condição financeira do clube, que &eacute,; crítica. “Temos mantido nossos funcionários e atletas atualizados sobre a busca dos recursos necessários para quitar os débitos”, explicou.

O presidente disse que apesar do cenário ruim, a diretoria “tem a perfeita noção do tamanho da dívida”. “Considero também um patrimônio a nossa camisa, que tem muito peso”, afirmou. A promessa e de uma revelação destes números tão logo a auditoria independente contratada conclua o seu relatório. “O problema maior é que o Paraná foi o clube da década de 90. Isso diz tudo. Nos acomodamos com meia dúzia de títulos estaduais, num período em que a maioria das equipes estavam ultrapassadas. Eles acordaram, nós não”, justificou.

Após três rodadas e já tendo atrasos salariais revelados, o presidente fez um apelo aos torcedores. “Precisamos que todos continuem indo ao estádio. A tempestade não passou, mas estamos em pé. Não adianta apenas boa vontade, pois hoje precisamos de ações efetivas. Para isso, peço que os paranistas se associem, continuem indo ao estádio e à nossa sede, participe desta gestão”, afirmou Bohlen. “O Paraná não acabou”, concluiu.